Não resta dúvida de que a Epopéia de Gilgamesh foi a fonte original das muitas histórias e lendas sobre reis e heróis que, nos milênios subseqüentes, partiram à procura de eterna juventude.
Há quase 5 mil anos, Gilgamesh de Uruk rogou a Utu (Shamash):
Em minha cidade, o homem morre; oprimido está meu coração.
O homem perece, pesado está meu coração...
O homem, por mais alto que seja, não pode esticar-se até o céu...
Ó Utu,
Na Terra desejo entrar, seja meu aliado...
No lugar onde os Shem têm sido erigidos,
Que eu erija meu Shem!
O homem perece, pesado está meu coração...
O homem, por mais alto que seja, não pode esticar-se até o céu...
Ó Utu,
Na Terra desejo entrar, seja meu aliado...
No lugar onde os Shem têm sido erigidos,
Que eu erija meu Shem!
Shem, como já demonstrei, embora seja comumente traduzido por "Nome" (aquele pelo qual alguém será lembrado), era, de fato, um foguete espacial. Henoc, quando foi levado para o céu, desapareceu em seu "Nome". Meio milênio depois de Gilgamesh, o rei Téti, faraó do Egito, fez uma súplica quase idêntica:
Os homens caem,
Eles não têm "Nome",
(Ó deus),
Pega Téti pelos braços,
Leva Téti para o firmamento,
Para que ele não morra na Terra entre os homens.
A meta de Gilgamesh era Tilmun, a terra onde os foguetes eram montados. Perguntar para onde ele se dirigiu com o objetivo de alcançar Tilmun é o mesmo que perguntar para onde foi Alexandre, que se considerava um faraó e filho de um deus. E é também perguntar: Afinal, em que lugar do mundo ficava o Duat? Sim, porque era essa a parada final para todos que sonhavam com a imortalidade.
Procurarei demonstrar agora, conclusivamente, que a terra onde eles esperavam encontrar a Escada para o Céu era a península do Sinai. Aceitando a possibilidade de que o Livro dos Mortos faz referências a uma geografia egípcia verdadeira, alguns eruditos sugeriram que a viagem simulada do faraó era feita ao longo do Nilo, dos santuários do Alto Egito para os mais próximos do delta do rio. Os textos antigos, contudo, falavam claramente sobre uma viagem para além das fronteiras do país. Segundo eles, o faraó dirige-se para o leste, não para o norte, e, quando atravessa o lago de Juncos e o deserto depois dele, deixa para trás não apenas o Egito, mas também a África, pois muito se fala dos perigos - reais e "políticos" - em abandonar os domínios de Hórus para se chegar às "Terras de Set", ou seja, a Ásia.
Quando os Textos das Pirâmides foram escritos, a capital do Egito era Mênfis. O centro religioso mais antigo, Heliópolis, ficava a noroeste da capital, não muito distante. Desses centros, uma rota de viagem na direção leste realmente levaria a uma cadeia de lagos cheios de juncos e bambus. Depois deles ficava o deserto, os desfiladeiros e a península do Sinai - área cujos céus serviram como campo da batalha final entre Zeus e Tífon.
A sugestão de que a viagem do faraó realmente o levava para a Outra Vida é apoiada pelo fato de Alexandre ter tentado imitar não apenas os reis do Egito, mas também o êxodo dos judeus sob a liderança de Moisés.
Tal como no relato bíblico, o ponto de partida era o Egito. Em seguida vinha o "mar Vermelho" - a barreira aquosa que se separou para os judeus atravessarem o mar a pé. Nas histórias de Alexandre, essa barreira também foi encontrada e era persistentemente chamada de "mar Vermelho". Alexandre, querendo imitar Moisés, tentou fazer suas tropas o atravessarem a pé, construindo um tipo qualquer de ponte, segundo algumas versões, ou, em outras, "expondo o leito com suas preces". Quer ele tenha tido êxito ou não (depende da versão), os prisioneiros de guerra que mandou à frente foram surpreendidos pela volta das águas e morreram afogados - exatamente como aconteceu com os egípcios que perseguiam os judeus. Depois de atravessarem, estes entraram em luta com os amalecitas. Na versão cristã da história de Alexandre, os prisioneiros inimigos afogados pelas "águas do mar Vermelho que caíram sobre eles" são chamados de "amalecitas".
Uma vez vencida a barreira de água - a tradução literal do termo bíblico Yam Suff é “mar/lago de Juncos" - começava uma viagem pelo deserto, na direção de uma montanha sagrada. Significativamente a montanha especial que Alexandre atingiu tinha o nome de Mushas, a Montanha de Moisés, Moshe em hebraico. Foi lá que Moisés encontrou um anjo que lhe falou por entre o fogo (o arbusto ardente). Um incidente similar é relatado nas lendas de Alexandre.
Os paralelos multiplicam-se à medida que nos recordamos de vários textos, como a história de Moisés e o peixe encontrado no Corão. Segundo ela, a Água da Vida ficava "na junção de dois rios". O faraó atingia a entrada do reino subterrâneo no local onde o rio de Osíris dividia-se em dois afluentes. Nas lendas de Alexandre, o ponto crucial da jornada também aconteceu perto de uma fonte ou curso de água, no lugar onde a "Pedra de Adão" emitiu luz e os seres divinos aconselharam o rei a desistir de sua busca.
Além disso, existia a tradição de igualar Alexandre com Moisés ao chamá-lo de "Aquele com Dois Chifres" - devido à afirmação bíblica, repetida também no Corão, de que Moisés, depois de ter visitado o Senhor no monte Sinai, ficou com o rosto radiado e dele emanava "chifres" (literalmente: raios de luz).
A arena do êxodo bíblico foi a península do Sinai. A conclusão tirada de todas as similaridades é que foi para ela que Moisés, Alexandre e os faraós dirigiram seus passos ao sair do Egito. E esse, mostrarei, também foi o destino de Gilgamesh.
