Páginas

23/11/2012

Zecharia Sitchin - O 12º. Planeta: CAP. 3 - Deuses do Céu e da Terra

O que é que, depois de centenas de milhares e mesmo milhões de anos de lento e doloroso desenvolvimento humano, mudou, de maneira repentina, tudo tão completamente e, num golpe de mágica - em aproximadamente 11.000 a.C., 7.400 a.C., 3.800 a.C. -,


transformou os caçadores nômades primitivos e os catadores de alimentos em agricultores e fabricantes de cerâmica e, depois, em construtores de cidades, engenheiros, matemáticos, astrônomos, metalúrgicos, comerciantes, músicos, juízes, doutores, escritores, bibliotecários e padres? Pode-se ir ainda mais longe e colocar uma questão mais básica, formulada pelo prof. Robert J. Braidwood (Pre-Historic Men) [Os Homens Pré-Históricos]: "Por que é que todos os seres humanos não vivem ainda como os maglemosianos viviam?".


Os sumérios, povo por meio do qual esta alta civilização encontrou sua existência, tinham uma resposta já pronta. Ela aí está, resumida por uma das dezenas de milhares de antigas inscrições mesopotâmicas que foram desenterradas: "Tudo o que parece belo, nós o criamos pela graça dos deuses”.

Os deuses da Suméria. Quem eram eles?
Os deuses da Suméria eram, como os deuses gregos, representados vivendo numa grande corte, festejando na Grande Ante-câmara de Zeus nos céus - o Olimpo, cujo correspondente na Terra era o pico grego mais alto, o monte Olimpo?

Os gregos descreveram seus deuses como antropomórficos, fisicamente semelhantes aos homens e mulheres mortais, e humanos na personalidade: podiam ficar alegres ou tristes e ciumentos; amavam, discutiam e lutavam; e procriavam como os humanos, trazendo à luz uma descendência numerosa por meio de relações sexuais quer entre si, quer com humanos.

Eram inatingíveis e, no entanto, imiscuíam-se permanentemente nos negócios humanos. Podiam viajar a velocidades enormes, aparecer e desaparecer; possuíam armas de imenso e invulgar poder. Cada um tinha funções específicas e, como resultado, uma atividade humana específica podia sofrer ou beneficiar-se com as atitudes do deus encarregado dessa atividade particular; deste modo, os rituais de adoração e oferendas aos deuses eram considerados como benéficos para a obtenção de seus favores.

A deidade principal dos gregos durante a civilização helênica era Zeus, "o pai dos deuses e dos homens", "senhor do fogo celestial". Sua principal arma e símbolo era o raio. Era um "rei" na Terra que descera dos céus; um tomador de decisões e distribuidor do bem e do mal aos mortais, e, no entanto, alguém cujos domínios originais estavam nos céus.

Não era nem o primeiro deus na terra, nem a primeira divindade a aparecer nos céus. Misturando a teologia com a cosmologia para chegar àquilo que os estudiosos chamam mitologia, veremos que os gregos acreditavam que o primeiro fora o Caos; depois apareceram Gaia (Terra) e seu consorte Urano (Céu). Gaia e Urano deram ao mundo os doze Titãs, seis machos e seis fêmeas. Embora seus feitos legendários acontecessem na Terra, acreditava-se que tinham um equivalente astral.

Cronos, o Titã macho mais jovem, surgiu como a principal figura na mitologia do Olimpo. Alcançou a supremacia entre os Titãs mediante a usurpação, depois de castrar seu pai, Urano. Temendo os outros Titãs, Cronos aprisionou-os e expulsou-os. Por essa ação foi amaldiçoado pela mãe - ele deveria sofrer o mesmo destino que seu pai e seria destronado por um de seus próprios filhos.

Cronos contraiu matrimônio com a própria irmã Réia, que lhe deu três filhos e três filhas: Hades, Poséidon e Zeus; Héstia, Deméter e Hera. Uma vez mais foi decretado que seu filho mais novo seria aquele que deporia o pai, e a maldição de Gaia tornou-se real quando Zeus destronou Cronos, seu Pai.

A destituição, parece, não teria decorrido sem atritos. Por muitos anos se travaram batalhas entre os deuses e uma hoste de seres monstruosos. A batalha decisiva ocorreu entre Zeus e Tífon, uma divindade-serpente. A luta travou-se em largas áreas, na Terra e nos céus. A batalha final deu-se no monte Cásio, perto da fronteira entre o Egito e a Arábia - aparentemente, em algum lugar na península do Sinai.

 Zeus e Tífon

Ao vencer o combate, Zeus foi reconhecido como a principal divindade. Mesmo assim, teve de partilhar o poder com seus irmãos. Por escolha (ou, de acordo com uma versão, por meio de sorteio), foi dado a Zeus o controle dos céus, a Hades, o irmão mais velho, se concedeu o Mundo Inferior, e ao irmão do meio, Poseidon, o domínio dos Mares.

Embora com o tempo Hades e sua região se tornassem sinônimos de Inferno, seu domínio original era um território situado num lugar "longe e abaixo" englobando pântanos, áreas desoladas e terras irrigadas por poderosos rios. Hades era descrito como "o invisível" - indiferente, proibitivo, austero; não demomível por súplicas ou sacrifícios. Poseidon, por outro lado, era freqüentemente visto segurando seu símbolo, o tridente. Embora governasse os mares, era também mestre das artes de metalurgia e escultura, assim como competente mágico e feiticeiro. Enquanto Zeus era representado na tradição e lenda gregas como severo para com a humanidade - tendo até mesmo planejado em determinada época aniquilar o gênero humano -, Poseidon era considerado amigo do homem e um deus que esforçava-se para ganhar o apreço dos mortais.

Os três irmãos e as três irmãs, todos filhos de Cronos e de sua irmã Réia, constituíam os membros mais antigos do Círculo Olímpico, o grupo dos Doze Grandes Deuses. Os outros seis eram prole de Zeus, e as lendas gregas tratavam sobretudo de sua genealogia e relações.

As deidades filhas de Zeus tinham por mãe várias e diferentes deusas. Casando primeiro com uma deusa chamada Métis, Zeus teve dela uma filha, a grande deusa Atena. Ela tinha a seu cargo o senso comum e a habilidade manual e era, deste modo, a Deusa da Sabedoria. Mas como foi a única grande divindade a permanecer com Zeus durante seu combate com Tífon (todos os outros desertaram), Atena adquiriu também qualidades marciais e tornou-se Deusa da Guerra. Era a "perfeita donzela" e não se tornou mulher
de ninguém, embora algumas lendas a relacionem com freqüência com seu tio Poseidon que, mesmo mantendo como consorte oficial a divindade que se tornara Deusa do Labirinto da ilha de Creta, teve como amante sua sobrinha Atena.

Zeus casou depois com outras deusas, mas seus filhos não entraram para o Círculo Olímpico. Quando Zeus preocupou-se em arranjar um herdeiro masculino, voltou-se para uma de suas próprias irmãs. A mais velha era Héstia, uma solitária, talvez demasiado velha ou demasiado abatida para ser objeto de atividades matrimoniais. Zeus não precisou de grandes desculpas para voltar suas atenções para Deméter, a irmã do meio, Deusa da Fertilidade. Mas em vez de um filho, ela deu-lhe uma filha, Perséfone, que se tornou mulher de seu tio Hades e compartilhou seu domínio no Mundo Inferior.

Desapontado por não lhe ter nascido um filho, Zeus procurou outra deusa para lhe dar conforto e amor. De Harmonia, teve nove filhas. Depois, Leto concedeu-lhe uma filha e um filho, Ártemis e Apolo, que logo foram destacados para o grupo das deidades principais.

