A prolongada crença do homem na existência de uma Idade de Ouro em sua pré-história não pode certamente basear-se em lembranças humanas, uma vez que o acontecimento teve lugar há demasiado tempo
e o homem era demasiado primitivo para registrar qualquer informação concreta para as gerações vindouras. Se a humanidade retém, de qualquer modo, um sentido subconsciente que lhe diz que nesses dias dos primórdios o homem viveu através de uma era de tranqüilidade e felicidade, é simplesmente porque o homem não conhecia nada de melhor. E é também porque os contos dessa era foram primeiramente contados à humanidade, não pelos homens primitivos, mas pelos próprios Nefilim.
A única narração completa dos acontecimentos que sucederam ao homem após seu transporte para o domicílio dos deuses na Mesopotâmia é o conto bíblico de Adão e Eva no Jardim do Éden:
Embora tivessem à disposição dois frutos vitais, os terráqueos estavam proibidos de tocar apenas no fruto da Árvore da Sabedoria. A divindade, nesta altura, parece não se preocupar com a possibilidade de o homem tentar alcançar o Fruto da Vida. Ainda assim, o homem não pôde respeitar nem sequer esta única proibição e seguiu-se a tragédia.
A paisagem idílica em breve cedeu lugar a dramáticos desenvolvimentos, a que os eruditos bíblicos e os teólogos chamam a "Queda do Homem". É um conto de ordens divinas desatendidas de mentiras divinas, de uma serpente velhaca (mas que diz a verdade), de castigo e exílio.
Aparecendo de lugar nenhum, a serpente desafiou os solenes avisos de Deus:
Lendo e relendo o conciso e, ainda assim, preciso conto, não podemos evitar perguntar-nos qual a razão de todo o conflito. Proibidos sob ameaça de morte de tocar no Fruto da Sabedoria, os dois terráqueos foram persuadidos a avançar e comer o fruto que os tornaria "conhecedores" como a Divindade.
No entanto, tudo o que aconteceu foi uma súbita tomada de consciência de sua nudez.
O estado de nudez foi, de fato, um aspecto maior de todo o incidente. O conto bíblico de Adão e Eva no Jardim do Éden abre com a afirmação: "E ambos estavam nus, o Adão e sua companheira, e eles não se envergonhavam". Eles estavam, devemos perceber, em algum estágio inferior do desenvolvimento humano em relação aos humanos completamente desenvolvidos - não só estavam nus, como estavam também na total inconsciência das implicações de tal nudez.
Um exame posterior do conto bíblico sugere que seu tema é a consecução pelo homem de algum tipo de proeza sexual. A "sabedoria" retida aos olhos do homem não era uma informação científica, mas algo relacionado com o sexo masculino e feminino, porque, mal o homem e sua parceira adquiriram a "sabedoria", logo "perceberam que estavam nus" e cobriram seus órgãos sexuais.
A continuação da narrativa bíblica confirma a relação entre a nudez e a falta de conhecimento, porque a Divindade não levou muito tempo a juntar os dois:
Admitindo a verdade, o trabalhador primitivo culpou sua companheira feminina, que por sua vez deitou a culpa sobre a serpente. Tremendamente zangado, Deus lançou feitiços contra a serpente e os dois terráqueos. Então, surpreendentemente, "a Deidade Javé fez para Adão e sua mulher vestes de peles, e vestiu-os".
Não podemos julgar seriamente que o propósito de todo o incidente, que levou à expulsão dos terráqueos do Jardim do Éden, fosse um modo dramático de explicar como é que o homem passou a usar roupas. O uso de roupas foi meramente uma manifestação exterior da nova "sabedoria". A aquisição de tal "sabedoria" e as tentativas da Divindade em privar dela a humanidade são os temas centrais dos acontecimentos.
Enquanto não for ainda encontrada uma contraparte mesopotâmica para o conto bíblico, poucas dúvidas podem restar de que o conto - tal como todo o material bíblico referente à criação e à pré-história do homem - era de origem suméria. Temos o local: o domicílio dos deuses na Mesopotâmia. Temos o intrigante jogo de palavras com o nome de Eva (“ela da vida", "ela da costela"). E temos duas árvores vitais, a Árvore da Sabedoria e a Árvore da Vida, tal como na residência de Anu.
Até as palavras da Divindade acusam a origem suméria, porque só a deidade hebraica resvalou de novo para o plural, dirigindo-se a colegas divinos que foram imaginados não na Bíblia, mas nos textos sumérios:
Como mostram muitas remotas representações sumérias, houvera um tempo no qual o homem, o trabalhador primitivo, servira seus deuses completamente nu. Ele estava nu quer servisse aos deuses sua comida e bebida, quer labutasse nos campos ou nos trabalhos de construção.
A implicação clara é que o status do homem em face dos deuses não era muito diferente daquele dos animais domesticados. Os deuses tinham meramente elevado um animal já existente para preencher suas necessidades.
Teria, então, a falta de "sabedoria" significado que, nu como um animal, o ser remodelado se envolvia sexualmente como ou com os animais? Algumas antigas descrições pictóricas indicam que foi este realmente o caso.
Os textos sumérios, como a "Epopéia de Gilgamesh", sugerem que o modo como se processavam as relações físicas dá realmente conta de uma distinção entre o homem selvagem e o homem humano. Quando o povo de Uruk quis civilizar o selvagem Enkidu, "o indivíduo bárbaro das profundidades das estepes", eles recorreram aos serviços de uma "jovem do prazer" e enviaramna para se encontrar com Enkidu no fosso de água onde ele costumava conviver com animais vários e oferecer-lhe sua "maturidade”.
Parece, a partir do texto, que o momento decisivo no processo de "civilização" de Enkidu foi a rejeição dele pelos animais com os quais convivera. Era importante, disse o povo de Uruk à jovem, que ela
continuasse a tratá-lo como "tarefa de mulher" até que "suas bestas selvagens que cresciam nas estepes o rejeitassem". Porque era um pré-requisito para que Enkidu se tornasse humano, que ele se afastasse da sodomia.
O relato é explícito. As relações físicas humanas produziram uma mudança tão profunda em Enkidu que os animais com que ele convivera “se afastaram". Eles não fugiram simplesmente - eles esquivaram-se ao seu contato físico.
Atônito, Enkidu ficou imóvel por um instante, "porque suas feras partiram". Mas não se devia lamentar a mudança, como nos explica o antigo texto:
Os vocábulos neste texto mesopotâmico são quase idênticos aos do conto bíblico de Adão e Eva. Como a serpente predissera, partilhando da Árvore da Sabedoria, eles tornaram-se, em assuntos sexuais, "como a divindade - conhecedores do bem e do mal".
Se isto apenas significava que o homem chegara ao reconhecimento de que ter relações físicas com animais era incivilizado ou mau, por que Adão e Eva foram punidos por abandonarem a sodomia? O Antigo Testamento está repleto de admoestações contra a sodomia, e é inconcebível que a aprendizagem de uma virtude causasse a ira divina.
A "sabedoria" que o homem obteve contra os desejos expressos da divindade - ou de uma das deidades - devia ter sido de mais profunda natureza. Era algo de bom para o homem, mas que os criadores não queriam que ele tivesse.
Temos de ler cuidadosamente nas entrelinhas da maldição lançada sobre Eva para apreender o significado do acontecimento:
Este é, de fato, o acontecimento momentoso que nos é transmitido no conto bíblico: enquanto a Adão e Eva faltou "sabedoria", eles viveram no Éden sem nenhuma descendência. Tendo obtido "sabedoria", Eva adquiriu a capacidade (e a dor) de engravidar e dar à luz crianças. Só depois de o casal ter adquir esta "sabedoria", "Adão conheceu Eva como mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim".
Ao longo do Antigo Testamento, o vocábulo "conhecer" é usado para denotar relações sexuais, na maior parte das vezes entre um homem e sua esposa com o propósito de ter filhos. O conto de Adão e Eva no Jardim do Éden é a história de um passo importante no desenvolvimento do homem - a aquisição da capacidade para procriar.
Não devia surpreender que os primeiros seres representativos do Homo sapiens fossem incapazes de se reproduzir. Qualquer que tenha sido o método usado pelos Nefilim para introduzir algum material genético na composição biológica dos hominídeos selecionados para tal fim, o novo ser era um híbrido, um cruzamento entre duas espécies diferentes, talvez relacionadas.
Tal como a mula (um cruzamento entre a égua e o burro), estes mamíferos híbridos são estéreis. Através da inseminação artificial e de métodos de engenharia biológica ainda mais sofisticados, pode-se produzir a quantidade de mulas que se desejar, mesmo sem haver verdadeiras relações físicas entre o burro e a égua, mas nenhuma mula pode procriar e dar à luz outra mula.
Estariam os Nefilim, a princípio, simplesmente produzindo "mulas humanas" para satisfazer suas necessidades?
Nossa curiosidade é aumentada por uma cena representada numa gravação de rocha encontrada nas montanhas do sul do Elam. Ela mostra uma deidade segurando um frasco de "laboratório" do qual correm líquidos, uma descrição comum de Enki. Uma grande deusa está sentada ao lado dele, numa pose que indica ser uma cooperadora, mais do que uma esposa; ela não podia ser outra senão Ninti, a deusa-mãe ou Deusa do Nascimento. Os dois são flanqueados por deuses inferiores, reminiscentes das deusas do nascimento dos contos e da criação. Encarando estes criadores do homem estão várias filas de seres humanos, cuja impressionante e comum característica é a semelhança física de uns com os outros, como se fossem produtos do mesmo molde.
Nossa atenção é também chamada de novo para o conto sumério dos machos e fêmeas imperfeitos inicialmente dados à luz por Enki e pela deusa-mãe, que eram seres assexuados ou sexualmente incompletos. Recordará este texto a primeira fase da existência do homem híbrido, um ser à imagem e semelhança dos deuses, mas sexualmente incompleto e ao qual faltava a "sabedoria"?
Depois de Enki ter conseguido produzir um "modelo perfeito" - Adapa/Adão -, são descritas nos textos sumérios técnicas de "produção em massa".
Tratava-se da implantação de óvulos geneticamente tratados numa "linha de montagem" de deusas do nascimento com o conhecimento prévio de que metade dessas deusas produziriam machos, e a outra metade, fêmeas. Isto não só revela a técnica pela qual o homem híbrido foi "fabricado", como implica também que o homem não podia por si só procriar.
A impotência dos híbridos em procriar, descobriu-se recentemente, deriva de uma deficiência nas células reprodutoras. Enquanto todas as células contêm apenas um conjunto de cromossomos hereditários, o homem e outros mamíferos são capazes de produção porque suas células sexuais (o esperma masculino e o óvulo feminino) contêm dois conjuntos. Mas este padrão único não se encontra nos seres híbridos. Atualmente são feitas tentativas através da engenharia genética no sentido de prover os híbridos com esse conjunto duplo de cromossomos em suas células reprodutoras, tornando-os sexualmente "normais".