Para atingir Tilmun em sua segunda e decisiva viagem, Gilgamesh zarpou num "Barco de Magan", ou seja, um "Barco do Egito", Por estar partindo da Mesopotâmia, ele só poderia navegar para o sul do golfo Pérsico. Em seguida, dando a volta na península Arábica, entraria no mar Vermelho (que os egípcios chamavam de mar de Ur). Como o nome do barco indica, Gilgamesh teria seguido para o Egito. Todavia, esse não era seu destino final. Gilgamesh queria chegar a Tilmun. Qual então seria sua intenção? Desembarcar na Núbia, na margem ocidental do mar Vermelho? Na margem oriental, na Arábia? Ou seguir em frente, dirigindo-se à península do Sinai?
Felizmente, para nossas investigações, Gilgamesh encontrou o infortúnio. Seu barco foi afundado por um deus guardião pouco depois do início da viagem. Ele não estava muito longe da Suméria, pois Enkidu (cuja presença no barco foi o motivo do afundamento) implorou a Gilgamesh para os dois voltarem a pé para Uruk. Contudo, decidido a atingir Tilmun, o rei começou a caminhar para alcançar seu objetivo. Ora, se o lugar aonde ele pretendia chegar ficasse no mar Vermelho, Gilgamesh teria de atravessar a península Arábica, mas a epopéia narra que ele dirigiu seus passos para o noroeste. Não tenho dúvidas disso porque, depois de atravessar o deserto e vencer montanhas inóspitas, a primeira visão que teve da civilização ficava perto de um "mar na baixada". Havia uma cidade junto dele, com uma taberna em sua periferia. A "cervejeira" o alertou que a extensão de água que ele via era o "Mar das Águas da Morte" .
Tal como os Cedros do Líbano serviram como um ponto especial para fixarmos o marco final da primeira viagem de Gilgamesh, o Mar das Águas da Morte é uma pista inigualável para determinarmos o paradeiro do rei de Uruk em sua segunda viagem. Em todas as terras do mundo antigo, um todo o Oriente Médio, só existe uma extensão de água desse tipo e ela mantêm o nome até hoje: mar Morto. Ele é de fato um "mar de baixada", pois fica numa depressão da costa terrestre (cerca de 300 metros abaixo do nível do mar). Suas águas são tão saturadas de sais e outros minerais que lá não cresce nenhum tipo de vida animal ou vegetal.
Uma muralha cercava a cidade junto ao Mar das Águas da Morte. Seu templo era dedicado a Sin, o deus-Lua. Do lado de fora da muralha havia uma taberna. A estalajadeira acolheu Gilgamesh e forneceu-lhe informações.
As incríveis similaridades com uma história da Bíblia não podem ser ignoradas. Quando os israelitas terminaram seus quarenta anos de perambulação pelo deserto, era chegada a hora de entrarem em Canaã. Vindo da península do Sinai, eles foram progredindo pela margem oriental do mar Morto até chegarem ao lugar onde o rio Jordão deságua. Quando Moisés subiu num morro que dava para a planície, avistou - como Gilgamesh - as águas brilhantes do "mar na baixada". Na planície, na outra margem do rio, ficava uma cidade: Jericó! Como ela bloqueava o avanço dos israelitas sobre Canaã, dois espiões foram enviados para explorar suas defesas. Uma mulher cuja estalagem ficava junto às muralhas forneceu-lhes informações e orientação.
O nome hebraico de Jericó é Yeriho, que significa literalmente "Cidade da Lua" - a cidade dedicada ao deus-Lua, Sin...
Essa, sugiro, foi a mesma cidade à qual Gilgamesh chegou, quinze séculos antes do Êxodo.
Será que Jericó já existia por volta de 2.900 a.C., quando o rei de Uruk empenhava-se em sua busca? Os arqueólogos concordam que o local já era povoado antes de 7.000 a.C. e que desde cerca de 3.500 a.C. havia ali um centro florescente. Então, com toda a certeza, foi a Jericó que Gilgamesh chegou.
Será que Jericó já existia por volta de 2.900 a.C., quando o rei de Uruk empenhava-se em sua busca? Os arqueólogos concordam que o local já era povoado antes de 7.000 a.C. e que desde cerca de 3.500 a.C. havia ali um centro florescente. Então, com toda a certeza, foi a Jericó que Gilgamesh chegou.
Refrescado e fortalecido, o rei de Uruk planejou seguir viagem. Encontrando-se no norte do mar Morto, perguntou à cervejeira se conseguiria atravessá-lo ou teria de circundá-lo por terra. Fazendo o trajeto a pé, ele seguiria a mesma rota dos israelitas muitos séculos depois, só que em sentido inverso. Porém, Gilgamesh conseguiu o auxílio de Urshanabi e desembarcou, acredito, na margem sul do mar Morto - o mais próximo que poderia chegar à península do Sinai por barco.
Dali, segundo as informações que recebeu, ele deveria seguir "um caminho regular", ou seja, uma rota normalmente usada pelas caravanas, "na direção do Grande Mar, que fica distante". Mais uma vez reconhecemos a geografia pela terminologia bíblica, pois na Bíblia o Grande Mar é o Mediterrâneo. Penetrando o Neguev, a seca região meridional de Canaã, Gilgamesh teria de dirigir-se para oeste por algum tempo, até encontrar "dois marcos de pedra", como explicara Urshanabi. Nesse local ele faria uma curva e atingiria a cidade de Itla, localizada a alguma distância do Grande Mar. Depois dela, na Quarta Região dos deuses, ficava a área restrita.
Itla seria uma "Cidade de Deuses" ou uma cidade de homens?
Os eventos ocorridos nesse local, descritos numa versão hitita fragmentada da Epopéia de Gilgamesh, indicam que ela abrigava tanto uns como outros. Era uma "cidade santificada", com vários deuses indo e vindo ou morando perto dela. Mas os homens também podiam entrar lá, pois o caminho era indicado por marcos de estrada. Além disso, Gilgamesh não somente descansou e trocou de roupa em Itla como também foi lá que obteve os cordeiros que ofereceu diariamente aos deuses em sacrifício.