Apolo, como primeiro filho de Zeus, era um dos maiores deuses do Panteão Helênico. Temido do mesmo modo por homens e deuses, era o intérprete para os mortais da vontade de seu pai, Zeus, e, deste modo, a autoridade em matéria de lei religiosa e adoração nos templos. Representando as leis morais e divinas, personificava a purificação e a perfeição, tanto espiritual como física.

O segundo filho de Zeus nascido da deusa Maia, era Hermes, patrono dos pastores, guardião dos rebanhos e manadas. Menos importante e poderoso que seu irmão Apolo, estava mais próximo dos negócios humanos; qualquer golpe de boa sorte lhe era atribuído. Como Dispensador das Boas Coisas, a seu cargo estava o comércio, e era o patrono de mercadores e viajantes. Mas seu principal papel no mito e na épica era o de arauto de Zeus, mensageiro dos deuses.

Impelido por certas tradições dinásticas, Zeus exigiu ainda um filho de umadas suas irmãs e voltou-se para a mais nova, Hera. Casando com ela nos ritos do sagrado matrimônio, Zeus proclamou-a rainha dos deuses, a Deusa-Mãe. O casamento, abençoado com um filho, Ares, e duas filhas, foi ameaçado por constantes infidelidades por parte de Zeus e por uma faladíssima infidelidade de Hera, que lançou a dúvida sobre a paternidade verdadeira de outro filho, Hefesto.

Ares foi desde logo incorporado no Círculo Olímpico dos Doze Grandes Deuses e foi feito tenente-chefe de Zeus, um Deus da Guerra. Foi representado como o Espírito do Massacre, e, no entanto, estava longe de ser invencível - lutando na Batalha de Tróia, do lado dos troianos, sofreu um ferimento que apenas Zeus podia curar.

Hefesto, por outro lado, teve de abrir seu caminho para alcançar o topo do Olimpo. Deus da Criatividade, a ele se atribuía o fogo da forja e a arte da metalurgia. Era um artífice divino, fabricante tanto de objetos práticos como de objetos mágicos para os homens e para os deuses.

As lendas dizem que nasceu coxo e foi por isso banido com raiva por sua mãe Hera. Outra versão, mais plausível, diz que foi Zeus que expulsou Hefesto, por causa da dúvida que pairava sobre sua paternidade, mas que Hefesto usou seus criativos poderes mágicos para forçar Zeus a dar-lhe assento entre os grandes deuses.

As lendas dizem ainda que Hefesto fabricou, um dia, uma cadeia invisível que se fechava sobre o leito de sua mulher, se fosse aquecida por um amante intrometido. Ele deve ter necessitado dessa proteção uma vez que sua mulher era Afrodite, a Deusa do Amor e da Beleza. Era muito natural que tantos contos de casos amorosos fossem construídos à sua volta; em muito desses contos o sedutor era Ares, irmão de Hefesto (um dos rebentos deste caso de amor ilícito foi Eros, o Deus do Amor).

Afrodite foi incluída no Círculo Olímpico dos doze, e as circunstâncias de sua inclusão lançam luz sobre nosso tema. Ela não era nem irmã de Zeus nem sua fIlha e, no entanto, não a podiam ignorar. Viera das costas asiáticas do Mediterrâneo, em frente à Grécia (de acordo com o poeta grego Hesíodo, chegou vinda de Chipre); e reclamando sua grande antiguidade, fez remontar sua origem aos descendentes de Urano. Deste modo, genealogicamente, ela estava uma geração à frente de Zeus, sendo (por assim dizer) uma irmã do pai dele e a encarnação do castrado pai primitivo dos deuses.

Afrodite, assim, tinha de ser incluída entre os deuses do Olimpo. Mas seu número total, doze, aparentemente, não podia ser excedido. A solução foi engenhosa - juntar um, pondo outro de lado. Uma vez que a Hades fora dado domínio sobre o Mundo Inferior e não permanecera entre os grandes deuses
no monte Olimpo, criou-se uma vaga, admiravelmente pronta para nela sentar-se Afrodite, no elitista grupo dos doze.


Parece também que o número doze era uma exigência que funcionava nos dois sentidos, ou seja, assim como não podia haver mais de doze habitantes no Olimpo, também não podia haver menos. Isto torna-se evidente através das circunstâncias que levaram à inclusão de Dioniso no Círculo Olímpico.

Ele era um filho de Zeus, nascido quando Zeus engravidou sua própria filha, Sêmele. Dioniso, que teve de ser escondido da cólera de Hera, foi enviado para terras longínquas (chegando a alcançar a Índia), introduzindo o cultivo de vinhas e a fabricação de vinho onde quer que estivesse. Entretanto, ficou disponível uma vaga no Olimpo. Héstia, a irmã mais velha e mais fraca de Zeus, foi completamente esquecida pelo círculo dos deuses. Dioniso regressou então à Grécia e foi-lhe permitido tomar assento no Olimpo. Uma vez mais, havia doze habitantes no Olimpo.

Embora a mitologia grega não seja clara no tocante às origens da humanidade, as lendas e as tradições reivindicavam a ascendência divina para heróis e reis. Estes semi-deuses eram o elo entre o destino humano - suor diário, dependência dos elementos, pragas, doenças e morte - e um passado dourado quando apenas os deuses perambulavam pela Terra. E embora muitos desses deuses tivessem nascido na Terra, o seleto círculo dos doze olimpianos representava o aspecto celestial dos deuses. O Olimpo original era descrito na Odisséia como estando situado “no mais puro ar dos céus". Os genuínos doze grandes deuses eram divindades do céu que desceram à Terra e representavam os doze corpos celestiais na "abóbada celeste".

Os nomes latinos dos grandes deuses, que lhes foram conferidos quando os romanos adotaram o panteão grego, clarificam suas associações astrais: Gaia era a Terra, Hermes; Afrodite, Vênus; Ares, Marte; Cronos, Saturno; e Zeus, Júpiter. Continuando com a tradição grega, os romanos encararam Júpiter como um deus trovejante cuja arma era a luminosa flecha; tal como os gregos, os romanos associam-no ao touro.

Existe agora um acordo geral sobre a colocação dos alicerces da distinta civilização grega na ilha de Creta, onde a cultura minóica floresceu desde cerca do ano 2.700 a.C. até 1.400 a.C. Na mitologia minóica é proeminente a lenda do Minotauro. Este semi-homem, semi-touro era o rebento de Pasífae, a mulher do rei Minos, e de um touro. Os achados arqueológicos confirmaram a ampla adoração dos minóicos ao touro e alguns selos cilíndricos descrevem o touro como um ser divino acompanhado de uma cruz que simbolizava qualquer planeta ou estrela não identificados. Conjetura-se desde aí, que o touro adorado pelos minóicos não é a criatura terrena comum, mas o Touro Celestial - a constelação de Touro - em comemoração de certos eventos ocorridos quando o equinócio primaveril do Sol apareceu nessa constelação, cerca de 4.000 a.C.

Pela tradição grega, chegou ao continente grego, via Creta, de onde escapara (nadando pelo Mediterrâneo), depois de raptar Europa, a linda filha do rei da cidade fenícia de Tiro. Na verdade, quando o mais remoto escrito minóico foi, finalmente, decifrado por Cyrus H. Gordon, demonstrou-se que se tratava "de um dialeto semita das costas do Mediterrâneo Oriental".

De fato, os gregos nunca disseram que seus deuses olímpicos vieram dos céus diretamente para a Grécia. Zeus chegou depois de atravessar o
Mediterrâneo, via Creta. Afrodite, dizia-se, veio por mar do Oriente Médio, via Chipre. Poseidon (Netuno para os romanos) trouxe consigo o cavalo, vindo da Ásia Menor. Atena trouxe “a oliveira, fértil e que se cultiva por si própria" para a Grécia, vinda das terras da Bíblia.