Terá sido isso o que o deus, cujo epíteto era "A Serpente", trouxe ao gênero humano?
A serpente bíblica não era, com certeza, uma mera e literal cobra, uma vez que podia conversar com Eva, conhecia a verdade acerca do assunto da "sabedoria" e mantinha uma posição hierárquica tão elevada que podia, sem hesitar, apresentar a divindade como mentirosa. Lembramos que nas antigas tradições, a divindade principal lutou com um adversário serpente, um conto cujas raízes remontam, indubitavelmente, aos deuses sumérios.
O conto bíblico revela muitos traços de origem suméria, incluindo a presença de outras divindades: "O Adão tornou-se como um de nós". A possibilidade dos antagonistas bíblicos - a divindade e a serpente - terem representado Enlil e Enki parece-nos inteiramente plausível.
Seu antagonismo, como descobrimos, teve origem na transferência de Enlil para o comando da Terra, embora Enki fosse o verdadeiro pioneiro.
Enquanto Enlil ficava no confortável Centro de Controle da Missão em Nippur, Enki era enviado para organizar as operações mineiras no Mundo Inferior. O motim dos Anunnaki foi dirigido contra Enlil e seu filho Ninurta, e o deus que falou em nome dos amotinados foi Enki. Enki sugeriu e empreendeu a criação de trabalhadores primitivos. Enlil teve de recorrer à força para obter algumas destas maravilhosas criaturas. Como registram os textos sumérios do decurso dos acontecimentos humanos, Enki geralmente aparece como protagonista da humanidade e Enlil como seu severo disciplinador, senão seu antagonista direto. O papel de uma divindade que deseja manter os novos humanos sexualmente oprimidos e o de uma divindade desejosa e capaz de conceder ao homem o fruto da "sabedoria" se ajustam perfeitamente a Enlil e a Enki.
Uma vez mais, os jogos de palavras sumérias e bíblicas vêm em nossa ajuda.
O termo bíblico para "serpente" é nahash, que significa realmente "cobra".
Mas o termo deriva da raiz NHSH, que significa "decifrar, descobrir", e, assim, nahash podia também significar "ele que pode decifrar, ele que descobre coisas", um epíteto adequado a Enki, o cientista-chefe, o Deus da Sabedoria dos Nefilim.
Estabelecendo paralelos entre o conto mesopotâmico de Adapa (que obteve "sabedoria", mas não alcançou a vida eterna) e o destino de Adão, S. Langdon (Semitic Mythology) reproduziu uma descrição desenterrada na Mesopotâmia que sugere fortemente esse conto bíblico - uma serpente enlaçada numa árvore, apontando para o seu fruto. Os símbolos celestes são significativos: lá bem em cima está o planeta da Travessia, que representa Anu; próximo da serpente está o crescente lunar, representando Enki.
Muito pertinente para nossas descobertas é o fato de, nos textos mesopotâmicos, o deus que finalmente legou "sabedoria" a Adapa não ser outro senão Enki:
Um conto ilustrado gravado num selo cilíndrico encontrado em Mari pode bem ser uma antiga ilustração da versão mesopotâmica do conto do Gênesis.
A gravação mostra um grande deus sentado num terreno alto elevando-se de ondas de água, uma descrição óbvia de Enki. Serpentes jorrando água destacam-se de cada lado deste "trono".
Ladeando esta figura central estão três deuses que se assemelham a árvores.
Aquele que está à direita, cujos ramos têm extremidades em forma de pênis, segura um recipiente onde possivelmente está contido o Fruto da Vida. O da esquerda, cujos ramos têm extremidades em forma de vagina, oferece ramos frutíferos e representa a Árvore da "Sabedoria", dádiva dos deuses da procriação.
Ao lado há ainda um outro grande deus - nossa sugestão é que se trata de Enlil. Sua raiva contra Enki é por demais evidente.
Nunca saberemos o que ocasionou este "conflito" no Jardim do Éden, mas quaisquer que fossem os motivos de Enki, o fato é que ele conseguiu aperfeiçoar o trabalhador primitivo e criou o Homo sapiens, que podia produzir sua própria descendência.
Depois que o homem adquiriu a "sabedoria", o Antigo Testamento cessa de se referir a ele como "o Adão" e adota como sujeito Adão, uma pessoa específica, o primeiro patriarca da linha do povo com o qual se preocuparia a Bíblia. Mas este amadurecimento da humanidade marcou igualmente um cisma entre Deus e o homem.
A separação dos caminhos, o homem aparecendo já não como um servo mudo dos deuses, mas como uma pessoa agindo por si mesma, é descrita no livro do Gênesis não como uma decisão tomada pelo próprio homem, mas como a imposição de um castigo pela Divindade: para que o terráqueo não adquira também a capacidade de escapar à mortalidade, ele será expulso do Jardim do Éden. De acordo com estas fontes, a existência independente do homem começou não no sul da Mesopotâmia, onde os Nefilim estabeleceram suas cidades e pomares, mas sim a leste, nos montes Zagros: "E Ele retirou o Adão e fê-lo residir a leste do Jardim do Éden".
Uma vez mais, então, a informação bíblica confirma as descobertas científicas: a cultura humana começou nas regiões montanhosas fronteiriças à planície mesopotâmica. Que pena ser a narrativa bíblica tão breve, uma vez que se trata aqui daquilo que foi a primeira vida civilizada do homem na Terra!
Expulso do domicílio dos deuses, condenado a uma vida mortal, mas capaz de procriar, o homem continuou a fazer exatamente isso. O primeiro Adão, com cujas gerações se preocupou a Bíblia, "conheceu" sua mulher Eva, e ela deu-lhe um filho, Caim, que arou a terra. Então, Eva deu à luz Abel, que foi pastor. Insinuando como motivo a homossexualidade, a Bíblia relata que "Caim lançou-se sobre seu irmão Abel e matou-o".
Temendo por sua vida, a deidade deu a Caim um sinal protetor, ao mesmo tempo que lhe ordenava que se mudasse mais para leste. Levando a princípio uma vida de nômade, Caim finalmente estabeleceu-se na "Terra de Migração, bem a oriente do Éden". Aí teve um filho a quem chamou Enoc ("inauguração"), "e ele construiu uma cidade, e deu à cidade o nome de seu filho". Enoc, por sua vez, teve filhos e netos e bisnetos. Na sexta geração depois de Caim, nasceu Lamec. A Bíblia atribui a seus três filhos a condução da civilização: Jabal "era o pai daqueles que residem em tendas e têm gado"; Jubal "era o pai de todos os que tocam a lira e a harpa"; Tubal-Caim foi o primeiro ferreiro.
Mas também Lamec, como seu antecessor Caim, se envolveu em assassínios, desta vez de um homem e de uma criança. Não erraremos se julgarmos que as vítimas não eram uns humildes estranhos, uma vez que o livro do Gênesis se demora sobre o incidente e o considera um momento decisivo na linhagem de Adão. A Bíblia declara que Lamec reuniu suas duas mulheres, mães de seus três filhos, e confessou perante elas o duplo crime, declarando: "Se Caim foi sete vezes vingado, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete”. Esta afirmação, pouco entendida pelos estudiosos, deve ser entendida como relacionada ao problema da sucessão; consideramos isto como uma confissão de Lamec para suas mulheres, que a esperança de que a maldição sobre Caim pudesse ser redimida na sétima geração (a geração de seus filhos) não deu em nada. Agora, uma nova maldição, muito mais longa, fora imposta à casa de Lamec.
Confirmando que o acontecimento dizia respeito à linha de sucessão, os versículos seguintes informam-nos do imediato estabelecimento de uma nova e pura linhagem:
Neste ponto, o Antigo Testamento perde todo o interesse na linha maculada de Caim e Lamec. A continuação dos eventos humanos firma-se, assim, a partir daqui, sobre a linhagem de Adão através de seu filho Set e do primogênito deste, Enos, cujo nome adquiriu em hebraico a conotação genérica de "ser humano". "Foi então", diz-nos o Gênesis, "que se começou a invocar o nome da Divindade.”
Esta enigmática afirmação confundiu os estudiosos bíblicos e os teólogos ao longo dos anos. Ela é seguida por um capítulo que fornece a genealogia de Adão através de Set e Enos durante dez gerações, finalizando com Noé, o herói do dilúvio.
Os textos sumérios, que descrevem os remotos estágios em que os deuses estavam sozinhos na Suméria, descrevem com igual precisão a vida dos humanos na Suméria num tempo posterior, mas antecedente do dilúvio.
A história suméria (e original) do dilúvio conhece seu "Noé" como o "Homem de Shuruppak", a sétima cidade estabelecida pelos Nefilim quando aterrissaram no planeta Terra.
Então, em alguma época da história, os seres humanos, banidos do Éden, obtiveram permissão para regressar à Mesopotâmia, para viver ao lado dos deuses, para os servir e adorar. Tal como interpretamos a afirmação bíblica, isto aconteceu nos dias de Enos. Foi então que os deuses permitiram à humanidade o regresso à Mesopotâmia, para servir os deuses “e invocar o nome da divindade”.
Ansioso por chegar ao próximo acontecimento épico da saga humana, o dilúvio, o livro do Gênesis fornece pouca informação além dos nomes dos patriarcas que sucederam a Enos. Mas o significado do nome de cada patriarca pode sugerir os acontecimentos que tiveram lugar durante seu período de vida.
O filho de Enos através de quem se continuou a linhagem pura foi Cainam ("pequeno Caim"); alguns estudiosos tomam o nome para significar "ferreiro". O filho de Cainan era Malaleel ("orador de deus"). A ele se seguiu Jered ("ele que descendeu"); e seu filho foi Henoc ("o consagrado"), que com 365 anos, foi levado para as alturas pela divindade. Mas, trezentos anos antes, com 65 anos, Henoc tivera um filho chamado Matusalém; muitos estudiosos, seguindo Lettia D. Jeffreys (Ancient Hebrew Names: Their Significance and Historical Value) [Antigos Nomes Hebraicos: Sua Significação e Valor Histórico], traduzem Matusalém como “homem do míssil".
O filho de Matusalém chamava-se Lamec, significando "ele que foi humilhado". E Lamec teve Noé ("descanso"), dizendo: "Que este nos conforte em nosso trabalho e no sofrimento de nossas mãos na terra que a divindade amaldiçoou".
A humanidade, ao que parece, passava grandes privações à altura do nascimento de Noé. O trabalho árduo e a fadiga não a levavam a parte alguma, uma vez que a terra, que os devia sustentar, estava amaldiçoada.
Estava armado o cenário para o dilúvio, o momentoso evento que iria varrer da face da Terra não só a raça humana, mas toda a vida da terra e dos céus.
Estas acusações categóricas são apresentadas como justificativas para as drásticas medidas de "acabar com toda a carne". Mas as citadas acusações são pouco específicas, e estudiosos e teólogos não encontram respostas satisfatórias referentes aos pecados ou "violações" que tanto aborreceram a Divindade.