Conhecemos uma cidade assim pelo Velho Testamento. Ela ficava localizada onde o sul de Canaã se mesclava com a península do Sinai e funcionava como entrada para a planície central da península. Sua santidade era denotada pelo nome: Cades ("A Sagrada") e distinguia-se de Cades do norte (situada, significativamente, perto de Baalbek) sendo chamada de Cades-Barnéia (que, originando-se do sumério, poderia significar: Cades dos Pilares de Pedra Brilhante). Na era dos patriarcas, ela fazia parte dos domínios de Abraão, que "viajou ao Neguev e habitou entre Cades e Shin".
Essa cidade, pelo nome e função, já é bem nossa conhecida pelas histórias cananéias sobre deuses, homens e a ânsia pela imortalidade. Danel, lembramo-nos, suplicou a El que lhe desse um herdeiro legítimo para este poder erigir uma estela em sua homenagem em Cades. Por intermédio de um texto ugarítico ficamos sabendo que um filho de El chamado Shibani ("O Sétimo") - a cidade bíblica de Bersabéia, ou Beersheva ("O Poço do Sétimo") pode ter esse nome por causa dele - recebeu instruções de "erigir um pilar comemorativo no deserto de Cades".
De fato, tanto Charles Virolleaud como René Dussaud, pioneiros na tradução e compreensão dos textos ugaríticos, concluíram que o local dos muitos contos épicos era "a região entre o mar Vermelho e o Mediterrâneo", ou seja, a península do Sinai. O deus Baal, que adorava pescar no lago Sumkhi, ia caçar no "deserto de Alus", área associada com a tamareira. Virolleaud e Dussaud salientaram que essa é uma importante pista geográfica ligando o local ugarítico com o registro bíblico sobre o êxodo, pois os israelitas, segundo Números 33, viajaram de Mará (o lugar das águas amargas) e Eloim (o oásis das tamareiras) para Alus.
Outros detalhes, colocando El e os deuses mais jovens na área do êxodo, são encontrados num texto que os eruditos intitularam de "O Nascimento dos Graciosos e Belos Deuses", Os versos de abertura localizam a ação no "deserto de Sufim" - sem dúvida um deserto à margem do Yam Suff ("Mar de Juncos") do Êxodo:
Chamo os graciosos e belos deuses,
Filhos do Príncipe.
Eu os colocarei na Cidade de Ascender e Ir,
No deserto de Sufim.
Filhos do Príncipe.
Eu os colocarei na Cidade de Ascender e Ir,
No deserto de Sufim.
Os textos cananeus nos fornecem mais uma pista. Constantemente eles se referem ao chefe do panteão como "El" - o supremo, o mais alto dos altíssimos -, usando o termo mais como um título genérico do que como um nome próprio, Todavia, no conto citado acima, El é identificado como Yerah e sua esposa como Nikhal. "Yerah" é o termo semítico para "Lua" - o deus mais conhecido como "Sin" - e "Nikhal" é a forma semítica de NIN.GAL, o nome sumério da esposa do deus-Lua.
Os estudiosos já apresentaram muitas teorias a respeito da origem do nome Sinai. Uma vez, pelo menos, o motivo mais óbvio esteve entre as hipóteses preferidas: Sinai poderia significar "pertencente a Sin".
Podemos ver que a lua crescente era o emblema da deidade em cujas terras ficava localizado o Portão Alado. E um importante ponto de cruzamento de rotas no centro da península do Sinai, um lugar rico em água chamado Nakhl, conserva até hoje o nome da esposa de Sin. Assim, podemos concluir com plena confiança que a "Terra de Tilmun" era a península do Sinai.
Um exame da geografia, topografia, geologia, clima, flora e história da península confirmará minha identificação e esclarecerá o papel do Sinai nas histórias de homens e deuses.
Os textos mesopotâmicos descreviam a localização de Tilmun na "boca" de duas extensões de água. A península, que tem a forma de um triângulo invertido, de fato começa onde o mar Vermelho separa-se em dois braços - o golfo de Suez a oeste e o golfo de Eilat (Ácaba) a leste. As representações egípcias que mostram a Terra de Set, onde ficava o Duat, mostram esquematicamente uma península com as características da do Sinai.
Os textos falam das "montanhas de Tilmun" e, de fato, a península do Sinai é constituída por uma região com grandes montanhas ao sul, um platô central também montanhoso e uma planície ao norte (cercada de montanhas), que vai descendo em colinas arenosas até a costa do Mediterrâneo. Essa faixa litorânea plana tem sido uma "ponte terrestre" entre a Ásia e a África desde épocas imemoriais. Os faraós a usaram para invadir Canaã e a Fenícia, e para desafiar os hititas. Sargão, rei de Acad, afirmou que atingiu o Mediterrâneo, onde "lavou suas armas". "As terras do mar" a região ao longo da costa - "três vezes rodeei; Tilmun minha mão capturou." Sargão II, rei da Assíria no século VIII a.C., vangloriou-se de ter conquistado a área que ia de "Bit-Yahkin, na margem do mar Salgado, até a fronteira de Tilmun". O nome "mar Salgado" sobreviveu até os dias de hoje como a denominação em hebraico do mar Morto - outra confirmação de que Tilmun ficava próximo dele.
Vários reis assírios mencionam o Riacho do Egito como um marco geográfico em suas expedições àquele país. Sargão II fala do Riacho depois de descrever a conquista de Asdod, a cidade filistéia, na costa do Mediterrâneo. Asaradão, que reinou algum tempo depois, vangloriou-se:
- "Piso em Arza, no Riacho do Egito, ponho Assuili, seu rei, em grilhões... Sobre Qanayah, rei de Tilmun, impus tributos".
