12/01/2013

Zecharia Sitchin - A Escada Para o Céu: CAP. 4 - A Escada Para o Céu

Imaginemo-nos no magnífico templo funerário do faraó. Depois de terem mumificado e preparado o corpo, os sacerdotes Shem agora cantam para os deuses, pedindo-lhes para abrir um caminho e portões. O mensageiro divino já chegou ao outro lado da porta falsa, pronto a ajudar o faraó a passar pela parede de pedra e iniciá-lo em sua viagem.

Ao passar pela porta falsa no lado leste da tumba, o Ka do faraó recebia instruções sobre o rumo que deveria tomar. Para não haver equívocos, ele era explicitamente alertado para não seguir para oeste. "Os que para lá vão, jamais voltam!" Seu destino era o Duat, na Terra dos Deuses da Montanha. Lá, ele entraria na "Grande Casa dos Dois... a Casa de Fogo", onde, durante uma "noite de anos somados", seria transformado num Ser Divino, ascendendo "para o lado leste do céu".

O primeiro obstáculo na rota do faraó era o lago de Juncos, uma grande área pantanosa constituída por um série de lagoas contíguas. Em termos simbólicos, ele tinha a bênção de seu deus guardião, que separaria as águas do lago para facilitar-lhe a travessia. Em termos práticos, a viagem pelos pântanos só seria possível porque no lago havia o Barqueiro Divino que transportava os deuses num barco construído por Khnum, o Divino Artesão. O barqueiro, contudo, ficava estacionado na outra margem do lago e o faraó encontrava grande dificuldade em convencê-lo de que tinha direito de ser apanhado e transportado.

O barqueiro interrogava o faraó sobre suas origens. Era mesmo filho de um deus ou uma deusa? Tinha o nome inscrito no "Registro dos Dois Grandes Deuses"? O rei explicava sua reivindicação de ser de "semente divina" e dava garantias de sua retidão. Em alguns casos, apenas isso era o bastante. Em outros, o faraó precisava apelar a Ra ou Thot para conseguir atravessar o lago, quando então o barco, remos e timão adquiriam vida própria, tomados por forças estranhas, e o rei só tinha de ficar segurando o leme, que era autopropulsionado. Bem, o fato é que, de uma forma ou de outra, o faraó conseguia atravessar o lago e dirigir-se para "Os Dois que Trazem o Céu mais Perto".

Ele desce para o barco, como Ra, nas margens das Águas Meandrantes.
O rei rema no barco Hanbu
Ele pega o leme que o leva
Para a planície de "Os Dois que Trazem o Céu mais Perto",
Na terra que começa depois do lago de Juncos.

O lago de Juncos ficava situado na margem leste dos domínios de Hórus. Além dele, localizavam-se os territórios de seu adversário, Set, as "terras da Ásia". Como seria de se esperar numa fronteira tão delicada, o faraó descobria que a margem leste era patrulhada por quatro "guardas de travessia, aqueles que usam cachos nos lados da cabeça". O penteado desses guardas era, sem dúvida alguma, sua característica mais notável. "Negros como carvão (os cabelos) eram arranjados em cachos em torno da testa, têmporas e nuca, com tranças no meio da cabeça." , Combinando diplomacia com firmeza, o faraó novamente confirmava suas origens divinas, garantindo que fora chamado por "meu pai, Ra". Conta-se que um rei usou de ameaças: "Retardem minha travessia e eu arrancarei seus cachos como se arrancam flores de lótus da lagoa!" Outro clamou aos deuses para virem em seu auxílio. O fato é que, usando um expediente qualquer, o faraó conseguia prosseguir em sua jornada.

O rei agora deixa as terras de Hórus. O lugar ao leste que tenta alcançar, embora ele viaje sob a égide de Ra, fica na "região de Set".

Sua meta é uma área montanhosa, as Montanhas do Leste e a rota o leva para uma passagem entre duas montanhas, "as duas montanhas que se atemorizam diante de Set". No entanto, o faraó primeiro precisa atravessar uma região árida e estéril, um tipo de terra de ninguém entre os domínios de Hórus e Set. É nesse ponto que os versos das Elocuções crescem em ritmo e urgência, pois o rei está se aproximando do lugar Oculto, onde ficam localizadas as Portas do Céu, e outros guardas vêm interpelá-lo: "Aonde vais?

Os protetores do Faraó respondem por ele: "Ele vai para o céu para ter vida e alegria; para poder ver seu pai, para poder ver Ra". Enquanto os guardas analisam o pedido, o próprio faraó suplica: "Abram a fronteira... inclinem a barreira... deixem-me passar como passam os deuses".

Tendo vindo do Egito, das terras de Hórus, o rei e seus protetores reconhecem a necessidade de prudência. Nessa altura, muitos versos e elocuções são empregados para deixar claro que o faraó é uma pessoa neutra na briga entre os deuses. Ele é apresentado tanto como "nascido de Hórus, aquele diante de cujo nome a Terra treme", como "concebido por Set, aquele diante de cujo nome o céu treme". O faraó enfatiza não somente sua afinidade com o deus Ra, pai dos dois, como também declara que viaja "a serviço de Ra", com isso criando um salvo-conduto vindo de uma autoridade mais alta. Com astuciosa eqüidistância, os Textos das Pirâmides fazem ver aos grandes deuses que eles teriam interesse na continuação da viagem, pois Ra sem dúvida apreciaria à ajuda dada a alguém viajando a seu serviço.

