Do fundo do Baú, com este título provocativo e com base em documentos da época, o autor
reconstruiu uma curiosa história que ocorreu no final do Século 19 e revela
a origem incomum de um forte tremor de terra ocorrido em Território
Brasileiro.
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Imagem de meteoro |
Na manhã de 27 de agosto de 1887 moradores
das cidades de Cananéia, SP e Paranaguá, PR, separadas por cerca de 80
km, sentiram a terra tremer.
Considerando a raridade do evento e a
proximidade geográfica das cidades era de se esperar que, cedo ou tarde,
os dois fatos fossem conectados. Mas isso não aconteceu, pois os
jornais da época e a documentação encontrada trataram os episódios
isoladamente. Mesmo o catálogo sísmico brasileiro, que reúne toda a
informação conhecida de terremotos ocorridos no país, apenas menciona o
evento sísmico de Paranaguá.
Somente agora, fundamentado em documentos
históricos é que os dois episódios foram explicados pela provável queda
ou explosão de um meteoro, possivelmente no mar, mas em um ponto não
distante daqueles dois municípios.
Naquele dia, pessoas que transitavam pelas
ruas de Paranaguá perceberam um nítido estremecimento do chão e a mesma
sensação foi notada por soldados e detentos da guarnição da Fortaleza da
Barra, na ilha do Mel, 17 km a leste da cidade.
Um canoeiro ouviu um grande estrondo e notou a
elevação do mar no interior da baía de Paranaguá. Nessa cidade e em
Antonina, o sistema telegráfico sofreu perturbações na “recepção e
transmissão de correntes”.
A Gazeta Paranaense de 1/9/1887 informou que
os tripulantes de duas embarcações que adentraram ao porto dois dias
após o tremor haviam ouvido “um surdo e prolongado rumor, semelhante ao
tiro colossal de peça de artilharia” e sentido um “pronunciado cheiro de
enxofre”. No momento dessa observação um dos navios se encontrava entre
as costas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Surpreendentemente, em Cananéia, além das
vibrações do chão e da percepção de um grande estrondo, vários moradores
testemunharam a queda de um bólido em terreno próximo à cidade.
Posteriormente, encontraram o ponto exato em que se dera a queda, pela
abertura de um grande fosso no chão.
Diante da coincidência das datas, inclusive
da precisão da hora e dos minutos e da relativa proximidade das cidades
afetadas fica difícil não considerar uma origem única para o fenômeno.
Pelos diversos depoimentos percebe-se que o
forte som, semelhante a uma grande explosão no ar, foi o elemento
preponderante observado por todos e nesse contexto, o tremor de terra
aparece como um elemento secundário.
Assim, pareceria razoável supor que o
fenômeno foi provocado pela explosão de um meteoro ao penetrar na
atmosfera em um ponto do espaço sobre o oceano, na altura da divisa da
região sul/sudeste do Brasil. Mesmo ocorrendo a quilômetros de altura o
impacto de uma explosão dessa natureza, entre outras coisas, produz
ondas acústicas com energia suficiente para fazer vibrar o solo à
semelhança de um tremor de terra.
Ao lado do registro de milhares de tremores
brasileiros de origem tectônica estão uns poucos que aconteceram por
causas diferentes, como os induzidos por grandes reservatórios
hidrelétricos, ou pela exploração de minas subterrâneas. Agora, a esta
seleta listagem de tremores incomuns poderia ser agregado o singular
abalo da manhã de 27 de agosto de 1887.
No Brasil
Apesar de existirem dezenas de relatos sobre o
impacto de meteoros no Brasil, algumas são realmente dignas de nota
devido à colossal energia liberada.
A maior estrutura de impacto brasileira é
conhecida como Domo de Araguainha, uma cratera erodida localizado na
divisa dos estados de Mato Grosso e Goiás. Com diâmetro de 40 km, a
feição foi criada há 250 milhões de anos por um objeto de
aproximadamente 2 a 3 km de diâmetro. O impacto foi tão violento que
escavou os sedimentos da Bacia do Paraná, na parte central do Brasil e
deixou a mostra pelo menos 5 km do embasamento cristalino, o conjunto de
rochas que compõe a porção externa da crosta continental.
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Domo de Araguainha |
Segundo
alguns pesquisadores, parte da energia liberada pelo impacto vaporizou e
fundiu rochas em um raio de vários quilômetros e amostras desse
material puderam ser encontradas no continente africano que, na época,
ainda estava unido ao sul-americano.
Utilizando relações entre energia cinética,
escalas de crateras transientes e eficiência sísmica (Shoemaker 1983) a
magnitude desse evento foi calculada em Mw = 11 (Marza & Veloso
2005) uma quantidade tão grande de energia que escapa à comparação de
qualquer atividade desenvolvida pelo homem.
Para se ter uma ideia, o maior artefato
nuclear já construído, a bomba termonuclear Tsar, detonada em 1962,
tinha força de 50 megatons, ou 50 milhões de toneladas de TNT. No
entanto, o episódio de Araguainha foi tão colossal que precisa ser
quantificado na unidade teraton - equivalente a um milhão de megatons.
Outra comparação é dizer que sua energia foi
cerca de 400 milhões de vezes maior que o principal terremoto já
registrado no Brasil - o sismo de magnitude 6.6, ocorrido no Mato Grosso
em 31 de janeiro de 1955. Apesar de o impacto ter sido um evento de
idade geológica ele chama atenção por ter acontecido a cerca de 500 km
de onde viria nascer a futura capital brasileira.
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