O nome "Riacho do Egito" é idêntico ao nome bíblico para o grande e extenso wadi (rio raso que se torna torrencial na estação chuvosa) do Sinai que atualmente é conhecido como wadi El-Arish. Assurbanipal, sucessor de Asaradão no trono da Assíria, afirmou que ele colocara o jugo de sua soberania sobre Tiro, que fica no Mar Superior (Mediterrâneo) e até Tilmun, que fica no Mar Inferior (o mar Vermelho).
Em todos esses casos, a geografia e topografia de Tilmun igualam-se perfeitamente às da península do Sinai.
Acredita-se que, salvo variações anuais, o clima da península foi sempre o que é atualmente: uma estação chuvosa irregular que vai de outubro a maio e o resto do ano completamente seco. A pouca densidade pluvial qualifica a região a ser definida como deserto (menos de 30 mm anuais). No entanto, os altos picos de granito ao sul ficam cobertos de neve no inverno e na faixa litorânea o lençol freático é encontrado a pouco mais de 1 metro abaixo da superfície.
Uma característica geográfica típica da península são os wadis. Na região sul, as águas de chuvas curtas e repentinas correm parte para o leste, para o golfo de Eilat, e mais freqüentemente para o oeste, para o golfo de Suez. É nessa região que são encontrados os riachos no fundo de grandes gargantas e oásis exuberantes. Todavia, o grosso das águas pluviais é drenado na direção norte, indo para o Mediterrâneo pelo extenso wadi El-Arish e seus inúmeros afluentes, que, no mapa, em seu conjunto, parecem os vasos sangüíneos de um gigantesco coração. Nessa parte do Sinai, a profundidade dos wadis varia de poucos centímetros até cerca de 1 metro até 2 quilômetros, quando há uma chuva torrencial.
Mesmo na estação chuvosa, o padrão de precipitação é totalmente errático. Aguaceiros súbitos se alternam com longos períodos secos. Assim, pressupor-se a existência de água em relativa abundância nesse período do ano ou logo depois dele pode ser uma idéia muito enganosa. Possivelmente foi o que aconteceu com os israelitas quando deixaram o Egito em meados de abril e entraram no deserto do Sinai algumas semanas depois. Eles encontraram-se sem água e o Senhor teve de intervir duas vezes, mostrando a Moisés que rochas deveria golpear para obtê-la.
Os beduínos, como todos os calejados viajantes que percorrem o Sinai, conseguem repetir esse milagre quando o solo do leito do wadi é do tipo adequado. O segredo é que em muitos lugares a camada rochosa da superfície está sobre uma camada de solo argiloso que captura a água que penetra por entre as pedras. Com conhecimento e sorte, uma pequena escavação num leito de wadi completamente seco revela água em abundância logo abaixo da superfície.
Mas seria essa arte nômade o grande milagre realizado pelo Senhor? Recentes descobertas feitas na península do Sinai lançam uma nova luz sobre o assunto. Hidrólogos israelenses ligados ao Instituto Weizmann de Ciências descobriram que, como acontece em partes do deserto do Saara e em algumas áreas desérticas da Núbia, existe "água fóssil" (restos de lagos pré-históricos de outras era geológicas) nas profundezas da região central do Sinal. O imenso reservatório subterrâneo, com água suficiente, segundo as estimativas, para atender a uma população como a de Israel por quase cem anos, estende-se por cerca de 15.500 quilômetros quadrados num cinturão largo que vai do canal de Suez até o interior do árido deserto de Neguev, em Israel.
Embora esteja em média cerca de 915 metros abaixo do solo pedregoso, a água é sub-artesiana e sobe com sua própria pressão a até 300 metros da superfície. Quando os egípcios fizeram perfurações à procura de petróleo em Nakhl, na planície setentrional, encontraram esse reservatório subterrâneo. Outras sondagens confirmaram o incrível fato: na superfície, um deserto árido; no subsolo, dificilmente acessível por meio dos modernos equipamentos de perfuração e bombeamento, um lago de água pura e cristalina!
Será que os Nefilim, com sua tecnologia de era espacial, tinham conhecimento disso? E mais, seria essa água, e não uma pequena quantidade acumulada sob um wadi seco, a que jorrou depois que Moisés golpeou a pedra, seguindo as instruções do Senhor? "Leva contigo, na mão, a vara com que fizeste os milagres no Egito", disse o Senhor a Moisés. "Tu me verás em pé sobre uma pedra; ferirás a pedra e dela sairá água e o povo beberá." Assim, seria água suficiente para uma multidão e seu gado. Para que a grandeza de Iahweh fosse reconhecida por todos, Moisés deveria levar ao local algumas testemunhas. O milagre aconteceu "na presença dos anciãos de Israel".
Uma história suméria relata um evento bastante parecido. Trata-se de um conto sobre épocas difíceis devido à escassez de água. As plantações murcharam, o gado não tinha o que beber, o povo estava sedento e calado. Ninsikilla, esposa do governante de Tilmun, Enshag, queixou-se ao seu pai, Enki:
A cidade que destes...
Tilmun, a cidade que destes...
Não tem águas de rio...
Não pode banhar-se a donzela;
Nenhuma água cristalina jorra na cidade.
Tilmun, a cidade que destes...
Não tem águas de rio...
Não pode banhar-se a donzela;
Nenhuma água cristalina jorra na cidade.
Depois de estudar o problema, Enki concluiu que a única solução seria trazer águas subterrâneas. No entanto, a profundidade a ser atingida certamente não poderia ser alcançada através da perfuração de um poço comum. Assim, Enki elaborou um plano no qual as camadas de rocha seriam perfuradas por um míssil disparado do céu!
Pai Enki respondeu a Ninsikilla, sua filha:
Que o divino Utu se posicione no céu.
Que um míssil preso ao 'peito'
E do alto o dirija para a terra...
Da fonte da qual emergem as águas da Terra,
Que ele traga-te a doce água do solo.
Assim instruído, Utu/Shamash começou a tomar as providências necessárias:
Utu, posicionando-se no céu,
Um míssil firmemente preso ao seu "peito",
Do alto dirigiu-se para a terra...