Finalmente os guardas da terra de Set permitem que o faraó continue em direção ao desfiladeiro. Seus protetores certificam-se de que ele está consciente da importância do momento:

Tu agora estás a caminho dos lugares altos
Na terra de Set.
Na terra de Set.
Tu serás colocado nos lugares elevados,
Naquela alta Árvore do Céu do Leste
Onde sentam-se os deuses.
O rei chega ao Duat.


O Duat era concebido como um Círculo dos Deuses, em cuja parte superior havia uma abertura para o céu (simbolizado pela deusa Nut), através da qual podia ser alcançada a Estrela Imorredoura (simbolizada pelo Disco Celestial). Algumas fontes insinuam que na verdade essa área era um vale mais oblongo ou oval, cercado de montanhas. No qual havia um rio que se dividia em muitos braços, mas ele era pouco navegável e na maior parte do tempo o barco de Ra tinha de ser puxado ou movimentar-se sozinho, como um "barco de terra", um trenó.

O Duat tinha doze divisões, descritas de maneira variada com campos, planícies, círculos murados, cavernas ou salões, que começavam ao nível do solo e continuavam terra adentro. O falecido rei levava doze horas para atravessar esse impressionante e encantado reino, o que só era possível porque Ra colocava a sua disposição seu barco ou trenó mágico, onde ele viajava auxiliado pelos seus deuses protetores.
Havia sete espaços ou desfiladeiros nas montanhas que circundavam o Duat e dois deles ficavam nas montanhas ao leste do Egito (isto é, nas montanhas do lado oeste do Duat), que eram chamadas de "O Horizonte" ou "O Chifre" do "Lugar Oculto". O desfiladeiro que Ra atravessara tinha 220 atru (cerca de 40 quilômetros) de comprimento e seguia o curso de um rio. O rio, porém, costumava secar e o barco de Ra precisava ser puxado. O desfiladeiro era guardado e tinha fortificações "cujas portas eram fortes".

O faraó, como indicam alguns papiros, tomava a rota que levava para um segundo desfiladeiro, mais curto, com cerca de 22 quilômetros de comprimento. Os desenhos dos papiros o mostram no barco ou trenó de Ra passando entre dois picos de montanhas. Em cada um desses picos está postada uma companhia de doze deuses guardiães. Os textos descrevem também um Lago de Água Fervente próximo dessa área, cujas águas, a despeito de sua natureza flamejante, são frias ao toque. Um fogo queima no subsolo. O local tem um forte cheiro betuminoso ou de "sódio", que afasta os pássaros. No entanto, não muito longe dali, está representado um oásis com arbustos ou árvores baixas.

Uma vez vencido o desfiladeiro, o rei encontra outras companhias de deuses guardiães. "Entre em paz", dizem eles. O faraó chega, assim, à segunda divisão do Duat.

Essa segunda divisão é chamada, devido ao rio que atravessa, de Urnes, nome que alguns estudiosos comparam com Urano, o deus dos céus grego. Com cerca de 22 por 50 quilômetros, essa divisão é habitada por pessoas de cabelos compridos que comem a carne de seus jumentos e dependem dos deuses para água e sustento, pois o lugar é árido e os rios estão sempre secos. Até mesmo a embarcação do próprio Ra precisara se transformar num "barco de terra" para atravessá-la. Essa região está associada ao Deus da Lua e a Hathor, a Deusa da Turquesa.

Auxiliado pelos deuses protetores, o faraó passa em segurança pela segunda divisão e na Terceira Hora atinge Net-Asar, "o rio de Osíris". De tamanho similar à anterior, essa terceira divisão é habitada pelos "Lutadores" e é nela que ficam os quatro deuses encarregados dos quatro pontos cardeais.

As descrições pictóricas que acompanham os textos surpreendentemente mostram o rio de Osíris como um curso de água que corre mansamente por uma área cultivada. Depois de passar por entre uma cadeia de montanhas, ele divide-se em afluentes. Nesse ponto, vigiada pelos lendários pássaros Fênix, fica a "Escada para o Céu", e o Barco Celestial de Ra é representado como estando no alto de uma montanha ou subindo ao céu em rios de fogo.

A essa altura, novamente aumenta o ritmo das orações e Elocuções. O rei invoca seus "protetores mágicos" para que "este homem da Terra possa entrar no Neter-Khert" sem ser incomodado. O faraó aproxima-se do Duat; ele encontra-se perto do Amen-Ta, o "Lugar Oculto".


Foi lá que Osíris subiu para a Vida Eterna. Era lá que "Os Dois que Trazem o Céu mais Perto" ficavam "contra o firmamento", como duas árvores mágicas. O faraó oferece uma prece a Osíris. O título do capítulo no Livro dos Mortos é: "Capítulo de Fazer Seu Nome Garantido no Neter-Khert".

Conceda-me meu Nome na Grande Casa dos Dois;
Que meu Nome seja concedido na Casa de Fogo.
Na noite dos anos somados e da contagem de meses,
Que eu seja um Ser Divino,
Que eu sente no lado leste do céu.
Que o deus me empurre por trás,
Eterno é seu Nome.
O faraó já consegue avistar a "Montanha de Luz".
Ele chegou à Escada para o Céu.

Os Textos das Pirâmides dizem que esse lugar "era a escadaria para se atingir as alturas". Os degraus são descritos como "os degraus para o céu, assentados para o rei, para que ele possa através deles subir aos céus". O hieróglifo para a Escada para o Céu às vezes é uma única escada (que também costumava ser fundida em ouro e usada com talismã) ou mais freqüentemente uma escada dupla como uma pirâmide de degraus. Essa Escada para o Céu fora construída pelos deuses da cidade de An - localização do principal templo de Ra - para que pudessem "unir-se com o Alto".

