Após meus próprios estudos em Gizé - no Egito, eu queria saber se a pesquisa de West lançara alguma dúvida sobre “a datação ortodoxa” de qualquer um dos outros monumentos do platô, em especial o do chamado Templo do Vale, de Khafre.
- Acho que há muita coisa que talvez seja mais antiga - respondeu ele. Não apenas o Templo do Vale, mas também o Templo Mortuário, no alto da colina, têm provavelmente alguma coisa a ver com o complexo de Menkaure e talvez mesmo com a Pirâmide de Khafre...
- O quê, no complexo de Menkaure?
- Bem, o Templo Mortuário. E na verdade estou apenas usando por conveniência agora a atribuição convencional de autoria de construção das pirâmides...
- Tudo bem. De modo que você pensa que é possível também que as pirâmides sejam tão antigas quanto a Esfinge?
- É difícil dizer. Acho que havia alguma coisa nos locais onde estão atualmente aquelas pirâmides... por causa da geometria. A Esfinge era parte de um plano-mestre. E a Pirâmide de Khafre talvez seja a mais interessante nesse aspecto, porque foi definitivamente construída em dois estágios. Se olhar para ela... e talvez tenha: notado... verá que a base consiste de várias carreiras de blocos gigantescos, semelhantes em estilo aos blocos da cantaria do núcleo do Templo do Vale. Superposto sobre a base, o resto da pirâmide é composto de material de menor dimensão, assentado com menos precisão, do ponto de vista de engenharia. Mas, quando olhamos para ela, sabendo o que procuramos, verificamos imediatamente que ela foi construída em duas etapas separadas.
Quero dizer, não posso deixar de pensar que os imensos blocos da base datam de um período anterior - do tempo em que a Esfinge foi construída... e que a segunda parte foi acrescentada mais tarde... mas, mesmo nessa época, não necessariamente por Khafre. Aprofundando-se no assunto, você descobrirá que, quanto mais aprende, mais complexas se tornam as coisas. Pode até mesmo ter havido uma civilização intermediária, por exemplo, que, na verdade, corresponderia aos textos egípcios.
Eles falam sobre dois longos períodos anteriores. No primeiro, o Egito foi supostamente governado por deuses... os Neterus... e, no segundo, pelos Shemsu Hor, os “Companheiros de Hórus”. É por isso que digo que os problemas se tornam cada vez mais complicados. Por sorte, o fundamental permanece simples. O fundamental é que a Esfinge não foi construída por Khafre. A geologia prova que ela é muito, mas muito mais antiga...
- Não obstante, os egiptólogos recusam-se a aceitar essa conclusão. Um dos argumentos que usaram contra você... Mark Lehner fez isso... é mais ou menos o seguinte: “Se a Esfinge foi construída antes do ano 10000 a.C., então por que não pode nos mostrar o resto da civilização que a construiu?” Em outras palavras, por que não tem outra prova a apresentar sobre a presença de sua lendária civilização perdida, à parte algumas estruturas no platô de Gizé? O que é que me diz disso?
- Em primeiro lugar, há estruturas fora de Gizé... como, por exemplo, o Osireion, em Abidos, de onde você acaba de vir. Achamos que esse espantoso edifício pode relacionar-se com nosso trabalho sobre a Esfinge. Mesmo que o Osireion não existisse, contudo, a falta de outras provas não me incomodaria. Quero dizer, para dar destaque ao fato de que prova confirmatória adicional não foi encontrada ainda e para usar essa circunstância para acabar uma discussão, é a mesma coisa que dizer a Magalhães:
“Onde estão os outros caras que fizeram a volta do mundo?” Claro, isso não prova nada. Ou, em 1838, quando foi encontrado o primeiro osso de dinossauro, teriam dito: “Claro, não há essa tal coisa de um animal gigantesco extinto. Onde está o resto do esqueleto? Só encontraram um osso.”
Mas logo que algumas pessoas começaram a compreender que esse osso só podia ser de um animal extinto, nos vinte anos seguintes os museus do mundo se encheram de esqueletos completos de dinossauros. De modo que a coisa é mais ou menos assim. Ninguém se preocupou em procurar nos lugares certos. Tenho absoluta certeza de que outras provas serão encontradas, logo que algumas pessoas começarem a procurar nos lugares certos... ao longo das margens do antigo Nilo, por exemplo, que está a quilômetros do Nilo atual, ou mesmo no fundo do Mediterrâneo, que ficou seco durante a última Era Glacial.
O Problema da Transmissão
Perguntei a John West por que ele pensava que os egiptólogos e os arqueólogos tinham tanta má vontade em pensar em que a Esfinge pudesse ser uma pista para a existência de um episódio esquecido na história humana.
- A razão, acho, é que eles têm uma idéia fixa sobre a evolução linear da civilização. Acham difícil aceitar a idéia de que possa ter havido povos, há mais de doze mil anos, que eram mais sofisticados do que somos hoje... A Esfinge, e a geologia que lhe prova a antiguidade, e o fato de que a tecnologia requerida para construí-Ia está, de muitas maneiras, muito além de nossa própria capacidade, desmentem a crença em que civilização e tecnologia evoluíram de forma direta, linear...