Soltou o míssil do alto do céu.
De entre as rochas de cristal levantou a água;
Da fonte de onde emergem as águas da Terra,
Trouxe água doce, do solo.
Um míssil lançado do céu poderia perfurar a crosta da Terra, fazer a água potável subir? Antecipando a incredulidade de seus leitores, o escriba acrescentou: "Em verdade, foi assim". O plano, segundo a continuação do texto, funcionou: Tilmun tornou-se uma região de "campos férteis e fazendas que produzem grãos" e a Cidade de Tilmun "tornou-se o porto do país, local de ancoradouros e docas".
Os paralelos entre a península do Sinai e Tilmun estão assim duplamente confirmados. Primeiro, a existência de um reservatório subterrâneo de água, abaixo da superfície rochosa. Segundo, a presença de Utu/Shamash (o comandante do espaço-porto) nas vizinhanças.
A península do Sinai também possui todos os produtos que faziam a fama de Tilmun.
Tilmun era a fonte das pedras preciosas aparentadas com o lápis-lazúli que os sumérios tanto apreciavam. É um fato incontestável que os faraós obtinham tanto a turquesa como a malaquita no sudoeste da península. A mais antiga área de mineração de turquesa de que se tem notícia atualmente tem o nome de wadi Maghara - o "wadi das Cavernas". Nesse local abriam-se túneis na face rochosa do cânion do wadi e os mineiros talhavam as pedras. Mais tarde começou a haver mineração da turquesa também num lugar que hoje é chamado de Serabit-el-Khadim. Inscrições egípcias da 3ª. Dinastia (2.700-2.600 a.C.) foram encontradas em wadi Maghara e acredita-se que foi nessa época que os faraós começaram a instalar postos militares na região para poder haver uma mineração continuada.
Descobertas arqueológicas, além de desenhos e pinturas mostrando os primeiros "nômades asiáticos" capturados pelos faraós, convenceram os estudiosos de que no início os egípcios só saqueavam minas já abertas por tribos do Sinai. De fato, o nome egípcio para turquesa - mafka-t - origina-se do verbo semita "minerar, extrair por corte". Posteriormente, os egípcios passaram a chamar a península do Sinai de "Terra de Mafkat" e atribuíram o domínio dessa área de mineração à deusa Hathor, conhecida tanto como "A Senhora do Sinai" como "A Senhora do Mafkat".
Embora fosse uma grande deusa da Antiguidade e estivesse entre os primeiros deuses do céu egípcios, ela era apelidada de "A Vaca" e retratada sempre com os chifres desse animal. Seu nome, Hat-Hor, escrito hieroglificamente pelo desenho de um falcão dentro do recinto fechado, tem sido interpretado pelos eruditos como sendo "Casa de Hórus", mas literalmente ele significa "Casa do Falcão", o que fortalece muita conclusão sobre a localização e função da Terra dos Mísseis.
Segundo a Encyclopaedia Britannica,
- "a turquesa já era obtida na península do Sinai antes do quarto milênio a.C., numa das primeiras operações de extração de rochas minerais do mundo".
Nessa época, a civilização suméria estava nos seus primórdios e a egípcia só iria surgir dali a mil anos. Quem poderia ter organizado as atividades de mineração? Os antigos egípcios atribuíram esse feito a Thot, o deus das ciências.
Ao afirmarem isso e ao atribuírem o domínio da península do Sinai a Hathor, os egípcios estavam emulando as tradições sumérias. Segundo os textos sumérios, o deus que organizou as operações de mineração dos Anunnaki foi Enki, o deus do conhecimento. E Tilmun, nos tempos antes do dilúvio, foi dado a Ninhursag, a irmã de Enki e Enlil. Em sua juventude, ela era uma mulher de extraordinária beleza e enfermeira-chefe dos Nefilim, mas em sua velhice recebeu o apelido de "A Vaca" e, na qualidade de Deusa da Tamareira, era sempre retratada com os chifres desse animal. As similaridades entre Ninhursag e Hathor, as analogias entre seus domínios, são óbvias demais para exigirem elaboração.
A península do Sinai era uma importante fonte de cobre na Antiguidade e prova disso é que os egípcios dependiam basicamente do saque para obtê-lo. Para isso, tinham de penetrar bem longe na região. Um faraó da 12ª. Dinastia (época de Abraão) deixou-nos estes comentários de seus feitos:
- "Atingindo as fronteiras de países estranhos com seus pés; explorando vales misteriosos, alcançando os limites do desconhecido".
Ele também se vangloriou do fato de que seus homens não perderam nenhum caixote do butim.
Recentes explorações feitas no Sinai por cientistas trouxeram à luz muitas provas de que "durante a época do Antigo Império do Egito, no terceiro milênio a.C., a península era densamente habitada por tribos semitas que fundiam cobre e mineravam turquesa, e que resistiram à penetração das expedições faraônicas em seu território" (Beno Rothenberg, Sinai Explorations 1967-1972).
- "Conseguimos constatar a existência de um empreendimento metalúrgico-industrial bastante grande... Lá há muitas minas de cobre, acampamentos de mineiros e instalações de fundição disseminados desde a região oeste da parte sul do Sinai até Eilat, no alto do golfo de Ácaba.”
Eilat, conhecida na época do Velho Testamento como Etzion-Gaber, foi realmente a "Pittsburgh da Antiguidade". Cerca de vinte anos atrás, Nelson Glueck descobriu as minas do rei Salomão em Timna, um pouco ao norte de Eilat. Ele constatou que o minério era levado para Etzion-Gaber, fundido e refinado em "um dos maiores, senão o maior, centro metalúrgico existente na Antiguidade" (Rivers in the Desert).