O uso repetido do termo carne, tanto nos versículos de acusação, como nas proclamações de julgamento, sugere, é claro, que as corrupções e as violações relacionavam-se com a carne. A Deidade preocupava-se com o perverso "desejo dos pensamentos do homem". O homem, podia parecer, tendo descoberto o sexo, tornara-se maníaco sexual.
Mas só muito dificilmente podemos aceitar que a Divindade decidisse varrer a humanidade da face da terra simplesmente porque os homens faziam demasiadas vezes amor com suas mulheres. Os textos mesopotâmicos falam livremente e eloqüentemente de sexo e amor entre os deuses e suas consortes, de amores ilícitos entre uma donzela e seu amante, de amor violento (como no caso de violação de Ninlil por Enlil). Há uma profusão de textos descrevendo o ato amoroso e a própria relação física entre os deuses, com suas consortes oficiais ou com concubinas não oficiais, com suas irmãs e filhas e até netas (fazer amor com estas últimas era o passatempo favorito de Enki). Tais deuses não podiam, com toda a justiça, voltar-se contra a humanidade por esta se comportar como eles próprios o faziam.
O verdadeiro motivo da Divindade não era mera preocupação com a moralidade humana. A repugnância avassaladora era causada por uma propagada degradação dos próprios deuses. Visto sob esta luz, torna-se claro o significado dos desconcertantes versículos de abertura do capítulo VI do Gênesis:
Como esclarecem estes versículos, foi nessa altura, quando os filhos dos deuses começaram a envolver-se sexualmente com a descendência dos terráqueos, que a Divindade gritou: "Basta!”
Esta afirmação permaneceu enigmática durante milênios. Lida à luz de nossas conclusões referentes à manipulação genética na criação do homem, os versículos encerram uma mensagem para nossos próprios cientistas. O "espírito" dos deuses - a perfeição genética da humanidade - começava a deteriorar-se. O gênero humano extraviara-se, voltando assim a ser “apenas carne", mais próximo de suas origens animais simiescas.
Podemos agora compreender a ênfase colocada no Antigo Testamento na distinção entre Noé, um "homem íntegro... puro em suas genealogias" e "a terra inteira que estava corrompida". Contraindo matrimônio com homens e mulheres de pureza genética decrescente, os deuses sujeitavam-se também à deterioração. Salientando que apenas Noé continuava a ser geneticamente puro, o conto bíblico justifica a contradição da Divindade. Tendo decidido eliminar toda a vida da face da terra, resolveu salvar Noé, seus descendentes e "todos os animais limpos" e outras feras e aves "para manter vivas sobre a face de toda a terra".
O plano da Divindade para anular seu objetivo inicial consistia em alertar Noé da catástrofe que se avizinhava e orientá-lo na construção de uma arca capaz de se manter na água, arca esta que levaria as pessoas e as criaturas que se pretendia salvar. A notícia foi dada a Noé sete dias apenas antes do início da catástrofe. De um modo ou de outro, ele conseguiu construir a arca e impermeabilizá-la, juntar todos os seres e colocá-los e à sua família a bordo e ainda abastecer a arca de provisões no tempo concedido. "E assim aconteceu, depois dos sete dias, que as águas do dilúvio estavam sobre a terra." O que veio a acontecer está mais bem descrito nas próprias palavras da Bíblia:
As águas mantiveram-se sobre a terra 150 dias, até que a Divindade:
De acordo com a versão bíblica, a provação da humanidade começou "no ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, no décimo sétimo dia do mês". A arca permaneceu nos montes de Ararat "no sétimo mês, no décimo sétimo dia do mês". A subida das águas e seu gradual "recuo", suficiente para baixar o nível da água e fazer a arca descansar nos picos de Ararat, durou, então, cinco meses completos. Então "as águas continuaram a diminuir, até que os picos das montanhas" - e não apenas os dos imponentes Ararat - "puderam ser vistos no décimo primeiro dia do décimo mês", quase três meses depois.
Noé esperou mais quarenta dias. Então ele enviou um corvo e uma pomba "para ver se as águas diminuíram na superfície da terra". À terceira tentativa, a pomba voltou segurando no bico uma folha de oliveira, indicando que as águas regrediram o suficiente para permitir que se vissem as copas das árvores. Pouco depois, Noé soltou de novo a pomba, "mas ela já não regressou". O dilúvio estava terminado.
"Ao segundo mês, no vigésimo sétimo dia do mês, a terra secou." Noé estava com 601 anos. A provação durara um ano e dez dias.
Depois, Noé e todos os que estavam com ele na arca saíram. E ele construiu um altar e ofereceu sacrifícios de fogo à Divindade.
O "feliz final" está tão cheio de contradições como a própria história do dilúvio. Começa com uma longa acusação formal da humanidade por várias abominações, incluindo a degradação da pureza dos deuses mais jovens. Uma decisão grave, como foi a de fazer perecer toda a carne, é tomada e parece completamente justificada. Então, a mesma Deidade apressa-se nuns simples sete dias para se assegurar que a semente da humanidade e de outras criaturas não pereça. Quando o trauma termina, a Deidade é seduzida pelo odor da carne assada e, esquecendo sua determinação original de pôr fim à humanidade, anula todo o processo com uma desculpa, colocando a culpa dos maus desejos do homem em sua juventude.
Estas incômodas dúvidas sobre a veracidade da história dispersam-se, contudo, quando compreendemos que a narrativa bíblica é uma versão editada do relato original sumério. Como em outras circunstâncias, a Bíblia monoteísta comprimiu numa só divindade os papéis representados por vários deuses que nem sempre estavam de acordo.
A história bíblica do dilúvio era a única versão do acontecimento, apoiada apenas por mitologias primitivas fragmentadas de todo o mundo, até as descobertas arqueológicas da Mesopotâmia e a decifração da literatura acádia e suméria. A descoberta da "Epopéia da Criação" acádia colocou o conto do dilúvio do Gênesis em mais antiga e venerável companhia, mais adiante salientada pelas posteriores descobertas de textos e fragmentos mais antigos do original sumério.
O herói do relato do dilúvio mesopotâmico era Ziusudra, em sumério (Utnapishtim, em acádio), que depois do dilúvio foi levado para o domicílio celestial para aí viver feliz para todo o sempre. Quando, à procura da imortalidade, Gilgamesh finalmente alcançou o local, ele procurou o conselho de Utnapishtim sobre o tema da vida e da morte. Utnapishtim revelou a Gilgamesh, e por ele a toda a humanidade pós-diluviana, o segredo de sua sobrevivência, "um assunto oculto, um segredo dos deuses” - a verdadeira história (poderíamos dizê-lo) do grande dilúvio.
O segredo revelado por Utnapishtim era que, antes da fúria do dilúvio, os deuses reuniram-se em conselho e votaram a destruição da humanidade. O voto e a decisão foram mantidos em segredo. Mas Enki procurou
Utnapishtim, o governante de Shuruppak, para informá-lo da calamidade que se aproximava. Adotando métodos clandestinos, Enki falou a Utnapishtim por detrás de um painel de juncos. A princípio, suas revelações eram secretas. Depois seu aviso e conselho foram proferidos claramente:
Os paralelos com a história bíblica são óbvios. Um dilúvio aproxima-se; um homem é avisado com antecedência; ele deve salvar-se a si próprio preparando um barco especialmente construído; com ele deverá levar e salvar "a semente de todas as coisas vivas". Ainda assim, a versão babilônica é mais plausível. A decisão de destruir e o esforço para salvar não são atos contraditórios da mesma e única deidade, mas atos de diferentes pessoas divinas. Além disso, avisar com antecedência e salvar a semente do homem é o ato arrojado de um deus (Enki) agindo em segredo e contrariamente à decisão conjunta dos outros grandes deuses.
Por que se arriscou Enki desafiando os outros deuses? Estaria preocupado, unicamente, com a preservação de suas “maravilhosas obras de arte", ou terá ele agido contra o ambiente de rivalidade e hostilidades crescentes entre ele e seu irmão Enlil?
A existência de tal conflito entre os dois irmãos é bem esclarecida na história do dilúvio.
Utnapishtim colocou a Enki a questão óbvia: como podia ele, Utnapishtim, explicar aos outros cidadãos de Shuruppak a construção de um navio de tão estranha forma e o abandono de todas as riquezas? Enki aconselhou -o:
A desculpa seria que, sendo seguidor de Enki, Utnapishtim já não podia residir na Mesopotâmia e, por conseguinte, estava construindo um barco no qual tencionava navegar para o Mundo Inferior (África Meridional, de acordo com nossas descobertas) para morar com seu Senhor, Ea/Enki. Os versos que se seguem a este momento sugerem que a região sofria uma estiagem ou fome; Utnapishtim (a conselho de Enki) devia assegurar aos residentes da cidade que, se Enlil o visse partir, "a terra voltaria [de novo] a se encher dos bens da colheita". Esta desculpa fez sentido aos olhos dos outros residentes da cidade.
Assim iludida, a gente da cidade não questionou e até deu uma ajuda na construção da arca. Matando e servindo-lhes novilhos e carneiros "todos os dias" e prodigalizando-lhes "mosto, vinho tinto, azeite e vinho branco", Utnapishtim encorajou-os a trabalhar mais rapidamente. Até as crianças foram pressionadas no sentido de carregarem betume para impermeabilização.
"No sétimo dia, o barco estava pronto. O lançamento foi muito difícil, e por isso eles tiveram de mudar de lugar as pranchas de cima e de baixo, até dois terços da estrutura ter penetrado na água" do Eufrates. Então Utnapishtim pôs toda sua família e parentela a bordo do barco, levando também "tudo o que possuía de todas as criaturas vivas", assim como "os animais do campo, as feras selvagens do campo". Os paralelos com o conto bíblico - até o pormenor do prazo de sete dias para a construção são claros. Avançando um passo para além de Noé, Utnapishtim conseguiu, no entanto, introduzir no navio todos os artífices que o ajudaram na construção.
Ele próprio apenas deveria subir para bordo a um certo sinal, cuja natureza Enki lhe tinha também revelado: um "tempo determinado" a ser fixado por Shamash, a deidade a cargo da qual estavam os foguetes faiscantes. Esta foi a ordem de Enki:
Quando Shamash, que ordena um estremecimento ao crepúsculo, Fizer cair uma chuva de erupções - Sobe a bordo do barco, reforça a entrada.
Ficamos conjeturando a relação entre a decolagem de um foguete espacial por Shamash e a chegada do momento para Utnapishtim subir a bordo da sua arca e trancar-se em seu interior. Mas o momento chegou; o foguete espacial causou realmente um "estremecimento ao crepúsculo"; houve uma chuva de erupções. Utnapishtim "fechou todo o barco" e "entregou toda a estrutura e seu conteúdo" para "Puzur-Amurri, o Barqueiro".