Não há dúvida de que as tradições e religião gregas chegaram ao continente grego vindas do Oriente Médio, via Ásia Menor e ilhas mediterrâneas. Foi lá que seu panteão firmou raízes; é lá que devemos procurar as origens dos deuses gregos e suas relações astrais com o número doze.

O hinduísmo, a antiga religião da Índia, considera os Vedas - conjunto de hinos, fórmulas e sacrifícios e outros ditos pertencentes aos deuses - como escrituras sagradas "de origem não humana". Os próprios deuses os compuseram, dizem as tradições hindus, na idade que precedeu a presente. Mas, à medida que o tempo foi passando, mais e mais dos 100 mil versos originais transmitidos oralmente de geração em geração se foram perdendo e misturando. Finalmente, um sábio anotou os versos, que ficaram divididos em quatro livros, e confiou-os a quatro de seus principais discípulos para que
cada um preservasse um Veda.

Quando, no século 19, os estudiosos começaram a decifrar e a entender línguas esquecidas e a traçar elos entre elas, compreenderam que os Vedas estavam escritos numa língua indo-européia muito antiga, predecessora da língua de raiz indiana (sânscrito), do grego, do latim e de outras línguas européias. Quando, finalmente, foram capazes de ler e analisar os Vedas, os eruditos se surpreenderam com a misteriosa semelhança entre os contos de deuses védicos e gregos.

Os deuses, dizem os Vedas, eram todos membros de uma família grande, mas não necessariamente pacífica. Por entre os contos de ascensões aos céus e descidas à Terra, batalhas aéreas, armas magníficas, amizades e rivalidades, casamentos e infidelidades, parece existir uma preocupação básica com a preservação dos registros genealógicos - quem foi pai de quem, quem foi o primeiro fIlho de quem. Os deuses na Terra tiveram sua origem nos céus, e as principais divindades, mesmo na Terra, continuaram a representar corpos celestiais.

Em tempos primitivos, os Rishis ("os primevos dimanadores") "fluíam" celestialmente possuídos de irresistíveis poderes. Dentre eles, sete foram os Grandes Progenitores. Os deuses Rahu ("o demônio") e Ketu ("o desligado") constituíram outrora um mesmo corpo celestial que procurou juntar-se aos deuses sem permissão; mas o Deus das Tempestades brandiu sua flamejante arma contra ele, dividindo-o em duas partes - Rahu, “a cabeça do dragão", que incessantemente atravessa os céus à procura da vingança, e Ketu, "acauda do dragão". Mar-Ishi, o progenitor da Dinastia Solar, fez nascer Kash-Yapa ("ele que é o trono"). Os Vedas descrevem-no como tendo sido bastante prolífero; mas a sucessão dinástica só foi continuada através de seus dez filhos por Prit-Hivi ("celestial mãe") .

Como principal membro da dinastia, Kash-Yapa era também chefe dos Devas ("os brilhantes") e tinha o título de Dyaus-Pitar ("o pai brilhante"). Em conjunto com sua consorte e dez filhos, a divina família constitui os Doze Adityas, deuses a cada um dos quais era associado um signo do zodíaco e um corpo celestial. O corpo celestial de Kash-Yapa era “a estrela brilhante"; Prit Hivi representava a Terra. Depois, havia os deuses cujos equivalentes celestiais incluíam o Sol, a Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Com o tempo, a chefia do panteão dos doze passou para Varuna, o Deus da Celestial Expansão. Ele era onipotente e tudo via. Um dos hinos a ele cantados soa como um salmo bíblico:

É ele quem faz o Sol brilhar nos céus,
E os ventos que sopram são seu alento.
Ele escavou os canais dos rios;
Eles fluem a uma ordem sua.
Ele fez as profundezas do mar.

Seu reino também encontrou, mais cedo ou mais tarde, um fim. Indra, o deus que assassinou o celestial "Dragão", reivindicou o trono matando seu pai. Ele era o novo Senhor dos Céus e o Deus das Tempestades. Raios e trovões eram suas armas, e seu epíteto era Senhor dos Exércitos. Ele tinha, contudo, de partilhar o domínio com seus dois irmãos. Um deles era Vivashvat, o progenitor de Manu, o primeiro homem. O outro, Agni ("o ígneo"), trouxe o fogo dos céus para a Terra, para que a humanidade o pudesse usar industrialmente.

As semelhanças entre os panteões védico e grego são óbvias. Os contos que dizem respeito às principais deidades, assim como os versos tratando da multitude de divindades inferiores - filhos, esposas, filhas, amantes -, são, nitidamente, duplicados (ou originais?) dos contos gregos. Não há dúvida de que Dyaus veio a querer dizer Zeus; Dyaus-Pitar, Júpiter; Varuna, Urano; e assim por diante. Em ambas as circunstâncias, o Círculo dos Grandes Deuses sempre foi de doze, não importa as mudanças que fossem ocorrendo na divina sucessão.

Como era possível gerar tamanha similitude em duas áreas tão distante uma da outra, tanto geográfica como cronologicamente?

Os estudiosos acreditam que em dada altura, no 2º. milênio a.C., um povo falando uma língua indo-européia e entrando no norte do Irã ou na área do Cáucaso empreendeu grandes migrações. Um grupo partiu para sudeste, para a Índia. Os hindus chamavam-lhes arianos ("os homens nobres"). Trouxeram com eles os Vedas e também contos orais, por volta do ano 1.500 a.C. Outra onda desta migração indo-européia dirigiu-se para oeste, para a Europa.

Alguns rodearam o mar Negro e chegaram à Europa, atravessando as estepes da Rússia. Mas a rota principal que permitiu a estes povos e às suas tradições e religião alcançarem a Grécia foi a mais curta - via Ásia Menor.

Mas quem eram estes indo-europeus que escolheram a Anatólia como seu domicílio? O saber ocidental pouco clarificou o assunto.

Mais uma vez se provou que a única fonte imediatamente disponível - e de confiança - era o Antigo Testamento. Lá os estudiosos encontraram várias referências aos hititas como o povo habitante das montanhas da Anatólia. Ao contrário da aversão refletida no Antigo Testamento em relação aos cananitas
e outros vizinhos cujos costumes eram considerados como uma "abominação", os hititas eram vistos como amigos e aliados de Israel.

Bathsheba, que o rei Davi cobiçava, era mulher de Uriah, o Hitita, um oficial do exército do rei Davi. O rei Salomão, que forjou alianças casando com as filhas de reinos distantes, tomou como mulheres as filhas tanto de um faraó egípcio, como de um rei hitita. Noutra época, uma armada invasora Síria fugiu ouvindo um rumor de que “o rei de Israel tinha aliado contra nós o rei dos hititas e o rei dos egípcios". Estas breves alusões aos hititas revelam a alta consideração em que suas forças militares eram tidas pelos outros povos do antigo Oriente Médio.

Com a decifração dos hieróglifos egípcios - e, mais tarde, das inscrições mesopotâmicas -, os estudiosos depararam com numerosas referências a uma "terra de Hatti", grande poderoso reino da Anatólia. Seria possível que um tão importante poder não deixasse traços?

Antecipadamente munidos das respostas fornecidas pelos textos egípcios e mesopotâmicos, os eruditos partiram em escavação a antigos acampamentos nas regiões dos montes da Anatólia. Os esforços foram recompensados: foram desenterradas cidades hititas, palácios, tesouros reais, túmulos reais, templos, objetos religiosos, ferramentas, armas, objetos de arte. Acima de tudo, encontraram muitas inscrições tanto na escrita pictográfica, como na cuneiforme. Os hititas da Bíblia ganhavam vida.