Os indícios arqueológicos mais uma vez combinam com os textos bíblicos e mesopotâmicos. Asaradão, rei da Assíria, vangloriou-se de que "sobre Qanayah, rei de Tilmun, impus tributo". Os quenitas são mencionados no Velho Testamento como habitantes do sul da península do Sinai e seu nome significa, literalmente, "ferreiros, metalúrgicos". Quando Moisés fugiu do Egito, indo para Madiã, ele casou-se com uma moça da tribo dos quenitas. R. J. Forbes (The Evolution of the Smith) salientou que o termo bíblico qain ("ferreiro") origina-se do sumério KIN ("moldador").
O faraó Ramsés III, que reinou um século depois do êxodo, deixou registrada a invasão desses povoados de artesãos do cobre que ele comandou e o saque ao centro metalúrgico de Timna-Eilat:
Destruí o povo de Seir, as tribos do Shasu; saqueei suas tendas, suas posses e seu gado incontável. Eles foram amarrados e trazidos cativos, como um tributo ao Egito. Dei-os aos deuses, para serem escravos em seus templos.
Mandei meus homens para o País Antigo, para as suas grandes minas de cobre. Uns foram transportados em galeras, outros fizeram a viagem por terra, indo em seus asnos. Nunca se ouviu contar nada como isso, desde que começaram os reinos dos faraós.
As minas tinham cobre em abundância e ele foi colocado aos milhares nas galeras. Sendo enviado para o Egito, chegou em segurança. As barras de cobre, 100 mil delas, da cor de ouro devido à três refinações, mandei empilhar sob o balcão do palácio. Deixei que todo o povo as visse, como se fossem maravilhas.
As minas tinham cobre em abundância e ele foi colocado aos milhares nas galeras. Sendo enviado para o Egito, chegou em segurança. As barras de cobre, 100 mil delas, da cor de ouro devido à três refinações, mandei empilhar sob o balcão do palácio. Deixei que todo o povo as visse, como se fossem maravilhas.
Lembremo-nos de que os deuses condenaram Enkidu a passar o resto da vida nas minas. Foi por isso que Gilgamesh concebeu o plano de construir um "Barco do Egito" e levar ele mesmo o companheiro, pois a Terra das Minas e a Terra dos Mísseis ficavam no mesmo território. Assim, minha identificação está de acordo com os dados antigos.
Antes de continuarmos a reconstrução dos eventos históricos e pré-históricos, é importante fortalecer à conclusão de que Tilmun era o nome sumério da península do Sinal. Porém, não é isso que os estudiosos pensam. Vamos então analisar seus pontos de vista e mostrar por que estão errados.
Uma persistente escola de pensamento que teve como seus primeiros defensores P. B. Cornvall (On the Location of Tilmun) identifica Tilmun (às vezes escrito "Dilmun") como sendo a ilha de Bahrein, no golfo Pérsico. Esse ponto de vista se apóia numa inscrição de Sargão II da Assíria, onde ele afirmava que entre os reis que lhe pagavam tributo estava
- "Uperi, rei de Dilmun, cujo reino fica situado como um peixe, a uma distância de trinta horas duplas, no meio do mar onde o sol se levanta".
Devido a essa informação, concluiu-se que Tilmun era uma ilha. Os eruditos que defendem essa teoria identificam "o mar onde o sol se levanta" como o golfo Pérsico. Assim, dão a ilha de Bahrein como resposta.
Há muitas falhas nessa interpretação. Primeiro, é possível que apenas a capital de Tilmun ficasse numa ilha. Os textos não deixam dúvida de que existia uma Terra de Tilmun e uma Cidade de Tilmun. Segundo, outros textos assírios que descrevem cidades como estando localizadas "no meio do mar" referem-se a povoados litorâneos, situados em baías ou promontórios, e não em ilhas, como, por exemplo, Arvad, na costa do Mediterrâneo. Além disso, se o "mar onde o sol se levanta" indica uma extensão de água a leste da Mesopotâmia, o golfo Pérsico não se aplica, pois ele fica ao sul e não a leste da região. E mais, Bahrein está situada perto demais da Mesopotâmia para justificar trinta horas duplas de navegação. A ilha dista cerca de 450 quilômetros dos portos mesopotâmicos e, mesmo navegando-se muito devagar, sessenta horas de viagem cobririam uma distância muitas vezes maior.
Outra importante falha na teoria Bahrein/Tilmun é a relativa aos produtos que faziam a fama de Tilmun. Já nos tempos de Gilgamesh, a área não era restrita em sua totalidade. Havia uma parte dela, como vimos, onde condenados trabalhavam nos escuros e poeirentos túneis das minas extraindo cobre e pedras preciosas. Sempre ligada à Suméria pela cultura e comércio, Tilmun a abastecia com certos tipos especiais de madeira, e de suas áreas cultivadas - tema da história que vimos anteriormente, onde Ninsikilla suplicou ao pai que lhe arranjasse água - saíam as cebolas e tâmaras mais famosas da Antiguidade.
Bahrein nunca teve uma cultura desse tipo e suas tamareiras sempre produziram frutos comuns. Assim, para justificar sua escolha como Tilmun, a escola de pensamento que defende essa teoria sugere que Bahrein era um porto de transbordo (Geoffrey Bibby, em Looking for Dilmun, e outros autores). Ela concorda que as famosas tâmaras vinham de um lugar mais distante, mas afirma que os navios que as transportavam não iam até os portos da Mesopotâmia. Eles ancoravam em Bahrein e os mercadores sumérios transferiam a carga para outras embarcações, que então faziam a etapa final até seu país. Era por isso que, quando os escribas registravam o local de onde precedia a carga, escreviam "Dilmun", querendo referir-se a Bahrein.
Ora, por que navios que tinham navegado tão grandes distâncias deixariam de fazer o curto percurso até o destino final da carga na Mesopotâmia? Por que tanto trabalho de carga e descarga que só serviria para aumentar o custo? Essa teoria também vai contra as afirmações de governantes da Suméria e Acad de que os navios de Tilmun, bem como os de outros países, ancoravam em seus portos. Ur-Nanshe, rei de Lagash dois séculos depois que Gilgamesh governou Uruk, afirmou que
- "os navios de Tilmun... trouxeram-me madeira como tributo".
