Páginas

16/02/2014

Como a Noite a Apareceu “Lenda Tupi”

Ao longo da história humana neste planeta, todos os fatos acontecidos foram contados para o povo em forma de lendas e mitos (já que eram fatos verídicos). Só assim poderia contar o obvio em simples palavras (contos) para todos os homens.

Que na verdade passavam de pura realidade com  proposito para enganar humanidade em nome de uns poucos indivíduos malignos que teimam em afirmar que são membros da raça humana.

Leia:

No principio não havia noite - dia somente havia em todo o tempo. A noite estava adormecida no fundo das águas. Todas as coisas falavam. A filha da cobra grande - contam - casara-se com um moço.

Esse moço tinha três fâmulos fiéis. Um dia, ele chamou os três fâmulos e disse-lhes: - ide passear, porque minha mulher não quer dormir comigo.

Os fâmulos foram-se, e então ele chamou sua mulher para dormir com ele.

A filha da cobra grande respondeu-lhe: - Ainda não é noite.

- O moço disse-lhe: - Não há noite somente a dia.

- A moça falou:

- Meu pai tem noite. Se queres dormir comigo, manda busca-la lá, pelo grande rio.

- O moço chamou os três fâmulos; a moça mandou-os a casa de seu pai para trazerem um caroço de tucumã.

- Os fâmulos foram, chegaram a casa da cobra grande, esta lhes entregou um caroço de tucumã muito bem fechado e disse-lhes:

- Aqui esta; levai-º Eia! Não o abrais, senão todas as coisas se perderão.

- Os fâmulos foram-se, e estavam ouvindo um barulho dentro do coco de tucumã, assim: tem, tem, ...xi...Era o barulho dos grilos e dos sapinhos que cantam de noite.

- Quando já estavam longe, um dos fâmulos disse a seus companheiros - Vamos ver que barulho será este?

- O piloto disse: - Não do contrario nos perderemos. Vamos embora, eia, remai!

- Eles foram e continuaram a ouvir aquele barulho dentro do coco de tucumã, e não sabiam que barulho era.
- Quando já estavam muito longe, ajuntaram-se no meio da canoa, acenderam fogo, derreteram o breu que fechava o coco e abriram-no. De repente tudo escureceu.

- O piloto então disse: Nós estamos perdidos; e a moça, em sua casa, já sabe que nós abrimos o coco de tucumã!

- Eles seguiram viagem.

- A moça, em sua casa, disse ao seu marido:

- Eles soltaram a noite; vamos esperar a manhã.

- Então todas as coisas que estavam espalhadas pelo bosque se transformaram em animais e pássaros.

- As coisas que estavam espalhadas pelo rio se transformaram em patos e em peixes. Do paneiro gerou-se a onça; o pescador e sua canoa se transformaram em pato; de sua cabeça nasceram a cabeça e o bico do pato; da canoa, o corpo do pato; dos remos as pernas do pato.

- A filha da cobra grande, quando viu a estrela-d’alva, disse a seu marido:

- A madrugada vem rompendo. Vou dividir o dia da noite.

- Então ela enrolou um fio, e disse-lhe: Tu serás cujubim. Assim ela fez o cujubim; pintou a cabeça de do cujubim de branco, com tabatinga; pintou-lhe as pernas de vermelho com urucu, e, então, disse-lhe: - Cantaras para todo e sempre quando a manhã vier raiando.

- Ela enrolou o fio, sacudiu cinza em riba dele, e disse: tu serás inhambu, para cantar nos diversos tempos da noite de madrugada.

- De então todos os pássaros cantaram em seus tempos, e de madrugada,para alegrar o principio do dia.

- Quando três fâmulos chegaram, o moço disse-lhes: - Não fostes fiéis abristes o caroço de tucumã, soltastes a noite e todas as coisas se perderam, e vós também que vos metamorfoseastes em macacos, andareis para todo e sempre pelos galhos dos paus.

- (A boca preta e risca amarela que eles têm no braço dizem que são ainda o sinal do breu que fechava o caroço de tucumã e que escorreu sobre eles quando o derreteram)

Nota:

Esta lenda é provavelmente um fragmento do Gênesis dos antigos selvagens (nativos) sul-americanos. É talvez o eco degradado e corrompido das crenças que eles tinham de como se formou esta ordem de coisas no meio da qual vivemos e, depois das formas grosseiras com que provavelmente a vestiram as avós e as amas de leite, ela mostra que por toda a parte o homem se propôs a resolver este problema - de onde nós viemos?

Aqui, como nos Vedas, como no Gênesis, a questão é no fundo resolvida pela mesma forma, isto é: no principio todos eram felizes; uma desobediência, num episodio de amor, uma fruta proibida, trouxe a degradação.

A lenda é, em resumo, a seguinte: no principio, não havia distinção entre animais, o homem e as plantas: tudo falava.

Também não havia trevas.

Tendo a filha da cobra grande se casado não queria coabitar com o seu marido enquanto não houvesse noite sobre o mundo, assim como havia no fundo das águas. O marido mandou buscar a noite, que lhe foi remetida encerrada dentro de um caroço de tucumã, bem fechado, co proibição expressa aos condutores de o abrirem, penas de perderem a si e a seus descendentes todas as coisas.

A principio, resistem a tentação; mas depois a curiosidade de saber o que havia dentro da fruta os fez violar a proibição, e assim se perderam. Substituindo a fruta de tucumã pela arvore proibida, a curiosidade de saber pela tentação do espírito maligno, parece haver no fundo do episodio tanta semelhança com o pensamento asiático, que vacilo eu pergunto se não será um eco degradado e transformado desse pensamento.

- Trecho do livro (O Selvagem) do Gen Couto de Magalhães.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor: não perturbe, nem bagunce! Apenas desejamos que seja amigo com os demais! Seja paciente, humilde e respeitoso com os outros leitores. Se você for ofendido, comunique-se conosco. Obrigado!