A tempestade veio "com o primeiro raio da alvorada". Houve um medonho trovão. Uma nuvem negra elevou-se no horizonte. A tempestade despedaçou as colunas das construções e dos molhes; depois os diques cederam. Seguiu-se a escuridão, "transformando em negrura tudo o que fora luz"; e "a larga terra foi quebrada como um pote".
Durante seis dias e seis noites soprou a "tempestade sul".
A vontade de Enlil e da assembléia dos deuses fora cumprida.
Mas, desconhecido para eles, o plano de Enki tinha também dado resultado: flutuando em tempestuosas águas havia uma embarcação contendo homens, mulheres, crianças e outras criaturas vivas.
Com a tempestade terminada, Utnapishtim "abriu uma escotilha; a luz caiu sobre sua face". Olhou à volta; "a paisagem estava tão nivelada como um telhado plano". Inclinando-se profundamente, sentou-se e chorou, "lágrimas rolando pela minha face". Ele olhou procurando uma linha de costa na extensão do mar, e não viu nenhuma. Então:
Durante seis dias Utnapishtim vigiou através da arca imobilizada, presa nos picos do monte da Salvação, os picos bíblicos de Ararat. Depois, tal como Noé, enviou uma pomba à procura de um local de repouso, mas ela regressou. Uma andorinha largou vôo e veio de volta. Depois foi solto um corvo, e ele voou para longe, encontrando um local de repouso. Utnapishtim, nessa altura, libertou todas as aves e todos os animais que estavam com ele, e se encaminhou para o exterior. Construiu um altar "e ofereceu um sacrifício", tal como Noé fizera.
Mas aqui aparece, de novo, e inesperadamente, a diferença entre a única e as múltiplas deidades. Quando Noé ofereceu seu sacrifício de fogo, "Javé sentiu o tentador perfume"; mas quando foi a vez de Utnapishtim oferecer um sacrifício, "os deuses sentiram o aroma, os deuses sentiram o doce aroma. Os deuses juntaram-se como moscas sobre o sacrificado”.
Na versão do Gênesis, foi Javé quem fez o voto solene de nunca mais voltar a destruir a humanidade. Na versão da Babilônia, foi a grande deusa quem prometeu: "Eu não esquecerei... Lembrar-me-ei destes dias, nunca os olvidando".
Este não era, no entanto, o problema imediato. Quando Enlil, finalmente, apareceu em cena, não estava preocupado com alimento. Estava louco para descobrir se alguém sobrevivera. "Escapou algum ser vivo? Nenhum homem poderia ter sobrevivido à destruição!”
Ninurta, seu filho e herdeiro, apontou imediatamente um dedo suspeitoso para Enki. "Quem, além de Ea, pode arquitetar planos? Só Ea é o único que sabe de todos os assuntos." Longe de se furtar à acusação, Enki irrompeu num dos mais eloqüentes discursos de defesa jamais feitos. Elogiando Enlil por sua sabedoria e sugerindo que Enlil não podia com toda a certeza ser "irracional" - um realista - ele misturou negação com confissão. "Não fui eu quem revelou o segredo dos deuses"; "eu meramente deixei um homem, um homem 'excepcionalmente sensato', perceber por sua própria sabedoria de que se tratava o segredo dos deuses. E se de fato este terráqueo é tão sensato", sugeriu Enki a Enlil, "não ignoremos suas capacidades. Então, agora, tomem uma decisão a seu respeito!”
Tudo isto, relata a "Epopéia de Gilgamesh", era o "segredo dos deuses" que Utnapishtim contou a Gilgamesh. Ele informou então Gilgamesh do acontecimento final. Influenciado pelo argumento de Enki.
E Utnapishtim concluiu sua história a Gilgamesh. Depois de ter sido levado para residir nas Lonjuras, Anu e Enlil:
Mas o que aconteceu à humanidade em geral? O conto bíblico termina com uma afirmação segundo a qual a Divindade permitiu e deu a bênção à humanidade para "ser fecunda e multiplicar-se". As versões mesopotâmicas da história do dilúvio terminam também com versos que abordam a procriação do gênero humano. Os textos parcialmente mutilados falam do estabelecimento de "categorias" humanas:
Foram claramente estabelecidas novas diretrizes para as relações físicas:
Enlil fora vencido em tática. A humanidade fora salva e fora-lhe permitida a procriação. Os deuses franquearam a Terra ao gênero humano.
Fonte: O 12º. PLANETA - Zecharia Sitchin
Tradução de ANA PAULA CUNHA
DOWNLoad: http://versadus.com/Zecharia-Sitchin-O-12-Planeta-Nibiru.html
e o homem era demasiado primitivo para registrar qualquer informação concreta para as gerações vindouras. Se a humanidade retém, de qualquer modo, um sentido subconsciente que lhe diz que nesses dias dos primórdios o homem viveu através de uma era de tranqüilidade e felicidade, é simplesmente porque o homem não conhecia nada de melhor. E é também porque os contos dessa era foram primeiramente contados à humanidade, não pelos homens primitivos, mas pelos próprios Nefilim.
A única narração completa dos acontecimentos que sucederam ao homem após seu transporte para o domicílio dos deuses na Mesopotâmia é o conto bíblico de Adão e Eva no Jardim do Éden:
E a Divindade Javé plantou um pomar
No Éden, no leste;
E colocou lá o Adão
A quem Ele criara.
E a Divindade Javé
Fez nascer da terra
Todas as árvores que são agradáveis à vista
E boas para comer;
E a Árvore da Vida estava no pomar
E a Árvore da Sabedoria boa e má...
E a Divindade Javé tomou o Adão
E colocou-o no Jardim do Éden
Para trabalhá-lo e guardá-lo;
E a Divindade Javé
Ordenou ao Adão, dizendo-lhe:
De cada árvore do pomar comerás;
Mas da Árvore da Sabedoria boa e má,
Tu não comerás dela;
Porque no dia em que tu dela comeres, disso
Tu virás certamente a morrer.
Embora tivessem à disposição dois frutos vitais, os terráqueos estavam proibidos de tocar apenas no fruto da Árvore da Sabedoria. A divindade, nesta altura, parece não se preocupar com a possibilidade de o homem tentar alcançar o Fruto da Vida. Ainda assim, o homem não pôde respeitar nem sequer esta única proibição e seguiu-se a tragédia.
A paisagem idílica em breve cedeu lugar a dramáticos desenvolvimentos, a que os eruditos bíblicos e os teólogos chamam a "Queda do Homem". É um conto de ordens divinas desatendidas de mentiras divinas, de uma serpente velhaca (mas que diz a verdade), de castigo e exílio.
Aparecendo de lugar nenhum, a serpente desafiou os solenes avisos de Deus:
E a serpente... disse para a mulher:
A Divindade disse-te realmente
'Vós não comereis de nenhuma árvore do pomar’?
E a mulher disse para a serpente:
Dos frutos das árvores do pomar nós podemos comer;
É do fruto da árvore no meio do pomar
Que a Divindade disse:
'Vós não comereis dele, nem nela tocareis, ou morrereis'.
E a serpente disse para a mulher:
Não, com certeza vocês não morrerão;
É que a Divindade sabe
Que no dia em que dela vocês comerem,
Vossos olhos abrir-se-ão
E vocês serão como a Divindade -
Conhecendo o bem e o mal.
E a mulher viu que a árvore era boa para comer
E que era agradável de ser admirada;
E a árvore era desejável para fazer cada um sensato;
E ela tomou seu fruto e comeu,
E deu também a seu companheiro, e ele comeu com ela;
E os olhos de ambos foram abertos,
E eles perceberam que estavam nus;
E eles costuraram folhas de figueira,
E fizeram para si próprios, tangas.
A Divindade disse-te realmente
'Vós não comereis de nenhuma árvore do pomar’?
E a mulher disse para a serpente:
Dos frutos das árvores do pomar nós podemos comer;
É do fruto da árvore no meio do pomar
Que a Divindade disse:
'Vós não comereis dele, nem nela tocareis, ou morrereis'.
E a serpente disse para a mulher:
Não, com certeza vocês não morrerão;
É que a Divindade sabe
Que no dia em que dela vocês comerem,
Vossos olhos abrir-se-ão
E vocês serão como a Divindade -
Conhecendo o bem e o mal.
E a mulher viu que a árvore era boa para comer
E que era agradável de ser admirada;
E a árvore era desejável para fazer cada um sensato;
E ela tomou seu fruto e comeu,
E deu também a seu companheiro, e ele comeu com ela;
E os olhos de ambos foram abertos,
E eles perceberam que estavam nus;
E eles costuraram folhas de figueira,
E fizeram para si próprios, tangas.
Lendo e relendo o conciso e, ainda assim, preciso conto, não podemos evitar perguntar-nos qual a razão de todo o conflito. Proibidos sob ameaça de morte de tocar no Fruto da Sabedoria, os dois terráqueos foram persuadidos a avançar e comer o fruto que os tornaria "conhecedores" como a Divindade.
No entanto, tudo o que aconteceu foi uma súbita tomada de consciência de sua nudez.
O estado de nudez foi, de fato, um aspecto maior de todo o incidente. O conto bíblico de Adão e Eva no Jardim do Éden abre com a afirmação: "E ambos estavam nus, o Adão e sua companheira, e eles não se envergonhavam". Eles estavam, devemos perceber, em algum estágio inferior do desenvolvimento humano em relação aos humanos completamente desenvolvidos - não só estavam nus, como estavam também na total inconsciência das implicações de tal nudez.
Um exame posterior do conto bíblico sugere que seu tema é a consecução pelo homem de algum tipo de proeza sexual. A "sabedoria" retida aos olhos do homem não era uma informação científica, mas algo relacionado com o sexo masculino e feminino, porque, mal o homem e sua parceira adquiriram a "sabedoria", logo "perceberam que estavam nus" e cobriram seus órgãos sexuais.
A continuação da narrativa bíblica confirma a relação entre a nudez e a falta de conhecimento, porque a Divindade não levou muito tempo a juntar os dois:
E eles ouviram o som da Divindade JavéPasseando no pomar à brisa do dia,
E o Adão e sua companheira esconderam-se
Da Divindade Javé entre as árvores do pomar.
E a Divindade Javé chamou o Adão
E disse: "Onde estás?”
E ele respondeu:
O teu som eu ouvi no pomar e eu tive medo porque estou nu;
E escondi-me .
E Ele disse:
Quem te disse que estás nu?
Comeste tu da árvore,
Da qual eu te ordenei que não comesses?
E o Adão e sua companheira esconderam-se
Da Divindade Javé entre as árvores do pomar.
E a Divindade Javé chamou o Adão
E disse: "Onde estás?”
E ele respondeu:
O teu som eu ouvi no pomar e eu tive medo porque estou nu;
E escondi-me .
E Ele disse:
Quem te disse que estás nu?