A meta do rei é a Escada Celestial, uma escada de mão ou Ascensor que o transportará para o alto. Todavia, para chegar a ela, que fica na Casa de Fogo, a Grande Casa dos Dois, ele precisa primeiro entrar no Amen-Ta, a Terra Oculta de Seker, deus dos Territórios Selvagens.

Essa região, chamada de País das Trevas ou Terra da Escuridão, é descrita como um círculo fortificado que só pode ser atingido pela entrada numa montanha e a descida por seus corredores em espiral, protegidos por portas secretas. O faraó precisa ingressar nessa quarta divisão do Duat, mas a entrada na montanha é ladeada por dois muros e a passagem entre eles está tomada por labaredas e protegida por deuses guardiães.

Quando o próprio Ra chegar à parte de acesso ao Lugar Oculto, "ele atenderá aos desígnios" - ou seja, seguirá os procedimentos "dos deuses que ficam lá dentro, usando apenas a voz, sem vê-los". Ora, poderia a voz de um simples faraó resultar na abertura das portas dessa divisão? Os textos lembram ao rei que somente "aquele que conhece a planta dos túneis escondidos que ficam na Terra de Seker" poderá viajar pelo Lugar das Passagens Subterrâneas c comer o pão dos deuses.
Mais uma vez o faraó apresenta suas credenciais: "Sou o Touro, um filho dos ancestrais de Osíris", proclama. Então os deuses protetores pronunciam em seu favor as palavras cruciais que lhe abrirão a entrada:

A admissão não é recusada para ti
No portão do Duat;
As portas dobráveis da Montanha de Luz
Estão abertas para ti;
Os ferrolhos, por si mesmos, abrem-se para ti.
Tu pisas o Salão das Duas Verdades;
O deus que lá está saúda-te.

Pronunciada a fórmula ou senha correta, um deus chamado Sa emite uma ordem. A uma palavra sua as chamas se extinguem, os guardas se afastam, portas se abrem automaticamente e o faraó entra no mundo subterrâneo.

"A boca do chão se abre para ti, a porta leste do céu está aberta para ti", anunciam os deuses do Duat para o rei. Eles o tranqüilizam afirmando que, apesar de estar entrando pela boca do chão, aquilo é de fato o Portão para o Céu, a tão ansiada porta leste.

A viagem durante a quarta hora e as seguintes conduz o faraó através de túneis e cavernas onde deuses com variadas funções às vezes são vistos e em outras apenas ouvidos. Nesse lugar há canais subterrâneos, onde deuses navegam de um lado para o outro em barcos silenciosos. Existem também luzes fantasmagóricas, águas fosforescentes, lanternas que iluminam o caminho. Ao mesmo tempo encantado e apavorado, o rei prossegue na direção dos "pilares que alcançam o céu".

Os deuses que ele vê ao longo do caminho estão em sua maioria organizados em grupos de doze e são chamados de "Deuses das Montanhas", "Deuses da Montanha da Terra Oculta" ou "Donos do Tempo na Terra Oculta". Os desenhos que acompanham alguns dos antigos textos fornecem a identificação desses deuses pelos diferentes cetros que carregam, o que usam na cabeça ou então representando suas características animais. Eles têm cabeça de falcão, chacal ou leão. Serpentes também aparecem bastante, representando guardas subterrâneos ou criados dos deuses na Terra Oculta.

Os textos e as antigas ilustrações sugerem que o faraó entrou num complexo circular subterrâneo, dentro do qual corre um grande túnel em espiral, que primeiro desce e depois sobe. As representações, mostrando um corte transversal da área, apresentam um túnel descendente com cerca de 12 metros de altura, teto e piso lisos, ambos feitos de um material sólido, com uma espessura de 50 a 90 centímetros. O túnel está dividido em três níveis e o rei avança pelo corredor do meio. O superior e inferior são ocupados por deuses serpentes e estruturas para uma variedade de funções.

O trenó do rei, puxado por quatro deuses, começa a avançar deslizando silenciosamente pelo corredor do meio; apenas uma luz que sai da proa do veículo ilumina o caminho. Porém, a passagem fica bloqueada por uma divisória em ângulo, o que obriga o faraó a descer e continuar a pé.


Essa divisória, como mostram as representações em seção transversal, é a parede de um poço que corta os três níveis de túneis (que têm uma inclinação de 15 graus) num ângulo bem maior, com aproximadamente 40 graus. Esse poço parece começar acima dos túneis, talvez ao nível do solo, ou mais acima dentro da montanha, e dá a impressão de terminar quando atinge o piso do túnel Inferior. Esse poço é chamado de Ra-Stau - "O Caminho das Portas Ocultas" - e, de fato, no primeiro e segundo níveis há espaços que poderiam ser câmaras de compressão, com fechamento pneumático. Segundo os textos, essas câmaras permitem que Seker e outros "deuses ocultos" passem por esse poço, apesar de a "porta não ter folhas ". O faraó, que desceu do trenó, passa misteriosamente pela parede inclinada sob o comando de algum deus, cuja voz ativa a abertura pneumática. No outro lado, ele é recebido por representantes de Hórus e Thot, e passa de um para o outro.

Continuando a descida, o faraó vê "deuses sem rosto" - deuses cujo rosto não pode ser visto. Ofendido ou apenas curioso, ele suplica:

Descobri vossos rostos,
Tirai vossos elmos,
Quando vierdes ao meu encontro.
Pois, olhai, eu [também] sou um deus poderoso,
Vindo para estar entre vós.