Um monumento único legado em testamento à nossa época pelo Oriente Médio é a gravação numa rocha, fora da antiga Capital Hitita (o local é hoje chamado Yazilikaya, que em turco significa "rocha inscrita"). Depois de passar por cancelas e santuários, o antigo adorador penetra numa galeria ao ar livre, uma clareira entre um semicírculo de rochas, nos quais todos os deuses dos hititas foram representados em procissão.

Movimentando-se para a esquerda, a longa procissão de deidades basicamente masculinas está nitidamente organizada em "companhias" de doze. Na extrema-esquerda, e deste modo a última a alinhar nesta espantosa parada, vêem-se doze figuras idênticas que parecem iguais em categoria, uma vez que todas carregam a mesma arma.

O grupo do meio de doze caminhantes inclui algumas divindades que parecem mais idosas, algumas transportando armas diversificadas e duas que estão iluminadas por um símbolo divino.

O terceiro grupo de doze (o da frente) é claramente constituído pelas mais relevantes divindades masculinas e femininas. Suas armas e emblemas são mais variados; quatro têm sobre elas o divino símbolo celestial; duas possuem asas. Este grupo inclui também participantes não divinos: dois
touros segurando um globo e o rei dos hititas usando um solidéu com o emblema do disco alado.

Marchando da direita, havia dois grupos de divindades femininas; as gravações na rocha, todavia, estão demasiado mutiladas para confirmar seu verdadeiro número. Não estaremos muito errados, talvez, se imaginarmos que, também elas, constituíam duas companhias de doze cada uma.

As duas procissões da esquerda e da direita encontram-se num painel central que representa claramente os grandes deuses, uma vez que todos eles são mostrados elevados no topo de montanhas ou aos ombros de animais, pássaros e mesmo de servidores divinos.

Os eruditos investiram muitos esforços, por exemplo, E. Laroche, (Le Panthéon de Yazilikaya) [O Panteão de Yazilikaya] para determinar a partir das representações e dos símbolos hieroglíficos, assim como dos textos parcialmente legíveis e dos nomes de deuses que estão realmente gravados nas rochas, os nomes, títulos e papéis das deidades presentes na procissão. Mas é evidente que também o panteão hitita era governado pelos “olímpicos" doze. Os deuses menores estavam organizados em grupos de doze e os grandes deuses na Terra estavam associados a doze corpos celestiais.

Podemos certificar-nos de que o panteão era governado pelo "número sagrado" doze com a prova adicional de ainda mais um monumento hitita. Trata-se de um santuário de alvenaria encontrado perto da atual Beit-Zehir. Aí, o casal divino está claramente representado, tendo à sua volta outros dez deuses, fazendo um total de doze.

Os achados arqueológicos mostram conclusivamente que os hititas adoravam deuses que pertenciam "ao céu e à terra", todos inter-relacionados e arranjados numa hierarquia genealógica. Alguns eram deuses grandes e "velhos", originários dos céus. Seu símbolo - que na escrita pictográfica hitita significa "divino" ou "deus celestial" - lembra pela forma um par de "óculos". Aparece freqüentemente em selos esféricos como parte de um objeto semelhante a um foguete.


Outros deuses estavam realmente presentes não meramente na Terra, mas entre os hititas, agindo como supremos governantes da Terra, nomeando os reis humanos e dando instruções a estes últimos em matéria de guerra, tratados e outros negócios internacionais.

À cabeça dos deuses hititas fisicamente presentes estava a divindade chamada Teshub, que significava o "soprador dos ventos". Ele era aquele a quem os eruditos chamam o Deus da Tempestade, associado a ventos, trovões e relâmpagos. Era também chamado pelo diminutivo Taru ("o touro"). Tal como os gregos, os hititas descreveram a adoração a Taurus; como Júpiter, depois dele, Teshub era descrito como o Deus do Trovão e do Relâmpago, montado em cima de um touro.

Os textos hititas, como mais tarde as lendas gregas, relatam como sua deidade principal foi obrigada a se defrontar com um monstro para
consolidar sua supremacia. Um texto a que os estudiosos chamaram "O Mito do Homicídio do Dragão" identifica o adversário de Teshub como sendo o Deus Yanka. Não conseguindo vencê-lo em batalha, Teshub apelou para os outros deuses à procura de ajuda, mas apenas uma deusa lhe veio dar apoio e aniquilou Yanka, embriagando-o durante uma festa.

Reconhecendo nestes contos as origens da lenda de São Jorge e o Dragão, os estudiosos referem-se ao adversário derrotado pelo "bom" deus como o "dragão". Mas o fato é que Yanka significava serpente e os povos antigos simbolizavam assim o "mau" deus, como se pode ver no baixo-relevo de uma colônia hitita.

Também Zeus, como já mostramos, combateu não com um dragão, mas com um deus-serpente. Como mais adiante demonstraremos, havia um profundo significado ligado a estas antigas tradições de luta entre o Deus dos Ventos e uma deidade-serpente. Aqui, no entanto, apenas podemos acentuar que as batalhas entre os deuses pelo reino divino eram relatadas nos textos antigos como eventos que tinham indubitavelmente ocorrido.

Um conto épico hitita, longo e bem preservado, intitulado Reino do Céu, versa sobre este mesmo assunto - a origem celestial dos deuses. O contador destes acontecimentos pré-mortais invocou primeiro "doze poderosos e antigos deuses" para escutarem seu conto e serem testemunhas de sua precisão:

Deixem escutar os deuses que estão no céu,
E aqueles que andam sobre a escura terra!
Deixem-nos escutar, eles, os poderosos antigos deuses.

Estabelecendo deste modo, que os deuses de sempre eram tanto do céu, como da terra, a epopéia lista os doze "poderosos e antigos", os predecessores dosda terra, a epopéia lista os doze "poderosos e antigos", os predecessores dos deuses; e assegurando-se de sua atenção, o contador prossegue para narrar como foi que o deus que era "o rei do céu" veio para a escura terra:

Antigamente, nos dias de outrora, Alalu era deus no céu;
Ele, Alalu, estava sentado no trono.
O poderoso Anu, o primeiro entre os deuses, estava à sua frente,
E inclinado aos seus pés, colocou a taça em sua mão.
Por nove períodos contados, Alalu foi rei do céu.
No nono período, Anu travou batalha com Alalu
Alalu foi derrotado, e fugiu ante Anu -
Ele desceu à escura terra.
Para baixo, para a escura terra veio ele;
E no trono sentou-se Anu.

A epopéia atribui, assim, a chegada de um "rei do céu" à Terra à usurpação do trono. Um deus chamado Alalu foi deposto de seu trono (em algum lugar nos céus) pela força, fugindo para se salvar, desceu à "escura terra". Mas isto não foi o fim. O texto prossegue, contando como Anu, a seu tempo, foi
também deposto por um deus chamado Kumarbi (o próprio irmão de Anu, segundo algumas interpretações).

Não há dúvida de que esta epopéia, escrita 1.000 anos antes da composição das lendas gregas, é a predecessora do conto que relata a destituição de Urano por Cronos e de Cronos por Zeus. Até o detalhe da castração de Cronos por Zeus pode ser encontrado no texto hitita, uma vez que foi exatamente isto que Kumarbi fez a Anu:

Por nove períodos contados Anu foi rei no céu;
No nono período, Anu teve de combater com Kumarbi.
Anu escapuliu-se do alcance de Kumarbi e fugiu
Correr, correu ele, subindo ao céu.
Atrás dele se apressou Kumarbi, laçou-o pelo pé;
E arrastou-o dos céus abaixo.
Ele mordeu seus quadris; e a virilidade de Anu,
Combinada com os interiores de Kumarbi fundiu-se como o bronze.