Comeste tu da árvore,
Da qual eu te ordenei que não comesses?
Admitindo a verdade, o trabalhador primitivo culpou sua companheira feminina, que por sua vez deitou a culpa sobre a serpente. Tremendamente zangado, Deus lançou feitiços contra a serpente e os dois terráqueos. Então, surpreendentemente, "a Deidade Javé fez para Adão e sua mulher vestes de peles, e vestiu-os".
Não podemos julgar seriamente que o propósito de todo o incidente, que levou à expulsão dos terráqueos do Jardim do Éden, fosse um modo dramático de explicar como é que o homem passou a usar roupas. O uso de roupas foi meramente uma manifestação exterior da nova "sabedoria". A aquisição de tal "sabedoria" e as tentativas da Divindade em privar dela a humanidade são os temas centrais dos acontecimentos.
Enquanto não for ainda encontrada uma contraparte mesopotâmica para o conto bíblico, poucas dúvidas podem restar de que o conto - tal como todo o material bíblico referente à criação e à pré-história do homem - era de origem suméria. Temos o local: o domicílio dos deuses na Mesopotâmia. Temos o intrigante jogo de palavras com o nome de Eva (“ela da vida", "ela da costela"). E temos duas árvores vitais, a Árvore da Sabedoria e a Árvore da Vida, tal como na residência de Anu.
Até as palavras da Divindade acusam a origem suméria, porque só a deidade hebraica resvalou de novo para o plural, dirigindo-se a colegas divinos que foram imaginados não na Bíblia, mas nos textos sumérios:
Então a Divindade Javé disse:
Observem, Adão tornou-se um de nós,
Para conhecer o bem e o mal.
E agora não poderia ele estender a mão
E partilhar da Árvore da Vida,
E comer, e viver para sempre?
E a Divindade Javé expulsou o Adão
Do pomar do Éden.
Como mostram muitas remotas representações sumérias, houvera um tempo no qual o homem, o trabalhador primitivo, servira seus deuses completamente nu. Ele estava nu quer servisse aos deuses sua comida e bebida, quer labutasse nos campos ou nos trabalhos de construção.
A implicação clara é que o status do homem em face dos deuses não era muito diferente daquele dos animais domesticados. Os deuses tinham meramente elevado um animal já existente para preencher suas necessidades.
Teria, então, a falta de "sabedoria" significado que, nu como um animal, o ser remodelado se envolvia sexualmente como ou com os animais? Algumas antigas descrições pictóricas indicam que foi este realmente o caso.
Os textos sumérios, como a "Epopéia de Gilgamesh", sugerem que o modo como se processavam as relações físicas dá realmente conta de uma distinção entre o homem selvagem e o homem humano. Quando o povo de Uruk quis civilizar o selvagem Enkidu, "o indivíduo bárbaro das profundidades das estepes", eles recorreram aos serviços de uma "jovem do prazer" e enviaramna para se encontrar com Enkidu no fosso de água onde ele costumava conviver com animais vários e oferecer-lhe sua "maturidade”.
Parece, a partir do texto, que o momento decisivo no processo de "civilização" de Enkidu foi a rejeição dele pelos animais com os quais convivera. Era importante, disse o povo de Uruk à jovem, que ela
continuasse a tratá-lo como "tarefa de mulher" até que "suas bestas selvagens que cresciam nas estepes o rejeitassem". Porque era um pré-requisito para que Enkidu se tornasse humano, que ele se afastasse da sodomia.
A moça libertou suas bestas, desnudou seu peito,
E ele possuiu sua maturidade...
Ela o tratou, o selvagem,
Como uma tarefa de mulher.
Ele virou a face para suas feras; mas,
Ao verem-no, as gazelas fugiram.
As feras da estepe
Afastaram-se de seu corpo.
E ele possuiu sua maturidade...
Ela o tratou, o selvagem,
Como uma tarefa de mulher.
O estratagema deu resultados claros. Depois de seis dias e sete noites, "depois de estar cheio dos encantos dela", ele recordou seus antigos parceiros de entretenimento.
Ele virou a face para suas feras; mas,
Ao verem-no, as gazelas fugiram.
As feras da estepe
Afastaram-se de seu corpo.
O relato é explícito. As relações físicas humanas produziram uma mudança tão profunda em Enkidu que os animais com que ele convivera “se afastaram". Eles não fugiram simplesmente - eles esquivaram-se ao seu contato físico.
Atônito, Enkidu ficou imóvel por um instante, "porque suas feras partiram". Mas não se devia lamentar a mudança, como nos explica o antigo texto:
Agora ele tinha visão, conhecimento mais vasto...
A prostituta diz a Enkidu:
Tu és agora sabedor, Enkidu;
Tu estás transformando-se em deus!
A prostituta diz a Enkidu:
Tu és agora sabedor, Enkidu;
Tu estás transformando-se em deus!
Os vocábulos neste texto mesopotâmico são quase idênticos aos do conto bíblico de Adão e Eva. Como a serpente predissera, partilhando da Árvore da Sabedoria, eles tornaram-se, em assuntos sexuais, "como a divindade - conhecedores do bem e do mal".
Se isto apenas significava que o homem chegara ao reconhecimento de que ter relações físicas com animais era incivilizado ou mau, por que Adão e Eva foram punidos por abandonarem a sodomia? O Antigo Testamento está repleto de admoestações contra a sodomia, e é inconcebível que a aprendizagem de uma virtude causasse a ira divina.
A "sabedoria" que o homem obteve contra os desejos expressos da divindade - ou de uma das deidades - devia ter sido de mais profunda natureza. Era algo de bom para o homem, mas que os criadores não queriam que ele tivesse.
Temos de ler cuidadosamente nas entrelinhas da maldição lançada sobre Eva para apreender o significado do acontecimento:
E à mulher Ele disse:Eu multiplicarei muito teu sofrimento
Com tua gravidez.
Com dor darás à luz filhos,
Todavia, para teu companheiro será teu desejo...
E o Adão chamou à sua mulher "Eva”;
Porque ela era a mãe de todos os que viveram
Com tua gravidez.
Com dor darás à luz filhos,
Todavia, para teu companheiro será teu desejo...
E o Adão chamou à sua mulher "Eva”;
Porque ela era a mãe de todos os que viveram
Este é, de fato, o acontecimento momentoso que nos é transmitido no conto bíblico: enquanto a Adão e Eva faltou "sabedoria", eles viveram no Éden sem nenhuma descendência. Tendo obtido "sabedoria", Eva adquiriu a capacidade (e a dor) de engravidar e dar à luz crianças. Só depois de o casal ter adquir esta "sabedoria", "Adão conheceu Eva como mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim".
Ao longo do Antigo Testamento, o vocábulo "conhecer" é usado para denotar relações sexuais, na maior parte das vezes entre um homem e sua esposa com o propósito de ter filhos. O conto de Adão e Eva no Jardim do Éden é a história de um passo importante no desenvolvimento do homem - a aquisição da capacidade para procriar.
Não devia surpreender que os primeiros seres representativos do Homo sapiens fossem incapazes de se reproduzir. Qualquer que tenha sido o método usado pelos Nefilim para introduzir algum material genético na composição biológica dos hominídeos selecionados para tal fim, o novo ser era um híbrido, um cruzamento entre duas espécies diferentes, talvez relacionadas.
Tal como a mula (um cruzamento entre a égua e o burro), estes mamíferos híbridos são estéreis. Através da inseminação artificial e de métodos de engenharia biológica ainda mais sofisticados, pode-se produzir a quantidade de mulas que se desejar, mesmo sem haver verdadeiras relações físicas entre o burro e a égua, mas nenhuma mula pode procriar e dar à luz outra mula.
Estariam os Nefilim, a princípio, simplesmente produzindo "mulas humanas" para satisfazer suas necessidades?
Nossa curiosidade é aumentada por uma cena representada numa gravação de rocha encontrada nas montanhas do sul do Elam. Ela mostra uma deidade segurando um frasco de "laboratório" do qual correm líquidos, uma descrição comum de Enki. Uma grande deusa está sentada ao lado dele, numa pose que indica ser uma cooperadora, mais do que uma esposa; ela não podia ser outra senão Ninti, a deusa-mãe ou Deusa do Nascimento. Os dois são flanqueados por deuses inferiores, reminiscentes das deusas do nascimento dos contos e da criação. Encarando estes criadores do homem estão várias filas de seres humanos, cuja impressionante e comum característica é a semelhança física de uns com os outros, como se fossem produtos do mesmo molde.
Nossa atenção é também chamada de novo para o conto sumério dos machos e fêmeas imperfeitos inicialmente dados à luz por Enki e pela deusa-mãe, que eram seres assexuados ou sexualmente incompletos. Recordará este texto a primeira fase da existência do homem híbrido, um ser à imagem e semelhança dos deuses, mas sexualmente incompleto e ao qual faltava a "sabedoria"?
Depois de Enki ter conseguido produzir um "modelo perfeito" - Adapa/Adão -, são descritas nos textos sumérios técnicas de "produção em massa".
Tratava-se da implantação de óvulos geneticamente tratados numa "linha de montagem" de deusas do nascimento com o conhecimento prévio de que metade dessas deusas produziriam machos, e a outra metade, fêmeas. Isto não só revela a técnica pela qual o homem híbrido foi "fabricado", como implica também que o homem não podia por si só procriar.
A impotência dos híbridos em procriar, descobriu-se recentemente, deriva de uma deficiência nas células reprodutoras. Enquanto todas as células contêm apenas um conjunto de cromossomos hereditários, o homem e outros mamíferos são capazes de produção porque suas células sexuais (o esperma masculino e o óvulo feminino) contêm dois conjuntos. Mas este padrão único não se encontra nos seres híbridos. Atualmente são feitas tentativas através da engenharia genética no sentido de prover os híbridos com esse conjunto duplo de cromossomos em suas células reprodutoras, tornando-os sexualmente "normais".
Terá sido isso o que o deus, cujo epíteto era "A Serpente", trouxe ao gênero humano?
A serpente bíblica não era, com certeza, uma mera e literal cobra, uma vez que podia conversar com Eva, conhecia a verdade acerca do assunto da "sabedoria" e mantinha uma posição hierárquica tão elevada que podia, sem hesitar, apresentar a divindade como mentirosa. Lembramos que nas antigas tradições, a divindade principal lutou com um adversário serpente, um conto cujas raízes remontam, indubitavelmente, aos deuses sumérios.
O conto bíblico revela muitos traços de origem suméria, incluindo a presença de outras divindades: "O Adão tornou-se como um de nós". A possibilidade dos antagonistas bíblicos - a divindade e a serpente - terem representado Enlil e Enki parece-nos inteiramente plausível.
Seu antagonismo, como descobrimos, teve origem na transferência de Enlil para o comando da Terra, embora Enki fosse o verdadeiro pioneiro.