Todavia, os deuses não atendem à súplica e os textos explicam que mesmo eles, "esses seres ocultos, não vêem nem encaram" seu próprio chefe, o deus Seker, "quando ele próprio está sob essa forma, quando encontra-se dentro de sua morada no solo".


Prosseguindo sua descida em espiral, o faraó passa por uma porta e vê-se no terceiro nível, o mais profundo. Ele entra numa antecâmara, decorada com o emblema do Disco Celestial, e é saudado pelo deus que nos textos é chamado de "O Mensageiro dos Deuses" e por uma deusa que usa o emblema emplumado de Shu, "Aquele que Repousou no Firmamento sobre a Escada para o Céu". Como indicado no Livro dos Mortos, o faraó proclama:

Salve, dois filhos de Shu!
Salve, filhos do lugar do Horizonte...
Posso subir?
Posso prosseguir viagem como Osíris?

A resposta tem de ser positiva, pois são esses dois deuses que dão passagem ao faraó, abrindo uma porta pesada c permitindo sua entrada nos corredores que só os deuses ocultos podem utilizar.

Na quinta Hora, o faraó alcança as partes subterrâneas mais profundas, os caminhos secretos de Seker. Seguindo corredores que sobem e descem, ele não consegue ver o deus. Os desenhos em seção transversal mostram Seker como uma pessoa com cabeça de falcão, em pé sobre uma serpente e segurando duas asas dentro de uma estrutura oval completamente lacrada, situada na parte mais inferior do túnel, que é guardada por duas esfinges. Apesar de o rei não poder ver essa câmara, ele ouve "um ruído forte, como o ouvido nas alturas do céu quando ele é perturbado por uma tempestade", Da câmara lacrada verte uma lagoa subterrânea cujas "águas são como fogo". Por sua vez, tanto a câmara como a lagoa estão encerradas dentro de uma estrutura em forma de casamata, com uma câmara de compressão compartimentalizada à esquerda e uma enorme porta à direita. Para maior proteção, empilhou-se terra sobre a câmara vedada, Esse monte de terra é encimado por uma deusa, qual se vê apenas a cabeça, projetando-se no corredor pelo qual desce o faraó. O símbolo para escaravelho, que significa "rolar, vir a ser", liga a cabeça da deusa com um objeto ou câmara arredondada que fica na passagem superior, no qual estão empoleirados dois pássaros.

Os textos e símbolos nos informam que, embora Seker estivesse oculto, sua presença podia ser conhecida até mesmo na escuridão por causa de um brilho “que sai da cabeça e dos olhos do grande deus, cuja carne irradia luz". Essa estrutura tripla - deusa, escaravelho (Kheper) e câmara superior - aparentemente servia para permitir que o deus oculto fosse informado do que acontecia fora de sua câmara hermeticamente fechada. O texto ao lado do escaravelho diz: "Vejam Kheper que, assim que ele (o barco?) é puxado para o alto deste círculo, liga-se com os costumes do Duat. Quando este deus fica na cabeça da deusa, ele fala palavras para Seker todos os dias".

A passagem do faraó por sobre a câmara oculta de Seker e a estrutura através da qual era informado do evento era considerada uma fase crucial da viagem. Na Antiguidade, os egípcios não eram os únicos a acreditar que cada falecido enfrentava um momento de julgamento, um determinado instante onde seus feitos e coração eram pesados e avaliados. Dependendo do resultado do julgamento, a lama ou Duplo era condenada às Águas Flamejantes do inferno ou abençoada para gozar das águas frescas e vivificantes do paraíso. Segundo relatos muito antigos, era na passagem pela câmara de Seker que acontecia o momento da verdade para o faraó.

Falando pelo deus do Duat, a deusa, da qual só se via a cabeça, anunciava a decisão favorável: "Venha em paz para o Duat... avança em teu barco na estrada que fica dentro da terra". Denominando-se a si mesma de Ament ("A Oculta"), ela acrescentava "Ament te chama para o firmamento, como o Grande que está no horizonte".

Passando pelo teste, não morrendo uma segunda vez, o rei renascia. Seu caminho agora o leva para uma fileira de deuses, cuja tarefa seria punir os condenados, mas ele prossegue, incólume. Volta ao seu barco ou trenó e é acompanhado por uma procissão de deuses, dos quais um segura o emblema da Árvore da Vida.

O faraó foi considerado digno de uma Outra Vida.

Deixando a zona de Seker, o faraó entra na sexta divisão, que é associada a Osíris. (Em certas versões do Livro dos Portões, era nessa hora que Osíris julgava os mortos). Deuses com cabeça de chacal, que "Abrem Caminhos", convidam o rei a dar um mergulho refrescante na lagoa subterrânea ou lago da Vida, como o próprio Grande Deus fizera ao passar anteriormente por ali. Outros deuses, "que zumbem como abelhas", residem em cubículos cujas portas vão se abrindo sozinhas enquanto o faraó avança. À medida que ele progride, os epítetos dos deuses assumem uma conotação mais técnica. Lá estão doze deles "que seguram a corda no Duat" e doze "que seguram o cordão de medir".

A sexta divisão é ocupada por uma série de câmaras bem próximas umas das outras. Um caminho curvo recebe o nome de "O Caminho Secreto do Lugar Oculto". O barco do faraó é puxado por deuses vestindo peles de leopardo, exatamente como os sacerdotes Shem que conduzem a cerimônia de Abertura da Boca.

Estaria o rei se aproximando da Abertura ou Boca da Montanha? No Livro dos Mortos, nesse ponto os capítulos têm títulos como: "O capítulo de cheirar o ar e conseguir força". O veículo do faraó agora "possui poderes mágicos... ele viaja por onde não existe rio e não há ninguém para puxá-lo; ele realiza isso por meio de palavras de poder", que saem da boca de um deus.