De acordo com esta velha lenda, a batalha não resultou em vitória completa para nenhuma das partes. Embora privado de sua virilidade, Anu conseguiu voar de regresso à sua "residência celestial", deixando Kumarbi controlando a Terra. Entretanto, a "virilidade" de Anu gerou várias deidades nos interiores de Kumarbi, que ele (como Cronos nas lendas gregas) foi forçado a libertar. Uma delas foi Teshub, a principal deidade hitita. Todavia, mais uma batalha teria de ser travada antes que Teshub pudesse reinar em paz.

Sabendo do aparecimento de um herdeiro para Anu em Kummiya ("residência celestial"), Kumarbi arquitetou um plano para "erguer um rival ao Deus das Tempestades". "Em sua mão ele tomou seu bastão; em seus pés ele colocou os sapatos céleres como os ventos", e partiu de sua cidade de Ur-Kish para a abóbada da Dama da Grande Montanha. Alcançando-a.

O seu desejo cresceu;
Ele dormiu com a Dama da Montanha;
A sua virilidade fluiu para ela.
Cinco vezes ele a tomou...
Dez vezes ele a tomou...

Kumarbi era apenas luxurioso, lascivo? Temos razões para acreditar que algo mais estava envolvido. Nossa suposição é que as leis de sucessão dos deuses eram tais que diziam que um filho de Kumarbi e da Dama da Grand Montanha podia alegar ser ele o herdeiro do trono celestial, e que Kumarbi "tomou" a deusa cinco e dez vezes para ficar seguro de que ela concebera, como realmente aconteceu. Ela deu à luz um filho, a quem Kumarbi simbolicamente chamou de Ulli-Kummi ("supressor de Kummiya", residência de Teshub).

A batalha pela sucessão foi prevista por Kumarbi como algo que imporia a luta nos céus. Destinando seu filho para suprimir os beneficiados de Kummiya, Kumarbi aclamou mais tarde seu filho:

Que ele ascenda aos céus para reinar!
Que ele domine Kummiya, a bela cidade!
Que ele ataque o Deus das Tempestades,
E o rasgue em pedaços como um mortal!
Que ele expulse todos os deuses do céu!

Será que as batalhas particulares travadas por Teshub sobre a terra e nos céus ocorreram quando a Idade de Taurus começou, por volta do ano 4.000 a.C.? Foi por essa razão que ao vencedor se concedia a associação com o Touro? E estariam os acontecimentos de qualquer modo ligados ao início, exatamente
na mesma época, da súbita civilização suméria?

Não há dúvida de que o panteão hitita e as lendas dos deuses têm, de fato, suas raízes na Suméria, assim como sua civilização e seus deuses. O conto do desafio ao trono divino por Ulli-Kummi continua relatando as batalhas heróicas, mas de natureza não decisiva. Em certo sentido, o fracasso de Teshub em derrotar seu adversário levou sua esposa Hebat a tentar o suicídio. Finalmente, foi feito um apelo aos deuses para que moderassem a contenda e foi convocada uma assembléia dos deuses. Ela foi dirigida por um "vetusto deus" chamado Enlil, e outro "vetusto deus" chamado Ea, que foi chamado para fazer "as velhas barras com as palavras do destino" - uns registros antigos que aparentemente podiam decidir a disputa a respeito da sucessão divina.

Quando os registros falharam na tentativa de sanar a disputa, Enlil anunciou outra batalha com o desafiante, mas com a ajuda de algumas armas muito antigas. "Ouçam, vocês, antigos deuses, vocês que conhecem as velhas palavras", disse Enlil a seus seguidores:

Abram vocês os antigos depósitos
De vossos pais e daqueles que viveram antes!
Apresentem à luz a Velha Lança de Bronze
Com a qual o céu foi separado da terra;
E deixem-nos separar os pés a Ulli-Kummi.

Quem eram estes "velhos deuses"? A resposta é óbvia, uma vez que todos eles - Anu, Antu, Enlil, Ninlil, Ea, Ishkur - possuem nomes sumérios. Até o nome de Teshub, assim como o de outros deuses "hititas", eram freqüentemente redigidos na escrita suméria para simbolizar suas identidades. Do mesmo modo, alguns dos locais nomeados na ação eram os de velhas cidades sumérias.

Esclareceu os eruditos o fato de que os hititas adorassem, realmente, um panteão de origem suméria e que a arena dos contos dos “velhos deuses” fosse a Suméria. Isto, no entanto, era apenas parte de uma mais extensa descoberta. Descobriu-se não apenas que a língua hitita se baseava em vários dialetos indo-europeus, como também se percebeu que eles foram objeto de uma substancial influência acádia no discurso e mais ainda na escrita. Desde o momento em que o acádio se tornou a língua internacional do Mundo Antigo no 2º. milênio a.C., sua influência no hitita pôde, de certo modo, ser racionalizada.

Mas houve motivos para um verdadeiro espanto quando os estudiosos descobriram durante o curso da decifração do hitita que este aplicava amplamente signos pictográficos, sílabas e até palavras inteiras do sumério! Ainda mais óbvio se tornou que o sumério era a língua de altos estudos. A língua suméria, nas palavras de O.R. Gurney (The Hitites) [Os Hititas], "era intensivamente estudada em Hattu-Shash [a cidade principal] e lá foram encontrados vocabulários sumério-hititas... Muitas das sílabas associadas com os signos cuneiformes no período hitita são realmente palavras sumérias cujo significado fora esquecido [pelos hititas]... Nos textos hititas os escribas substituíam freqüentemente palavras comuns hititas pela correspondente palavra sumério-babilônica".

Assim, quando os hititas alcançaram a Babilônia algum tempo depois do ano 1.600 a.C., já os sumérios desapareceram há muito da cena do Oriente Médio. Como foi então que sua língua, literatura e religião puderam dominar outro grande reino noutro milênio e noutra parte da Ásia?
Os estudiosos descobriram recentemente que a fonte foi um povo chamado hurrita.

Referidos no Antigo Testamento como os horitas ("povo livre"), eles dominaram a extensa área entre a Suméria e a Acádia, na Mesopotâmia, e o reino hitita, na Anatólia. Ao norte, seus territórios eram as antigas "terras de cedros", das quais países próximos e longínquos obtinham suas melhores madeiras. No leste, seus centros abrangiam os atuais campos petrolíferos do Iraque; só numa cidade, Nuzi, os arqueólogos descobriram não apenas as estruturas comuns e artefatos, como também milhares de documentos legais e sociais de enorme valor. No oeste, o governo e a influência dos hurritas estendiam-se até a costa mediterrânea e abrangiam antigos centros de comércio, indústrias e cultura tão importantes como os de Carchemish e Alalakh.

Mas as rédeas do seu poder, os principais centros das velhas rotas de comércio e os locais dos mais adorados santuários, situavam-se no território central que ficava "entre os dois rios", a bíblica Naharayin. Sua mais antiga capital (ainda não descoberta) estava localizada em algum lugar ao longo do
rio Khabur. Seu mais importante centro comercial, junto ao rio Balikh, era a bíblica Haran - a cidade onde a família do patriarca Abraão permaneceu temporariamente em seu caminho de Ur, na Mesopotâmia Sul, até a Terra de Canaã.