Enquanto Enlil ficava no confortável Centro de Controle da Missão em Nippur, Enki era enviado para organizar as operações mineiras no Mundo Inferior. O motim dos Anunnaki foi dirigido contra Enlil e seu filho Ninurta, e o deus que falou em nome dos amotinados foi Enki. Enki sugeriu e empreendeu a criação de trabalhadores primitivos. Enlil teve de recorrer à força para obter algumas destas maravilhosas criaturas. Como registram os textos sumérios do decurso dos acontecimentos humanos, Enki geralmente aparece como protagonista da humanidade e Enlil como seu severo disciplinador, senão seu antagonista direto. O papel de uma divindade que deseja manter os novos humanos sexualmente oprimidos e o de uma divindade desejosa e capaz de conceder ao homem o fruto da "sabedoria" se ajustam perfeitamente a Enlil e a Enki.
Uma vez mais, os jogos de palavras sumérias e bíblicas vêm em nossa ajuda.
O termo bíblico para "serpente" é nahash, que significa realmente "cobra".
Mas o termo deriva da raiz NHSH, que significa "decifrar, descobrir", e, assim, nahash podia também significar "ele que pode decifrar, ele que descobre coisas", um epíteto adequado a Enki, o cientista-chefe, o Deus da Sabedoria dos Nefilim.
Estabelecendo paralelos entre o conto mesopotâmico de Adapa (que obteve "sabedoria", mas não alcançou a vida eterna) e o destino de Adão, S. Langdon (Semitic Mythology) reproduziu uma descrição desenterrada na Mesopotâmia que sugere fortemente esse conto bíblico - uma serpente enlaçada numa árvore, apontando para o seu fruto. Os símbolos celestes são significativos: lá bem em cima está o planeta da Travessia, que representa Anu; próximo da serpente está o crescente lunar, representando Enki.
Muito pertinente para nossas descobertas é o fato de, nos textos mesopotâmicos, o deus que finalmente legou "sabedoria" a Adapa não ser outro senão Enki:
Larga compreensão ele aperfeiçoou para ele...
Sensatez [ele lhe dera]...
A ele, dera Sabedoria;
A vida eterna não lhe tinha ele dado.
Sensatez [ele lhe dera]...
A ele, dera Sabedoria;
A vida eterna não lhe tinha ele dado.
Um conto ilustrado gravado num selo cilíndrico encontrado em Mari pode bem ser uma antiga ilustração da versão mesopotâmica do conto do Gênesis.
A gravação mostra um grande deus sentado num terreno alto elevando-se de ondas de água, uma descrição óbvia de Enki. Serpentes jorrando água destacam-se de cada lado deste "trono".
Ladeando esta figura central estão três deuses que se assemelham a árvores.
Aquele que está à direita, cujos ramos têm extremidades em forma de pênis, segura um recipiente onde possivelmente está contido o Fruto da Vida. O da esquerda, cujos ramos têm extremidades em forma de vagina, oferece ramos frutíferos e representa a Árvore da "Sabedoria", dádiva dos deuses da procriação.
Ao lado há ainda um outro grande deus - nossa sugestão é que se trata de Enlil. Sua raiva contra Enki é por demais evidente.
Nunca saberemos o que ocasionou este "conflito" no Jardim do Éden, mas quaisquer que fossem os motivos de Enki, o fato é que ele conseguiu aperfeiçoar o trabalhador primitivo e criou o Homo sapiens, que podia produzir sua própria descendência.
Depois que o homem adquiriu a "sabedoria", o Antigo Testamento cessa de se referir a ele como "o Adão" e adota como sujeito Adão, uma pessoa específica, o primeiro patriarca da linha do povo com o qual se preocuparia a Bíblia. Mas este amadurecimento da humanidade marcou igualmente um cisma entre Deus e o homem.
A separação dos caminhos, o homem aparecendo já não como um servo mudo dos deuses, mas como uma pessoa agindo por si mesma, é descrita no livro do Gênesis não como uma decisão tomada pelo próprio homem, mas como a imposição de um castigo pela Divindade: para que o terráqueo não adquira também a capacidade de escapar à mortalidade, ele será expulso do Jardim do Éden. De acordo com estas fontes, a existência independente do homem começou não no sul da Mesopotâmia, onde os Nefilim estabeleceram suas cidades e pomares, mas sim a leste, nos montes Zagros: "E Ele retirou o Adão e fê-lo residir a leste do Jardim do Éden".
Uma vez mais, então, a informação bíblica confirma as descobertas científicas: a cultura humana começou nas regiões montanhosas fronteiriças à planície mesopotâmica. Que pena ser a narrativa bíblica tão breve, uma vez que se trata aqui daquilo que foi a primeira vida civilizada do homem na Terra!
Expulso do domicílio dos deuses, condenado a uma vida mortal, mas capaz de procriar, o homem continuou a fazer exatamente isso. O primeiro Adão, com cujas gerações se preocupou a Bíblia, "conheceu" sua mulher Eva, e ela deu-lhe um filho, Caim, que arou a terra. Então, Eva deu à luz Abel, que foi pastor. Insinuando como motivo a homossexualidade, a Bíblia relata que "Caim lançou-se sobre seu irmão Abel e matou-o".
Temendo por sua vida, a deidade deu a Caim um sinal protetor, ao mesmo tempo que lhe ordenava que se mudasse mais para leste. Levando a princípio uma vida de nômade, Caim finalmente estabeleceu-se na "Terra de Migração, bem a oriente do Éden". Aí teve um filho a quem chamou Enoc ("inauguração"), "e ele construiu uma cidade, e deu à cidade o nome de seu filho". Enoc, por sua vez, teve filhos e netos e bisnetos. Na sexta geração depois de Caim, nasceu Lamec. A Bíblia atribui a seus três filhos a condução da civilização: Jabal "era o pai daqueles que residem em tendas e têm gado"; Jubal "era o pai de todos os que tocam a lira e a harpa"; Tubal-Caim foi o primeiro ferreiro.
Mas também Lamec, como seu antecessor Caim, se envolveu em assassínios, desta vez de um homem e de uma criança. Não erraremos se julgarmos que as vítimas não eram uns humildes estranhos, uma vez que o livro do Gênesis se demora sobre o incidente e o considera um momento decisivo na linhagem de Adão. A Bíblia declara que Lamec reuniu suas duas mulheres, mães de seus três filhos, e confessou perante elas o duplo crime, declarando: "Se Caim foi sete vezes vingado, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete”. Esta afirmação, pouco entendida pelos estudiosos, deve ser entendida como relacionada ao problema da sucessão; consideramos isto como uma confissão de Lamec para suas mulheres, que a esperança de que a maldição sobre Caim pudesse ser redimida na sétima geração (a geração de seus filhos) não deu em nada. Agora, uma nova maldição, muito mais longa, fora imposta à casa de Lamec.
Confirmando que o acontecimento dizia respeito à linha de sucessão, os versículos seguintes informam-nos do imediato estabelecimento de uma nova e pura linhagem:
E Adão conheceu de novo sua mulher
E ela deu à luz um filho e chamou-lhe Set ["alicerce"]
Porque a divindade criou para mim
Outra semente em lugar de Abel, a quem Caim matou
E ela deu à luz um filho e chamou-lhe Set ["alicerce"]
Porque a divindade criou para mim
Outra semente em lugar de Abel, a quem Caim matou
Neste ponto, o Antigo Testamento perde todo o interesse na linha maculada de Caim e Lamec. A continuação dos eventos humanos firma-se, assim, a partir daqui, sobre a linhagem de Adão através de seu filho Set e do primogênito deste, Enos, cujo nome adquiriu em hebraico a conotação genérica de "ser humano". "Foi então", diz-nos o Gênesis, "que se começou a invocar o nome da Divindade.”
Esta enigmática afirmação confundiu os estudiosos bíblicos e os teólogos ao longo dos anos. Ela é seguida por um capítulo que fornece a genealogia de Adão através de Set e Enos durante dez gerações, finalizando com Noé, o herói do dilúvio.
Os textos sumérios, que descrevem os remotos estágios em que os deuses estavam sozinhos na Suméria, descrevem com igual precisão a vida dos humanos na Suméria num tempo posterior, mas antecedente do dilúvio.
A história suméria (e original) do dilúvio conhece seu "Noé" como o "Homem de Shuruppak", a sétima cidade estabelecida pelos Nefilim quando aterrissaram no planeta Terra.
Então, em alguma época da história, os seres humanos, banidos do Éden, obtiveram permissão para regressar à Mesopotâmia, para viver ao lado dos deuses, para os servir e adorar. Tal como interpretamos a afirmação bíblica, isto aconteceu nos dias de Enos. Foi então que os deuses permitiram à humanidade o regresso à Mesopotâmia, para servir os deuses “e invocar o nome da divindade”.
Ansioso por chegar ao próximo acontecimento épico da saga humana, o dilúvio, o livro do Gênesis fornece pouca informação além dos nomes dos patriarcas que sucederam a Enos. Mas o significado do nome de cada patriarca pode sugerir os acontecimentos que tiveram lugar durante seu período de vida.
O filho de Enos através de quem se continuou a linhagem pura foi Cainam ("pequeno Caim"); alguns estudiosos tomam o nome para significar "ferreiro". O filho de Cainan era Malaleel ("orador de deus"). A ele se seguiu Jered ("ele que descendeu"); e seu filho foi Henoc ("o consagrado"), que com 365 anos, foi levado para as alturas pela divindade. Mas, trezentos anos antes, com 65 anos, Henoc tivera um filho chamado Matusalém; muitos estudiosos, seguindo Lettia D. Jeffreys (Ancient Hebrew Names: Their Significance and Historical Value) [Antigos Nomes Hebraicos: Sua Significação e Valor Histórico], traduzem Matusalém como “homem do míssil".
O filho de Matusalém chamava-se Lamec, significando "ele que foi humilhado". E Lamec teve Noé ("descanso"), dizendo: "Que este nos conforte em nosso trabalho e no sofrimento de nossas mãos na terra que a divindade amaldiçoou".
A humanidade, ao que parece, passava grandes privações à altura do nascimento de Noé. O trabalho árduo e a fadiga não a levavam a parte alguma, uma vez que a terra, que os devia sustentar, estava amaldiçoada.
Estava armado o cenário para o dilúvio, o momentoso evento que iria varrer da face da Terra não só a raça humana, mas toda a vida da terra e dos céus.
E a Divindade viu que a perversidade do homem
Era grande na Terra,
E que cada desejo dos pensamentos em seu coração
Era apenas maldade em cada dia.
E a Divindade arrependeu-se de ter feito o homem
Sobre a Terra, e seu coração entristeceu.
E a Divindade disse:
Era grande na Terra,
E que cada desejo dos pensamentos em seu coração
Era apenas maldade em cada dia.
E a Divindade arrependeu-se de ter feito o homem
Sobre a Terra, e seu coração entristeceu.
E a Divindade disse:
Eu eliminarei da face da Terra
Os terráqueos a quem criei.