À medida que o faraó vai passando para a sétima divisão, atravessando um portão guardado, os deuses e o ambiente vão perdendo suas características "subterrâneas" e começam a assumir aspectos celestiais. O rei encontra o deus com cabeça de falcão, Heru-Her-Khent, que usa na cabeça o emblema do Disco Celestial e cujo nome escrito em hieróglifos inclui o símbolo da escada. Sua tarefa é "enviar os deuses-estrela para seu caminho e fazer as deusas-constelação prosseguir em seu caminho". Nas representações, esse grupo de doze deuses e doze deusas era mostrado junto com emblemas de estrelas. Os cânticos para eles eram dirigidos aos "deuses estrelados" ...

Que são divinos em carne, cujos poderes mágicos tomaram vida...
Que se unem dentro de suas estrelas, que se erguem para Ra...
Que suas estrelas guiem as duas mãos de Ra para que ele possa viajar em paz para o Lugar Oculto.

Nessa divisão estão presentes duas companhias de deuses associados com o Ben-Ben, o misterioso objeto de Ra guardado em seu templo na cidade de An (Heliópolis). Eles são "aqueles que possuem o mistério", que montam guarda ao objeto dentro da Het-Benben (A Casa do Ben-Ben), e oito que guardam o lado de fora, mas que também "entram dentro do Objeto Oculto". Nessa sétima divisão há nove objetos enfileirados, representando o símbolo Shem que, escrito em hieróglifos, significa "Seguidor".

O faraó agora chega às partes do Duat associadas com An, o deus que deu nome à cidade de Heliópolis. Na Nona Hora ele vê o local de repouso dos doze "Divinos Remadores do Barco de Ra", que operam o celestial "Barco dos Milhões de Anos" de Ra. Na Décima Hora, depois de passar por um portão, o faraó entra num lugar fervilhante de atividade. A tarefa dos deuses que lá estão é fornecer Chamas e Fogo para o barco de Ra. Um dos deuses é chamado de "Capitão dos Deuses do Barco". Dois outros são aqueles "Que Ordenam o Curso das Estrelas". Eles e outros deuses são pintados por um, dois ou três símbolos para estrela, como indicando uma patente qualquer relacionada com os céus.

Na passagem da décima para a 11ª. divisão, aumenta rapidamente a afinidade com os céus. Os deuses ostentam emblemas de estrelas ou do Disco Celestial. Há oito deusas com emblemas de estrelas "que vieram da morada de Ra". O faraó vê a "Estrela Dama” e a "Estrela Cavalheiro", e deuses cuja função é fornecer "força para emergir" do Duat ou "fazer o Objeto de Ra avançar para a Casa Oculta nos Céus Superiores".

Aqui também existem deuses e deusas cuja tarefa é equipar o faraó para uma viagem celestial "por sobre o firmamento". Acompanhado de outros deuses, ele é impelido a entrar numa "serpente”, dentro da qual "se libertará da pele", emergindo depois "sob a forma de um Ra rejuvenescido". Alguns dos termos dos Textos das Pirâmides empregados neste trecho ainda não estão decifrados ou compreendidos, mas o processo pode ser claramente entendido: o faraó, tendo entrado vestido como chegara ao Duat, agora emerge como um falcão, "equipado como um deus". Ele põe no chão a veste Mishdt; coloca nas costas o "traje-marca"; tira sua divina veste Shuh e põe o "colar do amado Hórus", que é como "um colar no pescoço de Ra". Feito isso, "o rei estabelece-se como um deus, está igual a eles", e diz ao deus que o acompanha: "Se tu vais para o Céu, o rei também vai para o Céu".

Nessa altura, as ilustrações dos antigos textos mostram um grupo de deuses trajados de maneira incomum, com macacões justos enfeitados por golas redondas.

Esse grupo é conduzido ou dirigido por um deus com o emblema do Disco Celestial sobre a cabeça, que está com os braços estirados entre as asas de uma serpente que tem quatro pernas humanas. Contra um fundo estrelado, deus e serpente olham para uma outra serpente que, embora sem asas, claramente voa enquanto carrega sentado em seu dorso o deus Osíris.

Depois de ter sido adequadamente equipado, o rei é levado para uma abertura no centro de uma parede semicircular. Ele passa pela porta oculta e agora avança por um túnel que tem "1.300 cúbitos (aproximadamente 650 metros) de comprimento", chamado de "Alvorecer no Final". O faraó chega a um vestíbulo; emblemas do Disco Alado são vistos por todos os lados. Ele encontra "deusas que lançam luz sobre o caminho de Ra" e um cetro mágico que representa "Set, o Observador".
Os deuses explicam ao impressionado faraó:

Esta caverna é o amplo salão de Osíris
No qual é trazido o vento;
O vento norte, refrescante,
Te erguerá, oh, rei, como Osíris
.

Agora o faraó está na décima segunda divisão, na hora final da viagem. Ela é o "limite máximo da espessa escuridão". O ponto que o rei atingiu é chamado de "Montanha da Ascensão de Ra". Ele olha para cima e se surpreende: o Barco Celestial de Ra paira diante de seus olhos em toda sua impressionante majestade.
O rei agora está junto a um objeto que recebe o nome de "O Ascensor para o Firmamento". Alguns textos sugerem que o próprio Ra preparou o Ascensor para o faraó, "de modo que o rei possa nele subir aos céus"; outros dizem que o Ascensor foi feito ou montado por vários deuses. Ele também é "o Ascensor que transportou Set" na direção dos céus. Como Osíris só conseguiu atingir o firmamento com esse Ascensor, ele também é necessário para que o faraó possa ser trasladado, tal como o grande deus, para a vida eterna.
O Ascensor ou Escada Divina não era uma escadinha qualquer. Dizem os textos que ela era amarrada com cabos de cobre: "seus tendões são como os do Touro do Céu". As "partes em pé nos dois lados" eram cobertas de um tipo de "pele"; os degraus eram talhados em Sesha (significado desconhecido); e uma "grande escora foi colocada sob ele por Aquele que Amarra".