Os documentos reais egípcios e mesopotâmicos referem-se ao reino hurrita como Mitanni e tratam-no de igual para igual - um forte poder cuja influência se espalhou para além de suas fronteiras imediatas. Os hititas chamam aos seus vizinhos hurritas, "hurri". Alguns estudiosos salientam, contudo, que a palavra pode também ser lida "har" (tal como G. Conteneau em La Civilisation des Hitites et des Hurrites du Mitanni) [A Civilização dos Hititas e dos Hurritas de Mitanni] e adiantaram a hipótese de que no nome "harri" se possa ver o nome "ary" ou arianos para designar esse povo.

Não há dúvida de que os hurritas eram originalmente arianos ou indo-europeus. As suas inscrições invocam várias deidades pelos seus nomes védicos "arianos"; seus reis têm nomes indo-europeus e sua terminologia militar e de cavalaria deriva do indo-europeu. B. Hrozny, que nos anos 20 empenhou-se em deslindar os registros hititas e hurritas, foi tão longe que chama aos hurritas "os mais antigos hindus".

Estes hurritas dominaram os hititas cultural e religiosamente. Os textos mitológicos hititas acusam a proveniência hurrita e até os contos épicos de heróis pré-históricos e semi-divinos são de origem hurrita. Não há já lugar para mais dúvidas acerca do fato de os hititas adquirirem sua cosmologia, seus "mitos", seus deuses e seu panteão de doze através dos hurritas.

A tripla ligação - entre origens arianas, adoração hitita e fontes hurritas destas crenças - está notavelmente bem documentada numa súplica religiosa hitita proferida por uma mulher pela salvação de seu marido doente. Endereçando sua oração à deusa Hebat, a esposa de Teshub, ela entoa:

Oh, Deusa do Nascente Disco de Arynna,
Minha Senhora, ama das terras de Hatti,
Rainha dos céus e da terra...
Na região Hatti, é o teu nome
"Deusa do Nascente Disco de Arynna";
Mas na terra que tu dominas,
Na terra dos cedros,
Aí tu tens o nome de "Hebat”.

Com tudo isto, a cultura e a religião adotadas e transmitidas pelos hurritas não podem realmente ser indo-européias. Até sua língua não era verdadeiramente indo-européia. Claro, havia traços acádios na língua, cultura e tradições hurritas. O nome da capital, Washugeni, era uma variante do semita resh-eni ("onde as águas começam"). O rio Tigre chamava-se Aranzakh, que (acreditamos) tem sua raiz etimológica nas palavras acádias para "rio dos puros cedros". Os deuses Shamash e Tashmetum tornaram-se em hurrita Shimiki e Tashimmetish, e por aí adiante.

Mas, uma vez que a cultura e a religião acádias eram simplesmente um desenvolvimento das tradições e crenças originais sumérias, os hurritas absorveram e transmitiram, de fato, a religião da Suméria. Que isto se passou assim, evidencia-se também no freqüente uso dos nomes sumérios originais para deuses, epítetos e signos da escrita.

Os contos épicos, apurou-se, eram os contos da Suméria; os locais de deambulação dos velhos deuses eram as cidades sumérias; a "velha língua" era a língua da Suméria. Até a arte hurrita duplicou a arte suméria - suas formas, seus temas e seus símbolos.

Quando e como aconteceu a "transmutação" dos hurritas pelo "gene" sumério?

As provas sugerem que os hurritas, vizinhos do norte dos sumérios e dos acádios no 2º. milênio a.C., tinham-se, realmente, misturado aos sumérios no milênio anterior. É fato estabelecido que os hurritas estavam presentes e ativos na Suméria no 3º. milênio a.C., que mantinham importantes posições na Suméria desde seu último período de glória, o da terceira dinastia de Ur. Há provas que afirmam que os hurritas dirigiram e equiparam a indústria de vestuário pela qual a Suméria (e especialmente Ur) era conhecida na Antiguidade. Os comerciantes famosos de Ur eram provavelmente hurritas em sua maior parte.

No século 13 a.C., sob a pressão de grandes migrações e invasões (incluindo a fuga israelita do Egito para Canaã), os hurritas recuaram até a posição nordeste do seu reino. Estabelecendo sua nova capital perto de Lake Van, eles chamaram Urartu ("Ararat") ao seu reino. Aí adoraram um panteão chefiado por Tesheba (Teshub), representando-o como um vigoroso deus usando um capacete de chifres, de pé em cima de seu símbolo de culto, o touro. Eles chamaram ao seu principal santuário Bitanu e dedicaram-se a fazer de seu reino "a fortaleza do vale de Anu".

E Anu, como veremos, era o pai sumério dos deuses.

E que foi feito da outra avenida através da qual os contos e a adoração aos deuses alcançaram a Grécia, da costa leste ao Mediterrâneo, via Creta e Chipre?

Os territórios que incluem atualmente Israel, o Líbano e a Síria Meridional e que formavam a região sudoeste do antigo Crescente Fértil eram, então, o habitat de povos que podem ser agrupados sob a designação de cananitas. Uma vez mais, tudo o que se sabia há até pouco tempo sobre eles aparecia em referências (a maior parte das vezes contraditórias) no Antigo Testamento e disperso em inscrições fenícias. Ainda os arqueólogos começavam a compreender os cananitas quando duas descobertas vieram à luz. Uma, foram certos textos egípcios em Luxor e Saggara, e a outra, muito mais importante, foram textos históricos, literários e religiosos desenterrados num centro
importante cananita. O local agora chamado Ras Shamra, na costa Síria, era a antiga cidade de Ugarit.

A língua das inscrições de Ugarit, a cananita, era aquela a que os estudiosos chamam semita ocidental, um ramo do grupo de línguas que inclui também  o antiqüíssimo acádio e o atual hebreu. Na verdade, quem quer que saiba ler hebraico pode com relativa facilidade compreender as inscrições hititas. A língua, o estilo literário e a terminologia têm reminiscências do Antigo Testamento.

O panteão que se desvenda nos textos cananitas possui muitas semelhanças com o grego posterior. À cabeça do panteão cananita há também uma divindade suprema chamada El, uma palavra que tem, tanto no nome pessoal do deus, como no termo genérico, o sentido de "elevada deidade". Ele era a autoridade final em todos os negócios humanos ou divinos. Ab Adam ("pai dos homens") era seu título, o Generoso, o Misericordioso, seus epítetos. Era o "criador das coisas criadas, e o único que sozinho podia conceder domínio".

Os textos cananitas ("mitos" para a maioria dos eruditos) representam El como uma deidade sábia e idônea que se mantinha afastada dos negócios quotidianos. Sua residência ficava longe, nas "nascentes dos dois rios", o Tigre e o Eufrates. Aí, tomando assento em seu trono, recebia emissários e contemplava os problemas e disputas que os outros deuses traziam à sua presença.

Uma estela encontrada na Palestina descreve uma idônea divindade sentada num trono e a quem é servida uma bebida por uma deidade mais jovem. A divindade que está sentada usa um toucado cônico adornado de chifres, uma marca dos deuses, como vimos, desde os tempos pré-históricos, e a cena é dominada pelo símbolo de uma estrela alada, o onipresente emblema que iremos encontrar cada vez mais freqüentemente. É aceite, de modo geral, pelos eruditos que este relevo esculpido representa El, a principal deidade cananita.

El, no entanto, nem sempre era um velho senhor. Um de seus epítetos era Tor (significando "touro"), simbolizando (acreditam os estudiosos) sua destreza sexual e seu papel como pai dos deuses. Um poema cananita chamado "O Nascimento dos Graciosos Deuses" coloca El à beira-mar (provavelmente nu) na companhia de duas mulheres encantadíssimas com as proporções de seu pênis. Enquanto um pássaro morria de calor na praia, El teve relações físicas com as duas mulheres, e, deste modo, nasceram os dois deuses, Shahar ("alvorada") e Shalem ("conclusão" ou "crepúsculo").