Isso porque, mesmo com a melhor tecnologia moderna, praticamente não poderíamos realizar as várias tarefas envolvidas no projeto. A própria Esfinge não é uma façanha assombrosa nesse particular. Quero dizer, se conseguirmos juntar escultores em número suficiente para cortar a pedra, eles poderiam esculpir uma estátua de um quilômetro e meio de comprimento. A tecnologia teve a ver com escolher as pedras, extrair as pedras das pedreiras, libertar a Esfinge de seu leito rochoso e, em seguida, usá-las para construir o Templo do Vale a uns duzentos metros de distância...
Isso era novidade para mim.
- Você quer dizer que os blocos de duzentas toneladas do Templo do Vale foram extraídos do espaço fechado da Esfinge?
- Isso mesmo, não há a menor dúvida a esse respeito. Geologicamente, pertencem ao mesmo tipo de rocha. Os blocos foram extraídos e levados para o local do Templo... só Deus sabe como... e com eles construídas paredes de doze metros de altura... mais uma vez, só Deus sabe como. Estou falando dos imensos blocos de pedra calcária do núcleo, não do revestimento de granito. Acho que o granito foi acrescentado muito tempo depois, possivelmente por Khafre. Mas se examinar os blocos de pedra calcária do núcleo, verá que eles têm as marcas de exatamente o mesmo tipo de intemperismo induzido por precipitação pluviométrica, tal como as marcas encontradas na Esfinge. De modo que a Esfinge e a estrutura do núcleo do Templo do Vale foram feitas na mesma época, pelas mesmas pessoas... quem quer que possam ter sido.
- E você acha que essas pessoas e os egípcios dinásticos posteriores foram ligados entre si de alguma maneira? No Serpent in the Sky você sugere que uma herança deve ter sido passada adiante...
- Isso ainda é uma sugestão. Tudo que sei com certeza, com base em nosso trabalho sobre a Esfinge, é que uma civilização muito, muitíssimo sofisticada, capaz de implementar projetos de construção em escala grandiosa, esteve presente no Egito em passado muito distante. Em seguida, caiu muita chuva. Milhares de anos depois, no mesmo lugar, a civilização faraônica surgiu inteiramente formada, aparentemente saindo do nada, com todos os seus conhecimentos completos. Disso podemos ter certeza. Mas se ou não o conhecimento que o Egito antigo possuía era o mesmo que o conhecimento que produziu a Esfinge, não posso realmente dizer.
- O que é que você acha da seguinte idéia? A civilização que produziu a Esfinge não teve origem aqui, pelo menos não no início... - especulei. - Ela não se localizava no Egito. Ela colocou aqui a Esfinge como uma espécie de marco ou posto avançado...
- Inteiramente possível. Poderia acontecer que a Esfinge, para essa civilização, fosse igual, digamos, ao que Abu Simbel (na Núbia) foi para o Egito dinástico.
- Nesse caso, essa civilização chegou ao fim, extingui-se devido a alguma catástrofe terrível, e foi nessa ocasião que a herança de altos conhecimentos passou a outras mãos... Uma vez que tinham deixado aqui a Esfinge, sabiam da existência do Egito, conheciam este lugar, conheciam este país, tinham uma ligação aqui. Talvez esse povo tenha sobrevivido ao fim da civilização. Talvez eles tenham vindo para cá... Isso faz sentido para você?
- Bem, é uma possibilidade. Mais uma vez, voltando às mitologias e lendas do mundo, muitas delas falam em uma catástrofe como essa e de poucos sobreviventes... a história de Noé, que se repetiu através de civilizações incontáveis... que, de uma ou de outra maneira, conservaram e transmitiram a outros esse conhecimento. O grande problema com tudo isso, de meu ponto de vista, é o processo de transmissão da herança: como, exatamente, o conhecimento é passado de uma mão a outra durante milhares e milhares de anos, entre a construção da Esfinge e o florescimento do Egito dinástico? Teoricamente, estamos numa espécie de beco sem saída... você não está?... no que interessa a esse enorme período em que os conhecimentos foram transmitidos.
Não é fácil descartar essa conclusão. Por outro lado, sabemos, de fato, que as lendas que estamos mencionando foram transmitidas, palavra por palavra, ao longo de incontáveis gerações e, na verdade, a transmissão oral é um meio muito mais seguro de transmissão do que a escrita, porque a linguagem pode mudar, mas enquanto quem estiver contando a história disser que ela é verdadeira, em qualquer que seja a linguagem do tempo... ela reaparece 5.000 anos depois em sua forma original. De modo que, talvez haja maneiras... em sociedades secretas e cultos religiosos, ou através da mitologia, por exemplo, em que os conhecimentos poderiam ter sido preservados e transmitidos antes de voltar a florescer. O importante, acho, com problemas tão complexos e importantes como esses, é simplesmente não descartar quaisquer possibilidades, por mais absurdas que possam inicialmente parecer, sem investigá-las profundamente...
Segunda Opinião
John West estava em Lúxor, chefiando um grupo de estudo sobre os sítios arqueológicos sagrados do Egito. Cedo no dia seguinte, ele e seus estudantes dirigiram-se para Assuã e Abu Simbel, no sul. Santha e eu viajamos novamente para o norte, de volta a Gizé e aos mistérios da Esfinge e das pirâmides. Íamos nos encontrar com o árqueo-astrônomo Robert Bauval. Conforme veremos, suas correlações estelares proporcionaram surpreendente confirmação, independente da prova geológica, da imensa antiguidade de Gizé.
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