As ilustrações do Livro dos Mortos mostram uma Escada Divina semelhante, às vezes com o sinal Ankh ("Vida") estendendo-se simbolicamente para o Disco Celestial no firmamento, sob a forma de uma torre alta, com uma superestrutura. Estilizada, a torre também aparece nos hieróglifos ("Ded") e significa "Perenidade". Esse símbolo estava especialmente associado a Osíris, pois conta-se que diante de seu templo, em Abidos, havia um par de Ded para lembrar os dois objetos que ficavam na Terra de Seker e possibilitavam a subida do deus ao céu.


Uma longa Elocução dos Textos das Pirâmides é ao mesmo tempo um hino ao Ascensor ou "Escada Divina" e uma prece para que ele seja concedido ao faraó Pepi:

Saudações, divino Ascensor;
Saudações, Ascensor de Set.
Fica em pé, Ascensor de deus;
Fica em pé, Ascensor de Hórus pelo qual Osíris foi para o céu...
Senhor do Ascensor...
Para quem dareis a Escada de deus?
Para quem dareis a Escada de Set,
De modo que Pepi possa por ela subir ao céu e prestar serviço como cortesão de Ra?
Permita que a Escada de deus seja dada a Pepi;
Permita que a Escada de Set seja dada a Pepi para Pepi poder por ela subir ao céu.

O Ascensor era operado por quatro homens-falcão, os "Filhos de Hórus" (o deus-falcão), que eram "os marinheiros do barco de Ra". Esses quatro jovens também recebiam o nome de "Filhos do Firmamento" e eram eles "que vêm do lado leste do firmamento... que preparam duas bóias para o rei, para ele assim poder subir para o horizonte, para Ra". Eram esses quatro moços que "juntavam" montavam, preparavam - o Ascensor para o faraó. "Eles trazem o Ascensor... eles preparam o Ascensor... eles levantam o Ascensor para o rei... para o rei poder por ele subir aos céus.”
O faraó faz uma prece:

Que meu "Nome" me seja dado na Grande Casa dos Dois;
Que meu "Nome" me seja chamado na Casa de Fogo, na noite dos Anos Somados.

Algumas ilustrações mostram o faraó recebendo um Ded - a Perenidade. Abençoado por Ísis e Néftis, ele é levado por um deus-falcão até um Ded semelhante a um foguete, equipado com aletas.


A prece do faraó suplicando a "Perenidade", um "Nome", uma "Escada Divina", foi atendida. Agora ele está para começar sua efetiva subida aos céus.

Embora o faraó tenha pedido uma única Escada Divina, dois Ascensores são erguidos. Tanto o "Olho de Ra" como o "Olho de Hórus" são preparados e colocados em posição, um na "asa de Thot" e o outro na "asa de Set". Os deuses explicam para o perplexo faraó que o segundo barco é para o "filho de Aten", um deus que veio do Disco Alado - talvez o mesmo com o qual o faraó conversou na "câmara de equipamento".

O Olho de Hórus está montado
Sobre a asa de Set.
Os cabos estão amarrados.
Os barcos estão montados.
Que o filho de Aten não fique sem barco.
O rei está, com o filho de Aten;
Ele não está sem barco.

"Equipado como um deus", o faraó é ajudado por duas deusas "que seguram seus cabos" para ele poder subir no olho de Hórus. O termo "Olho" (de Hórus, de Ra), que pouco foi substituindo a palavra Ascensor ou Escada, agora está, cada vez mais sendo deslocado pela palavra "barco". O "olho" ou "barco" onde o faraó entra tem cerca de 770 cúbitos (aproximadamente 350 metros) de comprimento. Um deus encarregado desse barco está sentado na sua proa. Ele recebe a ordem: "Leve este rei contigo na cabine de teu barco".

Enquanto o rei "desce para o poleiro" - um termo que indica um lugar elevado, como o que os pássaros usam para repousar - ele consegue ver o rosto do deus que comanda a cabine "pois o rosto do deus está aberto". O faraó "senta-se no divino barco", entre dois deuses; o banco é chamado "Verdade que torna vivo". "Dois chifres" projetam-se da cabeça (ou capacete) do faraó; "ele prende em si aquilo que saía da cabeça de Hórus". O faraó está conectado, pronto para a ação. Os textos que tratam da viagem de Pepi I para a Outra Vida descrevem esse momento: "Pepi está usando os trajes de Hórus, as vestes de Thot; tem Ísis diante dele e Néftis atrás; Ap-uat, o que Abre Caminhos, abriu uma via para ele; Shu, O que Segura o Firmamento, o levantou; os deuses de An o fazem subir à Escada e o colocam diante do firmamento; Nut, a deusa do firmamento, estende a mão para ele". O momento mágico chegou. Bastam apenas duas portas serem abertas e o faraó - como Ra e Osíris anteriormente - emergirá triunfante do Duat e seu barco navegará nas Águas Celestiais. Ele ora em silêncio: "Oh, Altíssimo... tu, Porta do Céu; o rei veio a ti; faça com que essa porta se abra para ele", Os dois "pilares Ded estão em pé", eretos, imóveis,

Então, subitamente, "as Portas Duplas do céu se abrem!" O texto explode em manifestações de êxtase:

A Porta para o Céu está aberta!
A Porta para o Céu está aberta!
A abertura das janelas celestiais está aberta!
A Escada para o Céu está aberta;
Os Degraus de Luz são revelados...
A Porta Dupla para o Céu está aberta;
A Porta Dupla do Khebhu está aberta para Hórus do leste, ao amanhecer.