Estes não foram nem seus únicos filhos nem seus principais filhos varões (aparentemente, ele teve sete). Seu filho mais importante foi Baal de novo, o nome pessoal da deidade é também o termo genérico para "senhor". Tal como os gregos fizeram em seus contos, os cananitas falaram dos desafios feitos pelo filho à autoridade e governo do seu pai. Tal como El, seu pai, Baal era aquilo a que os estudiosos chamam um Deus de Tempestades, um Deus de Trovões e Relâmpagos. Um diminutivo de Baal era Hadad ("o astuto"). Suas armas eram o machado de guerra e a lança relampejante; seu animal de culto, como o de El, era o touro, e, como El, era representado usando o toucado cônico adornado com um par de chifres.

Baal tinha também o nome de Elyon ("supremo"), ou seja, o príncipe reconhecido, o herdeiro visível. Mas Baal não conquistara este título sem lutar, primeiro com seu irmão Yam ("príncipe do mar") e depois com Mot, também seu irmão. Um longo e comovente poema, reunido passo à passo através de numerosas barras fragmentadas, começa com a intimação do "Mestre Artesão" à abóbada de El, "às fontes das águas, por entre as nascentes dos dois rios":

Ele vem através dos campos de El
Entra no pavilhão do Pai dos Anos,
Inclina-se aos pés de El, cai,
Prostra-se, prestando homenagem.


Ao Mestre Artesão é ordenado que erija um palácio para Yam como marco de sua subida ao poder. Incentivado por este fato, Yam envia seus mensageiros para a assembléia dos deuses, para exigir de Baal sua rendição. Yam instrui seus emissários no sentido de serem provocadores, e os deuses, reunidos em assembléia, capitulam, de fato. Mesmo El aceita a nova hierarquia entre seus filhos. "Baal é o teu escravo, ó Yam", declara ele.

A supremacia de Yam seria, contudo, de pouca duração. Armado de duas "divinas armas", Baal lutou com ele e derrotou-o apenas para ser desafiado por Mot (o nome significava "assassino"). Nesta contenda, Baal foi rapidamente dominado, mas sua filha Anat recusou-se a aceitar a retirada de Baal como definitiva. "Ela capturou Mot, o filho de El, e cravou-o com uma espada.”

De acordo com a lenda cananita, a destruição de Mot levou à miraculosa ressurreição de Baal. Os estudiosos tentaram raciocinar sobre o relato, sugerindo que todo o conto era simplesmente alegórico, representando nada mais que uma história da luta anual do Oriente Médio entre os verões quentes e sem chuva que secam a vegetação e a vinda da estação chuvosa no outono, que faz reviver, ou "ressuscitar", a vegetação. Mas não há dúvida de que a lenda cananita não tinha nenhuma pretensão de ser alegórica. Ela relatava, sim, os acontecimentos que se acreditava serem verdadeiros na época, ou seja, como é que os filhos da deidade principal lutaram entre si e como é que um deles, recusando a derrota, reaparece para se tornar o herdeiro aceite, fazendo El rejubilar:

El, o generoso, o misericordioso, rejubila.
Ele assenta seus pés no escabelo.
Ele abre sua garganta e ri;
Aqui me sentarei e tranqüilizarei,
A alma repousará em meu peito;
Porque Baal, o poderoso, está vivo,
Porque o Príncipe da Terra existe!

Assim, Anat, de acordo com as tradições cananitas, manteve-se ao lado de seu irmão, o Senhor (Baal), ao longo de sua luta de vida ou de morte com o diabólico Mot. O paralelo entre isto e a tradição grega que nos fala da deusa Atena permanecendo junto do supremo deus Zeus em sua luta de morte com Tífon, é demasiado óbvio. Atena, como vimos, era chamada a "perfeita donzela", mantendo, no entanto, muitos casos de amor ilícitos. Da mesma forma, as tradições cananitas (que precederam as gregas) empregaram o epíteto "A Donzela Anat", e, a despeito disto, não deixam de proceder ao relato de seus vários casos amorosos, especialmente dos que envolviam seu próprio irmão Baal. Um texto descreve a chegada de Anat à residência de Baal no monte Zafon, e a apressada licença de saída que Baal concede às suas esposas. Depois, ele atira-se aos pés de sua irmã; olham-se nos olhos e roçam-se mutuamente os "chifres":

Ele avalia e toma o colo dela...
Ela avalia e toma suas “pedras
.. A donzela Anat... concebe e dá à luz.

Não admira que Anat seja freqüentemente representada completamente nua, para salientar seus atributos sexuais - como na impressão de um selo que ilustra um Baal de elmo batalhando com outro deus.

Tal como a religião grega e seus predecessores diretos, o panteão cananita incluía uma deusa-mãe, consorte oficial da deidade reinante. Chamavam-lhe
Ashera, e é a correspondente da deusa grega Hera. Astarte (a bíblica Ashtoreth) é o paralelo de Afrodite e seu consorte comum era Athtar, a quem um brilhante planeta estava associado, e cujo paralelo é, provavelmente, Ares, o irmão de Afrodite. Havia outras jovens divindades masculinas e femininas cujos paralelos astrais e gregos podem ser facilmente subentendidos.

Mas, para além destas deidades, havia os "vetustos deuses", indiferentes aos negócios mundanos, mas disponíveis quando os próprios deuses se viam envolvidos em qualquer problema grave. Algumas de suas esculturas, mesmo parcialmente danificadas, mostram-nos com um aspecto autoritário, como seres reconhecíveis pelo seu adorno de chifres.

Pela parte que lhes diz respeito, por onde teriam os cananitas duplicado os modelos de sua cultura e religião?

O Antigo Testamento considera-os parte da família hamítica, de nações cujas raízes se situam nas quentes terras da África (ham significa quente) e, por isso, irmãos dos egípcios. Os artefatos e registros escritos desenterrados pelos arqueólogos confirmam a íntima afinidade entre os dois, assim como as muitas semelhanças entre as deidades cananitas e egípcias o confirmam também.

A quantidade de deuses nacionais e locais, e a quantidade de seus nomes e epítetos, a diversidade de seus papéis, emblemas e mascotes animais começaram por tornar os deuses do Egito uma multidão imprescrutável de atores sobre um estranho palco. Mas um olhar mais atento revelamos que, em essência, eles não eram diferentes daqueles de outras terras no Mundo Antigo.

Os egípcios acreditavam em deuses do céu e da terra, grandes deuses que se distinguiam claramente da multidão de divindades inferiores. G .A. Wainwright (The Sky-Religion in Egypt) [A Religião do Céu no Egito] adiciona todas as provas e conclui que a crença egípcia: em deuses do céu que desceram à terra vindos dos céus “era extremamente antiga". Alguns dos epítetos dos grandes deuses - o Deus Maior, Touro do Céu, Senhor/Dama das Montanhas, soam familiares.

Embora os egípcios contassem pelo sistema decimal, seus negócios religiosos eram governados pelo sistema sexagesimal sumério, sessenta, e os assuntos celestiais estavam sujeitos ao número divino doze. Os céus estavam divididos em três partes, cada uma delas compreendendo doze corpos celestiais. De dia e de noite cada uma delas estava dividida em doze horas. E todas estas divisões tinham seu paralelo em "companhias" de deuses que, por sua vez, eram formadas por doze elementos cada uma.

O chefe do panteão egípcio era Ra ("criador"), que presidia a uma assembléia dos deuses de doze elementos. Ele levava a cabo suas assombrosas obras da criação nos tempos primevos trazendo à luz Geb ("Terra") e Nut ("Céu"). Depois ele fez as plantas crescer na terra, e depois, as criaturas rastejantes e, finalmente, Ra criou o homem. Ra era um deus celestial invisível que se manifestava apenas periodicamente. Sua manifestação era Aten, o Disco Celestial gravado como um globo alado.

