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25/06/2014

Vestígios de Inflação do Universo Primordial Aguardam Confirmação

A colaboração do BICEP2 relata a detecção de polarização de modo-B da radiação cósmica de fundo - um sinal de que talvez tenham origem de ondas gravitacionais criadas pela inflação durante os primeiros momentos na evolução do universo.

A revista Physical Review Letters publicou um trabalho polêmico de astrofísicos norte-americanos e europeus. Apesar de a descoberta como tal já ter sido anunciada em meados de março, a publicação provocou uma nova onda de discussões no mundo científico.

Segundo afirmam os autores do artigo, eles conseguiram observar vestígios de ondas gravitacionais primárias no Universo primordial, o que significa que a última, mal surgiu, alastrou rapidamente e com força durante a chamada inflação.

No dia 20 de junho a prestigiada revista Physical Review Letters (PRL) publicou o artigo, onde se afirma que, pela primeira vez, foi possível observar de forma experimental a polarização de modo B da radiação cósmica de fundo (CMB, em inglês), que está associada às ondas gravitacionais primárias. Esse enunciado complexo significa que os físicos conseguiram finalmente descobrir provas que o Universo primordial atravessou um período de inflação, uma expansão brusca e muito forte.


A teoria da inflação é uma das teorias-chave da ciência moderna, visto que ela explica muito bem as propriedades do mundo atual. Contudo, apesar de toda sua beleza e simplicidade, ela continua sendo uma mera hipótese, porque ainda não foi provada de modo experimental.

Sem entrar em pormenores da física, era suposto a inflação deixar “vestígios”, que pudéssemos hoje observar na radiação de fundo em micro-ondas, a chamada polarização de modo B dos fótons de fundo.

A procura desses “vestígios” começou há relativamente pouco tempo, quando os aparelhos de observação se tornaram sensíveis o suficiente. Desta vez um deles, o telescópio polarímetro BICEP2, localizado no Polo Sul e gerido por um grupo de organizações científicas dos EUA, Canadá e Reino Unido, parece ter obtido um resultado positivo.

Isso foi anunciado pela primeira vez em meados de março, mas esse anúncio ainda não era “oficial”. Até o resultado ser publicado numa revista de referência, ele só pode ser citado com grandes reservas, por todo o respeito que mereçam os investigadores.

A publicação do artigo no número de junho da PRL foi o “segundo nascimento” dessa notícia, apesar de nem a comunidade científica, nem seus autores, se apressarem a colocar um ponto final na discussão. Os editores da PRL acharam necessário introduzir o artigo através de uma pequena nota editorial na própria revista e na publicação eletrônica Physics que termina com as palavras:

As descobertas mais importantes não se obtêm já prontas, compiladas para os manuais, e é necessário continuar trabalhando a sério para confirmar a origem do sinal polarizado que foi medido pelo BICEP2.

Para que é necessário ter tanto cuidado? A polarização de modo B é muito difícil de observar. As medições são feitas no limite da sensibilidade dos instrumentos e o próprio sinal é facilmente confundido com a polarização que não está associada às ondas gravitacionais de fundo, mas às poeiras atuais.

Além disso, é preciso perceber que a polarização de modo B não é imediatamente visível na imagem. Para “extrair” a informação da polarização é necessário o tratamento de dados e, durante esse processo, é necessário considerar muitas alterações: neste caso, por exemplo, qual será a contribuição das já referidas poeiras.

Contudo, a comunidade científica está mais interessada do que cética. O anúncio do BICEP2 não é o fim do caminho, mas apenas seu início. Os experimentadores preparam novos métodos complexos para verificar esse resultado sensacional. Os teóricos pensam no significado que esses dados terão para a cosmologia.

Mesmo que o BICEP2 se tenha enganado, isso não será o fim da hipótese da inflação, apesar de retirar aos participantes do experimento seus louros de descobridores. Mas se eles realmente conseguiram “caçar” a polarização de modo B, isso significa que nós obtivemos uma oportunidade de saber o que terá acontecido na fase mais primordial do Universo. E isso, sem dúvida, merece ser publicado na revista.

Acesse o artigo no site de origem abaixo:


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