Deuses-macaco, simbolizando a lua minguante ("O Amanhecer"), começam a pronunciar "palavras mágicas de poder que farão o esplendor sair do Olho de Hórus". O "esplendor" - que já foi relatado como sendo a característica mais marcante da Montanha de Luz, com seus dois picos - se intensifica:

O deus-firmamento fortaleceu o esplendor para o rei que o rei possa elevar-se ao Céu como o Olho de Ra.
O rei está neste Olho de Hórus, onde é ouvida a ordem dos deuses.

O "Olho de Hórus" começa a mudar de cor, passando do azul para o vermelho. Há muita atividade e agitação por todos os lados:

O Olho de Hórus está vermelho de cólera.
Seu poder ninguém suporta.
Seus mensageiros se apressam, seu corredor aperta o passo.
Eles anunciam àquele que ergue o braço no leste: "deixa este passar".
Que o rei ordene aos pais, os deuses:
"Silenciai... colocai as mãos na boca...parai na porta do horizonte, abri as Portas Duplas (do Céu)".

O silêncio é quebrado. Agora há som e fúria, rugidos e estremecimento:

O Céu fala, a Terra treme;
A Terra treme;
Os dois agrupamentos de deuses gritam;
O chão se abre...
Quando o rei ascende ao Céu quando ele passa por sobre a abóbada (na direção do Céu)...
A Terra ri, o firmamento sorri quando o rei ascende ao Céu.
O Céu grita de alegria por ele;
A Terra estremece por ele.
A tempestade uivante o impele.
Ela ruge como Set.
Os guardiães das partes do Céu
Abrem as portas do Céu para ele.

Então, "as duas montanhas se dividem" e há o lançamento na direção do céu nebuloso do amanhecer, na qual não se vêem mais as estrelas noturnas:

O firmamento está encoberto, as estrelas escureceram.
Os arcos estão agitados, os ossos da Terra tremem.

No meio da agitação, rugidos e estremecimentos, o "Touro do Céu" ("cuja barriga é cheia de mágica") ergue-se da "Ilha da Chama". Então cessa o burburinho e o faraó está no alto - "surgindo como um falcão":

Eles vêm o rei surgir como um falcão, como um deus;
Para viver com seus pais, alimentar-se com suas mães...
O rei está no Touro do Céu... cuja barriga é cheia de mágica da Ilha da Chama.

A Elocução 422 fala com eloqüência desse momento:

Oh, este Pepi!
Tu partiste
Tu és um Glorioso, poderoso como um deus, sentado como Osíris!
Tua alma está dentro de ti;
Teu Poder ("controle”) tens atrás de ti;
Tua cabeça a coroa-Misut está junto de tua mão.
Tu ascendes para tua mãe, a deusa do Céu
Ela segura teu braço, ela te mostra o caminho para o horizonte, para o lugar onde está Ra.
As Portas Duplas do Céu estão abertas para ti.
As Portas Duplas do Céu estão abertas para ti.
Tu sobes, oh, Pepi... equipado como um deus.

(Uma ilustração na tumba de Ramsés IX sugere que as Portas Duplas eram abertas inclinando-as para fora, movimento conseguido com a manipulação de rodas e polias operadas por seis deuses em cada folha. Assim, pela abertura em formato de funil, o gigantesco falcão construído pelas mãos do homem podia emergir).

Com grande satisfação diante dessa façanha do faraó, os textos anunciam aos seus súditos:

"Ele, que voa, está voando; este rei Pepi voa para longe de vós, mortais. Ele não é da Terra, ele é do Céu... Este rei Pepi voa como uma nuvem para o firmamento, como um pássaro do alto do mastro; este rei Pepi beija o firmamento como um falcão; ele alcança o firmamento do deus do horizonte". O faraó, continuam os Textos das Pirâmides, agora está “no Carregador do Firmamento, aquele que sustenta as estrelas; no interior da sombra das Paredes de Deus, ele cruza o firmamento".
O faraó não está apenas voando; ele orbita a Terra:

Ele envolve o firmamento como Ra,
Ele volteia pelo firmamento como Thot...
Ele viaja sobre as regiões de Hórus,
Ele viaja sobre as regiões de Set...
Por duas vezes ele rodeou completamente os céus,
Ele girou sobre as duas terras...
O rei é um falcão que ultrapassou os falcões;
Ele é um Grande Falcão.

(Um verso dos textos afirma também que o rei "cruza o firmamento como Sunt, que corta os céus nove vezes numa noite", mas o significado do termo Sunt e, portanto, a comparação, continuam indecifrados.)

Ainda sentado entre "esses dois companheiros que viajam pelo firmamento" o rei voa para o horizonte oriental, bem longe no céu. Seu destino é o Aten, o Disco Alado, que também é chamado de Estrela Imorredoura. As orações, agora, centram-se em fazê-lo chegar em segurança ao Aten: "Aten, deixa-o ascender a ti; envolva-o em teu abraço", entoam os textos, falando em prol do faraó. Como o Aten é a morada de Ra, as preces procuram garantir boas-vindas para o rei, apresentando-o em sua chegada à Morada Celestial como um filho voltando para o pai:

Ra do Aten
Teu filho veio a ti;
Pepi vem a ti;
Permita que ele ascenda para ti;
Envolva-o em teu abraço.