Os terráqueos a quem criei.
Estas acusações categóricas são apresentadas como justificativas para as drásticas medidas de "acabar com toda a carne". Mas as citadas acusações são pouco específicas, e estudiosos e teólogos não encontram respostas satisfatórias referentes aos pecados ou "violações" que tanto aborreceram a Divindade.
O uso repetido do termo carne, tanto nos versículos de acusação, como nas proclamações de julgamento, sugere, é claro, que as corrupções e as violações relacionavam-se com a carne. A Deidade preocupava-se com o perverso "desejo dos pensamentos do homem". O homem, podia parecer, tendo descoberto o sexo, tornara-se maníaco sexual.
Mas só muito dificilmente podemos aceitar que a Divindade decidisse varrer a humanidade da face da terra simplesmente porque os homens faziam demasiadas vezes amor com suas mulheres. Os textos mesopotâmicos falam livremente e eloqüentemente de sexo e amor entre os deuses e suas consortes, de amores ilícitos entre uma donzela e seu amante, de amor violento (como no caso de violação de Ninlil por Enlil). Há uma profusão de textos descrevendo o ato amoroso e a própria relação física entre os deuses, com suas consortes oficiais ou com concubinas não oficiais, com suas irmãs e filhas e até netas (fazer amor com estas últimas era o passatempo favorito de Enki). Tais deuses não podiam, com toda a justiça, voltar-se contra a humanidade por esta se comportar como eles próprios o faziam.
O verdadeiro motivo da Divindade não era mera preocupação com a moralidade humana. A repugnância avassaladora era causada por uma propagada degradação dos próprios deuses. Visto sob esta luz, torna-se claro o significado dos desconcertantes versículos de abertura do capítulo VI do Gênesis:
E assim aconteceu,
Quando os terráqueos começaram a aumentar em número
Sobre a face da Terra,
E lhes nasceram filhas entre eles,Os filhos das deidades
Viram as filhas dos terráqueos
E elas eram compatíveis,
E eles levaram para eles próprios
Esposas de todas as que escolheram.
Quando os terráqueos começaram a aumentar em número
Sobre a face da Terra,
E lhes nasceram filhas entre eles,Os filhos das deidades
Viram as filhas dos terráqueos
E elas eram compatíveis,
E eles levaram para eles próprios
Esposas de todas as que escolheram.
Como esclarecem estes versículos, foi nessa altura, quando os filhos dos deuses começaram a envolver-se sexualmente com a descendência dos terráqueos, que a Divindade gritou: "Basta!”
E a Divindade disse:
O meu espírito não protegerá o homem para sempre;
Tendo-se extraviado, ele é apenas carne.
O meu espírito não protegerá o homem para sempre;
Tendo-se extraviado, ele é apenas carne.
Esta afirmação permaneceu enigmática durante milênios. Lida à luz de nossas conclusões referentes à manipulação genética na criação do homem, os versículos encerram uma mensagem para nossos próprios cientistas. O "espírito" dos deuses - a perfeição genética da humanidade - começava a deteriorar-se. O gênero humano extraviara-se, voltando assim a ser “apenas carne", mais próximo de suas origens animais simiescas.
Podemos agora compreender a ênfase colocada no Antigo Testamento na distinção entre Noé, um "homem íntegro... puro em suas genealogias" e "a terra inteira que estava corrompida". Contraindo matrimônio com homens e mulheres de pureza genética decrescente, os deuses sujeitavam-se também à deterioração. Salientando que apenas Noé continuava a ser geneticamente puro, o conto bíblico justifica a contradição da Divindade. Tendo decidido eliminar toda a vida da face da terra, resolveu salvar Noé, seus descendentes e "todos os animais limpos" e outras feras e aves "para manter vivas sobre a face de toda a terra".
O plano da Divindade para anular seu objetivo inicial consistia em alertar Noé da catástrofe que se avizinhava e orientá-lo na construção de uma arca capaz de se manter na água, arca esta que levaria as pessoas e as criaturas que se pretendia salvar. A notícia foi dada a Noé sete dias apenas antes do início da catástrofe. De um modo ou de outro, ele conseguiu construir a arca e impermeabilizá-la, juntar todos os seres e colocá-los e à sua família a bordo e ainda abastecer a arca de provisões no tempo concedido. "E assim aconteceu, depois dos sete dias, que as águas do dilúvio estavam sobre a terra." O que veio a acontecer está mais bem descrito nas próprias palavras da Bíblia:
Naquele dia,
Todas as nascentes do grande abismo se abriram jorrando,
E os diques do céu foram abertos...
E o dilúvio esteve quarenta dias sobre a terra,
E as águas aumentaram e levantaram a arca,
E ela foi elevada acima da terra.
E as águas tornaram-se mais fortes
E aumentaram muitíssimo sobre a terra
E a arca flutuou sobre as águas.
E as águas tornaram-se excessivamente fortes sobre a terra
E todas as altas montanhas foram cobertas.
Aquelas que estão sob todos os céus:
Quinze cúbitos acima delas se manteve a água,
E as montanhas foram cobertas.
E toda a carne pereceu...
O homem e o gado e os seres rastejantes
E as aves dos céus
Foram riscados da superfície da terra;
E apenas Noé foi deixado,
E aqueles que estavam com ele na arca.
As águas mantiveram-se sobre a terra 150 dias, até que a Divindade:
Fez com que um vento passasse sobre a terra,
E as águas foram acalmadas.
E as nascentes do abismo foram represadas,
Como o foram os diques do céu;
E a chuva dos céus foi presa.
E as águas começaram a recuar sobre a superfície da terra,
Indo e vindo.
Depois de 150 dias, as águas eram menos;
E a arca descansou nos montes de Ararat.
Depois de 150 dias, as águas eram menos;
E a arca descansou nos montes de Ararat.
De acordo com a versão bíblica, a provação da humanidade começou "no ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, no décimo sétimo dia do mês". A arca permaneceu nos montes de Ararat "no sétimo mês, no décimo sétimo dia do mês". A subida das águas e seu gradual "recuo", suficiente para baixar o nível da água e fazer a arca descansar nos picos de Ararat, durou, então, cinco meses completos. Então "as águas continuaram a diminuir, até que os picos das montanhas" - e não apenas os dos imponentes Ararat - "puderam ser vistos no décimo primeiro dia do décimo mês", quase três meses depois.
Noé esperou mais quarenta dias. Então ele enviou um corvo e uma pomba "para ver se as águas diminuíram na superfície da terra". À terceira tentativa, a pomba voltou segurando no bico uma folha de oliveira, indicando que as águas regrediram o suficiente para permitir que se vissem as copas das árvores. Pouco depois, Noé soltou de novo a pomba, "mas ela já não regressou". O dilúvio estava terminado.
E Noé retirou a coberta da arca
E olhou, e observou:
A superfície da terra estava sec
E olhou, e observou:
A superfície da terra estava sec
"Ao segundo mês, no vigésimo sétimo dia do mês, a terra secou." Noé estava com 601 anos. A provação durara um ano e dez dias.
Depois, Noé e todos os que estavam com ele na arca saíram. E ele construiu um altar e ofereceu sacrifícios de fogo à Divindade.
E a Divindade sentiu o tentador perfume
E disse em seu coração:
Não mais amaldiçoarei a terra seca
Por causa dos terráqueos;
Porque o desejo de seu coração é mau desde a juventude.
E disse em seu coração:
Não mais amaldiçoarei a terra seca
Por causa dos terráqueos;
Porque o desejo de seu coração é mau desde a juventude.
O "feliz final" está tão cheio de contradições como a própria história do dilúvio. Começa com uma longa acusação formal da humanidade por várias abominações, incluindo a degradação da pureza dos deuses mais jovens. Uma decisão grave, como foi a de fazer perecer toda a carne, é tomada e parece completamente justificada. Então, a mesma Deidade apressa-se nuns simples sete dias para se assegurar que a semente da humanidade e de outras criaturas não pereça. Quando o trauma termina, a Deidade é seduzida pelo odor da carne assada e, esquecendo sua determinação original de pôr fim à humanidade, anula todo o processo com uma desculpa, colocando a culpa dos maus desejos do homem em sua juventude.
Estas incômodas dúvidas sobre a veracidade da história dispersam-se, contudo, quando compreendemos que a narrativa bíblica é uma versão editada do relato original sumério. Como em outras circunstâncias, a Bíblia monoteísta comprimiu numa só divindade os papéis representados por vários deuses que nem sempre estavam de acordo.
A história bíblica do dilúvio era a única versão do acontecimento, apoiada apenas por mitologias primitivas fragmentadas de todo o mundo, até as descobertas arqueológicas da Mesopotâmia e a decifração da literatura acádia e suméria. A descoberta da "Epopéia da Criação" acádia colocou o conto do dilúvio do Gênesis em mais antiga e venerável companhia, mais adiante salientada pelas posteriores descobertas de textos e fragmentos mais antigos do original sumério.
O herói do relato do dilúvio mesopotâmico era Ziusudra, em sumério (Utnapishtim, em acádio), que depois do dilúvio foi levado para o domicílio celestial para aí viver feliz para todo o sempre. Quando, à procura da imortalidade, Gilgamesh finalmente alcançou o local, ele procurou o conselho de Utnapishtim sobre o tema da vida e da morte. Utnapishtim revelou a Gilgamesh, e por ele a toda a humanidade pós-diluviana, o segredo de sua sobrevivência, "um assunto oculto, um segredo dos deuses” - a verdadeira história (poderíamos dizê-lo) do grande dilúvio.
O segredo revelado por Utnapishtim era que, antes da fúria do dilúvio, os deuses reuniram-se em conselho e votaram a destruição da humanidade. O voto e a decisão foram mantidos em segredo. Mas Enki procurou
Utnapishtim, o governante de Shuruppak, para informá-lo da calamidade que se aproximava. Adotando métodos clandestinos, Enki falou a Utnapishtim por detrás de um painel de juncos. A princípio, suas revelações eram secretas. Depois seu aviso e conselho foram proferidos claramente:
Homem de Shuruppak, filho de Ubar-Tutu:
Desfaz em pedaços a casa, constrói um barco!
Desiste das riquezas, procura vida!
Abandona os haveres, mantém viva a alma!
A bordo do barco tu levarás a semente de todas as coisas vivas;
O barco que tu construíres –
Suas dimensões serão sob medida
Desfaz em pedaços a casa, constrói um barco!
Desiste das riquezas, procura vida!
Abandona os haveres, mantém viva a alma!
A bordo do barco tu levarás a semente de todas as coisas vivas;
O barco que tu construíres –
Suas dimensões serão sob medida
Os paralelos com a história bíblica são óbvios. Um dilúvio aproxima-se; um homem é avisado com antecedência; ele deve salvar-se a si próprio preparando um barco especialmente construído; com ele deverá levar e salvar "a semente de todas as coisas vivas". Ainda assim, a versão babilônica é mais plausível. A decisão de destruir e o esforço para salvar não são atos contraditórios da mesma e única deidade, mas atos de diferentes pessoas divinas. Além disso, avisar com antecedência e salvar a semente do homem é o ato arrojado de um deus (Enki) agindo em segredo e contrariamente à decisão conjunta dos outros grandes deuses.