De acordo com a tradição egípcia, o aparecimento e as atividades de Ra na terra estavam diretamente relacionados com os reinos no Egito. Segundo essa tradição, os primeiros governantes do Egito não foram homens, mas deuses, e o primeiro deus a governar o Egito foi Ra. Ele dividiu depois o reino, dando o Baixo Egito a seu filho Osíris e o Alto Egito a seu filho Seth. Mas Seth planejou destronar Osíris, e, de fato, afogou-o. Ísis, mulher e irmã de Osíris, recuperou o corpo mutilado do deus e ressuscitou-o. A partir daí, ele passou através "das portas secretas" e juntou-se a Ra na qualidade de celestial. Seu lugar no trono do Egito foi tomado por seu filho Horo, que era, por vezes, representado como uma divindade alada e de chifres.

Embora Ra fosse o mais sublime nos céus, sobre a terra ele era o filho do deus Ptah ("o desenvolvedor", "aquele que imagina as coisas"). Os egípcios acreditavam ter sido realmente Ptah que elevou a terra do Egito acima das águas de inundação com a construção de diques até ao ponto em que o Nilo se ergue. Este grande deus, diziam eles, viera para o Egito de qualquer outro sítio; estabeleceu não só o Egito, como também as "terras de montanha e longínquas terras estrangeiras". De fato, os egípcios reconheceram que todos os "seus deuses vetustos" chegaram do sul em barcos, e foram encontrados muitos desenhos rupestres pré-históricos que nos mostram estes antigos deuses, diferenciados pelo seu toucado de chifres, chegando do Egito de barco.

A única rota marítima que leva ao Egito partindo do sul é a que passa pelo mar Vermelho, e é significativo que seu nome egípcio seja mar de Ur. Hieroglificamente, o signo de Ur queria dizer "longínqua [terra] estrangeira no Oriente". Não pode ser excluída a hipótese de que se trate da cidade suméria de Ur, situada nessa mesma direção.

A palavra egípcia para "ser divino" ou "deus" era NTR, que quer dizer "aquele que chefia". Esse é exatamente o significado do nome sumério "a
terra daqueles que vigiam
".

A antiga tese de que a civilização poderá ter começado no Egito foi já posta de lado. Há numerosas provas, hoje em dia, que mostram que a sociedade e a civilização organizadas egípcias, que terão começado a meio do 1º. milênio a.C. e, mais ainda, depois da civilização suméria, retiraram sua cultura, arquitetura e tecnologia, arte de escrita e muitos outros aspectos de uma alta civilização da Suméria. O peso da evidência mostra também que os deuses egípcios derivam dos sumérios.

Cultural e biologicamente semelhantes aos egípcios, os cananitas partilharam os mesmos deuses com eles. Mas, situados na faixa de terra que constituía a ponte entre a Ásia e a África desde tempos imemoriais, os cananitas vieram também sob fortes influências, semitas ou mesopotâmicas. Tal como os hititas para o norte, os hurritas para o nordeste, os egípcios para o sul, os cananitas não podiam se orgulhar de possuir um panteão original. Também eles adquiriram sua cosmogonia, deidades e contos lendários em qualquer outra parte. Seus contatos diretos com as fontes sumérias foram os amoritas. A terra dos amoritas situa-se entre a Mesopotâmia e os territórios mediterrâneos da Ásia Ocidental. Seu nome deriva do termo acádio amurru e do sumério martu ("ocidentais"). Não eram tratados como estranhos, mas como gente relacionada que vagava nas províncias a oeste da Suméria e da Acádia.

Nomes amoritas constam nas listas de funcionários de templos na Suméria. Quando Ur caiu nas mãos dos invasores elamitas, cerca do ano 2.000 a.C., um martu chamado Ishbi-Irra restaurou o reino sumério em Larsa e estabeleceu como sua primeira tarefa a recaptura de Ur e a restauração, aí, do grande santuário do deus Sin. "Chefes de tribos" amoritas estabeleceram a primeira dinastia independente na Assíria por volta do ano 1.900 a.C. E Hamurabi, que trouxe grandeza à Babilônia cerca do ano 1.800 a.C., foi o
sexto sucessor da primeira dinastia babilônica, que era amorita.

Nos anos 30, os arqueólogos alcançaram o centro e a cidade principal dos amoritas, conhecida por Mari. Numa curva do Eufrates, onde a fronteira Síria corta atualmente o rio, os escavadores revelaram uma cidade principal cujos edifícios foram erigidos e tornados a erigir, continuamente, entre os anos 3.000 e 2.000 a.C., em alicerces que datam de séculos anteriores. Estes remotos vestígios incluem uma pirâmide de degraus e templos e deidades sumérias Inanna, Ninhursag e Enlil.

Só o palácio de Mari ocupava 2 hectares e incluía uma sala do trono pintada com notáveis murais, tinha três centenas de quartos, câmaras de escrita, e (mais importante para o historiador) muito mais de 20 mil barras em escrita cuneiforme, tratando da economia, comércio, política e vida social daqueles tempos, com assuntos de Estado e militares e, claro, com a religião da terra e de seu povo. Uma das pinturas de parede no grande palácio de Mari descreve a investidura do rei Zimri-Lim pela deusa Inanna (a quem os amoritas chamam Ishtar).

Tal como nos outros panteões, a deidade principal presente entre os amuru era um deus do clima ou da tempestade. Chamavam-lhe Adad - o equivalente ao cananita Baal ("senhor") - e davam-lhe o diminutivo de Hadad. Seu símbolo, como não podia deixar de ser, eram raios em ziguezague.

Nos textos cananitas, Baal é freqüentemente apelidado como o "filho do Dagon". Os textos mari falam também de uma divindade mais idosa chamada Dagan, um "senhor da abundância", que, como El, é representado como uma deidade afastada, que se queixou, em dada ocasião, porque já não era consultada sobre a estratégia de certa guerra.

Os membros do panteão incluíam o Deus da Lua, a quem os cananitas chamavam Yerah, os acádios, Sin, e os sumérios, Nannar; o Deus Sol, comumente chamado Shamash, e outras deidades cujas identidades não deixam dúvidas acerca do fato de Mari ser uma ponte geográfica e cronológica ligando as terras e os povos do Mediterrâneo Oriental com as fontes mesopotâmicas.

Entre os achados em Mari, como em qualquer parte nas terras da Suméria, havia dúzias de estátuas do próprio povo: reis, nobres, padres e cantores. Eles estão invariavelmente representados com as mãos enlaçadas em oração e com o olhar fixo sempre na direção de seus deuses.

Quem eram estes deuses do céu e da terra, divinos e, no entanto, humanos, sempre chefiados por um panteão ou círculo reservado de doze deidades?
Entramos nos templos arianos, nos gregos, nos hititas e nos hurritas, nos cananitas, nos egípcios e nos amoritas. Seguimos rotas que nos levaram
através de continentes e mares, e pistas que nos arrastaram ao longo de vários milênios.

E todos os corredores de todos os templos nos levaram a uma mesma fonte: a Suméria.


Fonte: O 12º. PLANETA - Zecharia Sitchin

Tradução de ANA PAULA CUNHA

DOWNLoad: http://www.hlage.com.br/E-Books-Livros-PPS/O_12-Planeta_Livro_Zecharia%20Sitchin-1976.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor: não perturbe, nem bagunce! Apenas desejamos que seja amigo com os demais! Seja paciente, humilde e respeitoso com os outros leitores. Se você for ofendido, comunique-se conosco. Obrigado!