Agora "há um clamor no céu: 'Vemos uma nova coisa', dizem os deuses celestiais, 'um Hórus nos raios de Ra’.” O faraó - "à caminho do Céu, no vento" - "avança no Céu, corta o firmamento", esperando ser bem recebido em seu destino.
A viagem celestial durará oito dias: "Quando a hora da manhã vier, a hora do oitavo dia, o rei será convocado por Ra"; os deuses que guardam a entrada do Aten ou da morada de Ra o deixarão passar, pois o próprio Ra estará esperando na Estrela Imorredoura:

Quando essa hora do amanhã chegar...
Quando o rei estiver lá, na estrela que fica no lado inferior do Céu, ele será considerado um deus, ouvido como um príncipe.
O rei os chamará;
Eles virão, aqueles quatro deuses que ficam em pé nos cetros-Dam do Céu, para que possam dizer o nome do rei para Ra, anunciar seu nome Hórus dos Horizontes:
Ele veio a ti!
O rei veio a ti!

Navegando no "lago que é o céu" o faraó chega perto "das praias do céu". Enquanto vai se aproximando, os deuses da Estrela Imorredoura anunciam como esperado: "Ele chegou... Ra lhe deu seu braço na Escada para o Céu. 'Aquele que Conhece o Lugar' vem, dizem os deuses". Lá nos portões do Palácio Duplo, Ra de fato aguarda o faraó:

Tu encontras Ra parado lá;
Ele te saúde, pega teu braço;
Ele te conduz para o celestial Palácio Duplo;
Ele te coloca no trono de Osíris.

E os textos anunciam: "Ra pegou o rei para si, para o Céu, no lado leste do Céu... o rei está naquela estrela que irradia no Céu".

Agora falta um último detalhe. Na companhia de "Hórus do Duat”, descrito como "o grande e verde divino falcão", o faraó parte para encontrar a Árvore da Vida no centro do lugar das Oferendas. "Este rei Pepi vai para o Campo da Vida, o local de nascimento de Ra nos céus. Vê Kebehet aproximando-se dele com os quatro jarros que usa para refrescar o coração do Grande Deus no dia em que ele acorda. Ela refresca o coração deste rei Pepi e assim o refresca para a vida!

Missão cumprida, os textos anunciam com júbilo:

Salve este Pepi!
Toda a vida que satisfaz te é dada;
"A eternidade é tua", diz Ra...
Tu não pereces, tu não faleces para sempre e sempre.

O rei subiu à Escada para o Céu; ele chegou à Estrela Imorredoura; seu tempo de vida é a eternidade, seu limite a perenidade.

Fonte: A Escada para o Céu (O Caminho Percorrido pelos Povos Antigos para Atingir a Imortalidade) e Bibliotecapleyades

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor: não perturbe, nem bagunce! Apenas desejamos que seja amigo com os demais! Seja paciente, humilde e respeitoso com os outros leitores. Se você for ofendido, comunique-se conosco. Obrigado!

COMPartilhe isso:

Precauções

Preocupações: essas são nossas regras para os leitores:

Não seja rude com os outros: apenas transmita palavras de amizade, agrados e compaixão. Não perca seu tempo criticando o blog, porque não faremos o mesmo com você, seja educado! Não usaremos de métodos ofensivos com a imagem de terceiros. Assim como você também; não criticando ou ofendendo as postagens (matérias), não serão permitidos (aceitos) aqui » Agreções, baixarias, gracinhas, palavrões, piadas, ofensas, infantilidades e xingações de qualquer modo - não toleraremos. Não use das suas crendices, ceticismos ou superstições para desinformar os outros leitores. Queremos que seja claro e objetivo com tudo que comentar no blog...

SE VOCÊ VISITOU NOSSO BLOG: não gostou? Com paciência 'agradecemos' a sua vinda até nós. Nós aceitamos a sua presença independente de comentar ou não; e acima de tudo das suas crenças (religiosas). Porque acima de tudo: nós somos humanos...

Não Queremos Moderar Seus Pensamentos: A responsabilidade de tudo que você comentar é extremamente sua e de mais ninguém neste local. Não iremos contra o modo que se expresse com seus pensamentos aqui. Obrigado de coração!

-----------------------------------------------------------------TANTETTAUS-----------------------------------------------------------------

SE VOCÊ AINDA NÃO ACESSOU A NOSSA PÁGina INICIAL: nao perca nossos artigos, não fique por fora do que é 'notícia de responsabilidade' não vista nos meios de comunicações legais. Pense bem! Visite para mais informações » Clique.

Não perca nossos diversos assuntos, tratando de temas que falam a respeito e (sobre) os Anunnaki, OVNIs, UFOs, Extraterrestres e Zecharia Sitchin entre outros. Não se engane fácil com as mentiras e; com os erros que foram impostos e bem direcionados nas histórias contadas erroneamente para nós!

Tenha uma mente aberta: apenas seja apto e rápido, obtenha bons conhecimentos; pesquisando, estudando e desvendando os enigmas do desconhecido, conhecimentos que são desconhecidos para nós. Porque durante 'Eras e Eras' foram negados e estão escondidos ao longo do tempo para o mundo. Mantenha-se... e continue com a mente livre. É discernindo (que aprenderá a dividir o certo do errado) para ficar por dentro de tudo que é interessante para todos (hoje, amanhã e sempre - para sempre).
-----------------------------------------------------------------TANTETTAUS-----------------------------------------------------------------
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...