Reconhecemos o nome "Tilmun" nessa inscrição pelo pictógrafo para "míssil". Sargão, o primeiro governante de Acad, vangloriou-se de que "no cais de Acad ele fez aportar os navios de Meluhha, navios de Magan e navios de Tilmun".
É bastante provável, portanto, que os navios de Tilmun levavam os produtos diretamente para os portos da Mesopotâmia, como seria de se esperar dentro de todos os parâmetros da lógica e economia. Os textos antigos também falam de exportações de mercadorias da Mesopotâmia para Tilmun. Uma inscrição registra o envio de um carregamento de trigo, queijo e cevada descascada de Lagash para Tilmun (cerca de 2.500 a.C.) sem nenhuma menção de transbordo de carga numa ilha qualquer.
Um dos principais oponentes da teoria Bahrein/Tilmun, Samuel N. Kramer (Dilmun, the "Land of the Living"), salientou o fato de que os textos mesopotâmicos descreviam Tilmun como "um país distante", que se atingia à custa de risco e aventura. Essas afirmações não combinam com uma ilha próxima à qual se chega depois de poucas horas de navegação nas águas tranqüilas do golfo Pérsico. Ele também enfatizou a importância do fato de vários textos mesopotâmicos colocarem Tilmun perto de duas extensões de água, e não dentro ou perto de apenas uma. Os textos acadianos diziam: "Tilmun ina pi narati" - "Tilmun, na boca das duas águas correntes" -, isto é, onde se iniciam duas extensões de água.
Guiado por uma outra declaração, que dizia que Tilmun era a terra "onde o sol se levanta", Kruner concluiu, primeiro, que Tilmun situava-se em terra firme e não numa ilha, e segundo, que devia ficar a leste da Suméria, pois é no leste que o sol se levanta. Procurando no mapa um lugar a oriente da Mesopotâmia onde duas extensões de água se encontram, ele só conseguiu descobrir um ponto a sudeste, onde o golfo Pérsico encontra-se com o oceano Índico. Assim, com alguma hesitação, Kramer sugeriu: Tilmun ficava no Baluquistão ou em algum lugar perto do rio Indo.
A hesitação de Kramer derivou do fato bem conhecido de que numerosos textos sumérios e acadianos, que dão listas de países e povos, não colocam Tilmun entre as terras do leste como Elam e Aratra. Em vez disso, juntam como terras próximas umas das outras Meluhha (Núbia, Etiópia), Magan (Egito) e Tilmun. A proximidade entre o Egito e Tilmun fica bem clara no final do texto "Enki e Ninhursag", onde fala-se da designação de Nintulla como Senhor de Magan e Enshag como Senhor de Tihnun, que recebem as bênçãos dos dois grandes deuses. Essa proximidade também fica evidente a partir de um notável texto escrito como uma autobiografia de Enki, que descreve suas atividades depois do dilúvio, quando ficou ajudando a humanidade e estabelecendo suas civilizações. Mais uma vez, Tilmun é listada junto com Magan e Meluhha:
As terras de Magan e Tilmun
Levantaram os olhos para mim.
Eu, Enki, ancorei o barco Tilmun na costa,
Carreguei até o alto o barco Magan.
O alegre barco de Meluhha
Transporta ouro e prata.
Em vista da proximidade de Tilmun com o Egito, o que devemos pensar das afirmações de que Tilmun ficava "onde o sol se levanta", significando, como dizem os estudiosos, um país a leste da Suméria e não a oeste, como a península do Sinai?
A resposta, e bem simples, é que os textos não afirmam nada disso. Eles não falam "onde o sol se levanta", mas sim "onde Shamash ascende" - e é aí que está toda a diferença. Tilmun não ficava a leste da Mesopotâmia e com toda a certeza era o lugar onde Utu/ Shamash - que não era o Sol, apenas usava como símbolo - ascendia aos céus em seus foguetes. As palavras da Epopéia de Gilgamesh são bem claras:
À montanha de Mashu ele chegou,
Onde durante o dia os Shem ele observou
Enquanto iam e vinham...
Homens-foguete guardam seu portão...
Eles vigiam Shamash
Enquanto ele ascende e descende.
E aquele era o lugar para onde Ziusudra fora levado depois do dilúvio:
Na Terra da Travessia,
Na montanhosa Tilmun
- O lugar onde Shamash ascende -
Eles o fizeram residir.
E foi assim que Gilgamesh - que teve negada a permissão de montar um Shem e acabou contentando-se apenas em conversar com seu ancestral - partiu a sua procura, dirigindo seus passos para o monte Mashu em Tilmun - o monte de Moshe (Moisés), na península do Sinai.
Os botânicos modernos têm se surpreendido com a variedade da flora da península, pois lá foram encontradas mais de mil espécies de plantas, muitas que só dão ali, variando de árvores a pequeninos arbustos. Onde existe água, como no oásis, nas dunas litorâneas e leitos dos wadis, essa vegetação cresce com impressionante persistência por ter se adaptado ao clima e hidrografia únicos da península do Sinai. As regiões a nordeste da península podem ter sido a fonte das apreciadas cebolas. O nome inglês para a variedade com caule longo e verde - scallion - lembra o porto de onde esse petisco era exportado para a Europa: Ascalon, na costa do Mediterrâneo, logo no norte do Riacho do Egito.
Uma das árvores que se adaptaram às singulares características do Sinai é a acácia, que acomoda sua alta taxa de transpiração crescendo apenas nos leitos dos wadis, onde explora a umidade subterrânea com um eficiente sistema de longas raízes. Como resultado disso, a acácia pode viver quase dez anos sem chuva. Essa árvore tem uma madeira muito apreciada e, segundo o Velho Testamento, a arca e outros componentes do Tabernáculo eram feitos dela. Ela bem poderia ser a madeira especial que os reis da Suméria importavam para a construção de seus templos.