Por que se arriscou Enki desafiando os outros deuses? Estaria preocupado, unicamente, com a preservação de suas “maravilhosas obras de arte", ou terá ele agido contra o ambiente de rivalidade e hostilidades crescentes entre ele e seu irmão Enlil?
A existência de tal conflito entre os dois irmãos é bem esclarecida na história do dilúvio.
Utnapishtim colocou a Enki a questão óbvia: como podia ele, Utnapishtim, explicar aos outros cidadãos de Shuruppak a construção de um navio de tão estranha forma e o abandono de todas as riquezas? Enki aconselhou -o:
Tu falarás assim para eles:
Soube que Enlil me hostiliza,
De modo que não posso residir em vossa cidade,
Nem colocar meu pé no território de Enlil.
Assim, ao Apsu eu descerei,
Para residir com meu Senhor Ea.
Assim, ao Apsu eu descerei,
Para residir com meu Senhor Ea.
A desculpa seria que, sendo seguidor de Enki, Utnapishtim já não podia residir na Mesopotâmia e, por conseguinte, estava construindo um barco no qual tencionava navegar para o Mundo Inferior (África Meridional, de acordo com nossas descobertas) para morar com seu Senhor, Ea/Enki. Os versos que se seguem a este momento sugerem que a região sofria uma estiagem ou fome; Utnapishtim (a conselho de Enki) devia assegurar aos residentes da cidade que, se Enlil o visse partir, "a terra voltaria [de novo] a se encher dos bens da colheita". Esta desculpa fez sentido aos olhos dos outros residentes da cidade.
Assim iludida, a gente da cidade não questionou e até deu uma ajuda na construção da arca. Matando e servindo-lhes novilhos e carneiros "todos os dias" e prodigalizando-lhes "mosto, vinho tinto, azeite e vinho branco", Utnapishtim encorajou-os a trabalhar mais rapidamente. Até as crianças foram pressionadas no sentido de carregarem betume para impermeabilização.
"No sétimo dia, o barco estava pronto. O lançamento foi muito difícil, e por isso eles tiveram de mudar de lugar as pranchas de cima e de baixo, até dois terços da estrutura ter penetrado na água" do Eufrates. Então Utnapishtim pôs toda sua família e parentela a bordo do barco, levando também "tudo o que possuía de todas as criaturas vivas", assim como "os animais do campo, as feras selvagens do campo". Os paralelos com o conto bíblico - até o pormenor do prazo de sete dias para a construção são claros. Avançando um passo para além de Noé, Utnapishtim conseguiu, no entanto, introduzir no navio todos os artífices que o ajudaram na construção.
Ele próprio apenas deveria subir para bordo a um certo sinal, cuja natureza Enki lhe tinha também revelado: um "tempo determinado" a ser fixado por Shamash, a deidade a cargo da qual estavam os foguetes faiscantes. Esta foi a ordem de Enki:
Quando Shamash, que ordena um estremecimento ao crepúsculo, Fizer cair uma chuva de erupções - Sobe a bordo do barco, reforça a entrada.
Ficamos conjeturando a relação entre a decolagem de um foguete espacial por Shamash e a chegada do momento para Utnapishtim subir a bordo da sua arca e trancar-se em seu interior. Mas o momento chegou; o foguete espacial causou realmente um "estremecimento ao crepúsculo"; houve uma chuva de erupções. Utnapishtim "fechou todo o barco" e "entregou toda a estrutura e seu conteúdo" para "Puzur-Amurri, o Barqueiro".
A tempestade veio "com o primeiro raio da alvorada". Houve um medonho trovão. Uma nuvem negra elevou-se no horizonte. A tempestade despedaçou as colunas das construções e dos molhes; depois os diques cederam. Seguiu-se a escuridão, "transformando em negrura tudo o que fora luz"; e "a larga terra foi quebrada como um pote".
Durante seis dias e seis noites soprou a "tempestade sul".
Reunindo velocidade enquanto soprava,
Submergindo as montanhas,
Surpreendendo o povo como uma batalha...
Quando o sétimo dia chegou,
A tempestade sul trazendo a inundação
Amainou a batalha
Que travara como um exército.
O mar aquietou-se,
A tempestade quedou-se,
A inundação cessou.
Eu olhei para o tempo.
A tranqüilidade reaparecera.
E toda a humanidade regressara à argila.
Submergindo as montanhas,
Surpreendendo o povo como uma batalha...
Quando o sétimo dia chegou,
A tempestade sul trazendo a inundação
Amainou a batalha
Que travara como um exército.
O mar aquietou-se,
A tempestade quedou-se,
A inundação cessou.
Eu olhei para o tempo.
A tranqüilidade reaparecera.
E toda a humanidade regressara à argila.
A vontade de Enlil e da assembléia dos deuses fora cumprida.
Mas, desconhecido para eles, o plano de Enki tinha também dado resultado: flutuando em tempestuosas águas havia uma embarcação contendo homens, mulheres, crianças e outras criaturas vivas.
Com a tempestade terminada, Utnapishtim "abriu uma escotilha; a luz caiu sobre sua face". Olhou à volta; "a paisagem estava tão nivelada como um telhado plano". Inclinando-se profundamente, sentou-se e chorou, "lágrimas rolando pela minha face". Ele olhou procurando uma linha de costa na extensão do mar, e não viu nenhuma. Então:
Aí emergiu uma região montanhosa;
No monte da Salvação, o barco fez uma paragem;
O monte Nisir ("salvação") reteve o barco,
Não permitindo o movimento.
No monte da Salvação, o barco fez uma paragem;
O monte Nisir ("salvação") reteve o barco,
Não permitindo o movimento.
Durante seis dias Utnapishtim vigiou através da arca imobilizada, presa nos picos do monte da Salvação, os picos bíblicos de Ararat. Depois, tal como Noé, enviou uma pomba à procura de um local de repouso, mas ela regressou. Uma andorinha largou vôo e veio de volta. Depois foi solto um corvo, e ele voou para longe, encontrando um local de repouso. Utnapishtim, nessa altura, libertou todas as aves e todos os animais que estavam com ele, e se encaminhou para o exterior. Construiu um altar "e ofereceu um sacrifício", tal como Noé fizera.
Mas aqui aparece, de novo, e inesperadamente, a diferença entre a única e as múltiplas deidades. Quando Noé ofereceu seu sacrifício de fogo, "Javé sentiu o tentador perfume"; mas quando foi a vez de Utnapishtim oferecer um sacrifício, "os deuses sentiram o aroma, os deuses sentiram o doce aroma. Os deuses juntaram-se como moscas sobre o sacrificado”.
Na versão do Gênesis, foi Javé quem fez o voto solene de nunca mais voltar a destruir a humanidade. Na versão da Babilônia, foi a grande deusa quem prometeu: "Eu não esquecerei... Lembrar-me-ei destes dias, nunca os olvidando".
Este não era, no entanto, o problema imediato. Quando Enlil, finalmente, apareceu em cena, não estava preocupado com alimento. Estava louco para descobrir se alguém sobrevivera. "Escapou algum ser vivo? Nenhum homem poderia ter sobrevivido à destruição!”
Ninurta, seu filho e herdeiro, apontou imediatamente um dedo suspeitoso para Enki. "Quem, além de Ea, pode arquitetar planos? Só Ea é o único que sabe de todos os assuntos." Longe de se furtar à acusação, Enki irrompeu num dos mais eloqüentes discursos de defesa jamais feitos. Elogiando Enlil por sua sabedoria e sugerindo que Enlil não podia com toda a certeza ser "irracional" - um realista - ele misturou negação com confissão. "Não fui eu quem revelou o segredo dos deuses"; "eu meramente deixei um homem, um homem 'excepcionalmente sensato', perceber por sua própria sabedoria de que se tratava o segredo dos deuses. E se de fato este terráqueo é tão sensato", sugeriu Enki a Enlil, "não ignoremos suas capacidades. Então, agora, tomem uma decisão a seu respeito!”
Tudo isto, relata a "Epopéia de Gilgamesh", era o "segredo dos deuses" que Utnapishtim contou a Gilgamesh. Ele informou então Gilgamesh do acontecimento final. Influenciado pelo argumento de Enki.
Enlil, em conseqüência, foi a bordo do navio.
Pegando-me pela mão, levou-me a bordo,
Ele levou minha mulher a bordo, fê-la ajoelhar-se a meu lado.
De pé, à nossa frente, ele tocou nossas frontes para nos abençoar:
Até aqui Utnapishtim não foi senão humano;
A partir daqui Utnapishtim e sua mulher
Estarão entre nós como deuses.
Utnapishtim residirá nas Lonjuras,
Na Boca das Águas!
A partir daqui Utnapishtim e sua mulher
Estarão entre nós como deuses.
Utnapishtim residirá nas Lonjuras,
Na Boca das Águas!
E Utnapishtim concluiu sua história a Gilgamesh. Depois de ter sido levado para residir nas Lonjuras, Anu e Enlil:
Deram-lhe vida, como a um deus,
Elevaram-no à vida eterna, como a um deus.
Elevaram-no à vida eterna, como a um deus.
Mas o que aconteceu à humanidade em geral? O conto bíblico termina com uma afirmação segundo a qual a Divindade permitiu e deu a bênção à humanidade para "ser fecunda e multiplicar-se". As versões mesopotâmicas da história do dilúvio terminam também com versos que abordam a procriação do gênero humano. Os textos parcialmente mutilados falam do estabelecimento de "categorias" humanas:
...Que haja uma terceira categoria entre os homens:
Que haja entre os humanos
Mulheres que concebem, e mulheres que não concebem.
Foram claramente estabelecidas novas diretrizes para as relações físicas:
Regras para a raça humana:
Que os homens... às virgens...
Que as donzelas...
Que os mancebos às virgens...
Quando o leito está feito,
Que a esposa e seu marido se deitem juntos.
Que os homens... às virgens...
Que as donzelas...
Que os mancebos às virgens...
Quando o leito está feito,
Que a esposa e seu marido se deitem juntos.
Enlil fora vencido em tática. A humanidade fora salva e fora-lhe permitida a procriação. Os deuses franquearam a Terra ao gênero humano.
Fonte: O 12º. PLANETA - Zecharia Sitchin
Tradução de ANA PAULA CUNHA
DOWNLoad: http://versadus.com/Zecharia-Sitchin-O-12-Planeta-Nibiru.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor: não perturbe, nem bagunce! Apenas desejamos que seja amigo com os demais! Seja paciente, humilde e respeitoso com os outros leitores. Se você for ofendido, comunique-se conosco. Obrigado!