Uma visão sempre presente na península do Sinai são as tamargueiras, pequenas árvores que acompanham o curso dos wadis o ano inteiro, pois suas raízes também descem até a umidade abaixo da superfície e elas conseguem sobreviver mesmo onde a água é salobra ou salina. Depois de invernos particularmente chuvosos, os bosques de tamargueiras ficam cheios de uma substância doce e granulosa, que é a excreção de pequenos insetos que vivem de seus frutos. Os beduínos ainda hoje a chamam pelo seu nome bíblico - maná.
Todavia, a árvore mais associada a Tilmun na Antiguidade era a tamareira, que continua sendo a principal planta do Sinai em termos econômicos. Pedindo um mínimo de cultivo, ela atende a todas as necessidades básicas dos beduínos. Seus frutos constituem um alimento saboroso e nutritivo, cascas e caroços são dados aos camelos e cabras, o tronco é usado na construção e como combustível, as folhas servem para fazer telhados e as fibras para a confecção de cordas e também são empregadas na tecelagem.
Sabemos, através dos registros mesopotâmicos, que as tâmaras eram um importante produto de exportação de Tilmun. Os frutos vindos dessa região, por serem grandes e saborosos, ganhavam lugar de destaque nas receitas culinárias. Um texto de Uruk, a cidade de Gilgamesh, falando dos alimentos que deviam ser dados aos deuses, especificava: "todos os dias do ano, para as quatro refeições diárias, 108 medidas de tâmaras comuns e tâmaras da Terra de Tilmun, e também figos e passas... deverão ser oferecidos às divindades". A cidade mais próxima da antiga rota terrestre entre a península do Sinai e a Mesopotâmia era Jericó, na Bíblia chamada de "Jericó, a cidade das tâmaras".
A tamareira, como já vimos extensivamente, foi adotada como um símbolo sagrado em todas as religiões do antigo Oriente Médio. O salmista bíblico prometeu que "os justos, como a tamareira, florescerão". O profeta Ezequiel teve uma visão do templo de Jerusalém reconstruído, ornamentado com "querubins e tamareiras” alternados. Residindo entre os judeus que tinham sido levados à força para a Babilônia, Ezequiel estava bem familiarizado com o tema artístico dos Seres Alados e a Tamareira.
Junto com o Disco Alado (o emblema do 12° Planeta), o símbolo mais constante em todos os países da Antiguidade era o da Árvore da Vida. Escrevendo em Der Alte Orient, Felix von Luschau mostrou em 1912, época da publicação do artigo, que os capitéis das colunas jônicas e egípcias eram, de fato, estilizações da Árvore da Vida sob a forma de uma tamareira, e confirmou sugestões anteriores de que o Fruto da Vida tão decantado nas lendas e contos épicos era uma variedade especial de tâmara. Encontramos o tema da tamareira como o símbolo da Vida avançando até o Egito muçulmano, como se pode ver nas ornamentações da grande mesquita do Cairo.
Importantes estudos, como De Boom des Levens en Schrift en Historie de Henrik Bergema e The King and the Tree of Life in Ancient Eastern Religion, de Geo. Widengren, mostram que o conceito de uma Árvore da Vida, crescendo numa Morada dos Deuses, espalhou-se do Oriente Médio para o mundo todo e tornou-se um princípio básico de todas as religiões da Terra.
A fonte de todos esses desenhos e crenças foram os registros sumérios falando da Terra dos Vivos.
Tilmun,
Onde a mulher velha não diz "Sou uma velha",
Onde o homem velho não diz "Sou um velho".
Os sumérios, mestres em jogos de palavras, chamavam a Terra dos Mísseis de TIL.MUN. Todavia, o termo também podia significar "Terra dos Vivos", pois TIL também era "Vida". A Árvore da Vida em sumério era GISH.TIL, mas GISH também era o nome para um objeto manufaturado, algo feito pela mão do homem. Assim, GISH.TIL também podia ser "O Veículo para a Vida" - um foguete espacial. Na arte também encontramos os homens-águia saudando às vezes um foguete e em outras uma tamareira.
Os laços se apertam ainda mais quando descobrimos que na arte religiosa grega o omphalo era associado com a tamareira. Uma antiga pintura de Delfos mostra que a réplica do omphalos erigida no lado de fora do templo de Apolo ficava perto de uma tamareira. Já que esse tipo de árvore não cresce na Grécia, os eruditos acreditam que a tamareira era feita de bronze. A associação de omphalos com a tamareira deve ter sido uma questão de simbolismo básico, pois desenhos desse tipo repetiam-se em outros centros de oráculos gregos.
Vimos anteriormente que o omphalos é um vínculo entre os centros de oráculo da Grécia, Egito, Núbia e Canaã, e o Duat. Agora encontramos essa Pedra do Esplendor ligada à tamareira - a Árvore da Terra dos Vivos.
A árvore de Enki, marrom-escura, seguro em minha mão;
A árvore que faz a contagem, a grande arma voltada para os céus,
Seguro em minha mão;
A palmeira, a grande árvore de oráculos, seguro em minha mão.
A árvore que faz a contagem, a grande arma voltada para os céus,
Seguro em minha mão;
A palmeira, a grande árvore de oráculos, seguro em minha mão.
Um desenho da Mesopotâmia mostra um deus segurando essa "palmeira, grande árvore de oráculos".
Ele concede o Fruto da Vida a um rei no lugar dos "quatro deuses". Já tivemos a oportunidade de conhecê-los nos textos e desenhos egípcios: eles eram os deuses dos quatro pontos cardeais que apareciam perto da Escada para o Céu no Duat. Vimos também, nos desenhos sumérios, que o Portão para o Céu era marcado por uma tamareira.
Com tudo isso, não resta dúvida de que o alvo das antigas buscas pela imortalidade era um espaço-porto localizado em alguma parte da península do Sinai.
Fonte: Zecharia Sitchin (Escada Para o Céu) e bibliotecapleyades
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