Ou a Morada Celestial dos Deuses.
Além disso, ninguém discute que a Epopéia de Gilgamesh serviu como um guia para os aventureiros de todas as épocas tentarem encontrar os marcos da Antiguidade que indicariam a localização da Terra dos Vivos e o caminho para atingi-la.
As similaridades entre os marcos geográficos, os túneis feitos pela mão do homem (os deuses), corredores, fechaduras pneumáticas e câmaras de radiação; os seres com aspecto de pássaros, os "Águias", bem como outros detalhes de maior ou menor importância, são numerosos e idênticos demais para serem meras coincidências. Ao mesmo tempo, a Epopéia de Gilgamesh pode explicar a confusão que reinou ao longo de milênios sobre a localização do ansiado alvo. Como vimos pormenorizadamente no capítulo anterior, Gilgamesh não fez apenas uma viagem, mas duas - um fato em geral ignorado pelos estudiosos modernos e talvez também pelos antigos.
O drama do rei que não queria morrer atinge seu clímax na Terra de Tilmun - a Morada dos Deuses e Lugar dos Shem. Foi lá que ele encontrou um ancestral que escapara do destino dos mortais e a planta da eterna juventude. E foi ali também que ocorreram, ao longo de milênios, outros encontros divinos e eventos que afetaram o curso da História da Humanidade. E era lá, acredito, que ficava o Duat - a Escada para o Céu.
No entanto, esse não era o destino da primeira viagem de Gilgamesh, como podemos entender acompanhando seus passos na seqüência correta. Quando ele partiu pela primeira vez em busca da imortalidade, sua idéia não era atingir Tilmun, mas o Local de Aterrissagem, na Montanhas dos Cedros, dentro da grande Floreta de Cedros.
Estudiosos como S. N. Kramer em The Sumerians consideram "crípticas e enigmáticas" as afirmações sumérias de que Shamash podia "erguer-se" não apenas de Tilmun, mas também da Terra dos Cedros. A resposta é que, além do espaço-porto em Tilmun, do qual podia-se atingir os céus mais longínquos, havia um Local de Aterrissagem, de onde os deuses podiam "escalar o firmamento da Terra". Essa resposta é apoiada pela minha conclusão de que os deuses possuíam dois tipos de naves: os GIR, ou foguetes, operados em Tilmun, e os MU, como eram chamadas pelos sumérios as "Câmaras Celestiais". Comprovando o alto nível tecnológico dos Nefilim, a parte superior do GIR, isto é, o Módulo de Comando -chamado pelos egípcios de Ben-Ben - podia se separar e voar pelo céu terrestre como um MU.
Os povos da Antiguidade viram os GIR em seus silos e até mesmo voando, mas retratavam com maior freqüência as "Câmaras Celestiais" - veículos que atualmente chamaríamos de OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados).
O Deus bíblico parecia bem familiarizado com os cedros e freqüentemente os empregava em suas alegorias, comparando governantes e nações com essas árvores: "A Assíria era um cedro do Líbano, com belos galhos, sombra protetora e grande estatura... as águas o nutriam, rios subterrâneos lhe proporcionavam altura" - até que a ira de Iahweh a fez tombar, quebrando-lhe os galhos. Tudo indica que o homem jamais foi capaz de cultivar essas árvores. A Bíblia registra uma tentativa fracassada. Atribuindo-a a um rei da Babilônia (factual ou alegoricamente), conta que "Ele veio ao Líbano e pegou o mais alto galho do cedro", retirando dele a melhor semente, que "plantou num campo fértil, junto a grandes águas". Mas o que cresceu não foi um cedro, mas uma árvore pequena semelhante a um salgueiro, "uma trepadeira de baixa estatura".
O Senhor bíblico, por seu lado, conhecia o segredo do cultivo dos cedros:
Assim disse o Deus Iahweh:
Esse conhecimento, aparentemente, derivava do fato de os cedros crescerem no "Pomar dos Deuses", onde nenhuma árvore se igualava a ele, que era "a inveja de todas as árvores que existiam no Éden, o jardim dos deuses". O termo hebraico Gan (pomar, jardim), por derivar da raiz gnn (proteger, guardar), transmite o sentido de uma área guardada e restrita - o mesmo percebido pelo leitor da narrativa de Gilgamesh, que fala numa floresta que se estende "por muitas léguas", vigiada por um Guerreiro Flamejante ("um terror para os mortais"), acessível somente através de um portão que paralisava o intruso que o tocava. Dentro dela ficava a "morada secreta dos Anunnaki". Um túnel levava ao "recinto no qual são emitidas as palavras de comando" - o "lugar subterrâneo de Shamash".
Gilgamesh quase conseguiu chegar ao Local de Aterrissagem, pois tinha a permissão e o apoio de Shamash. Mas a ira de Ishtar, furiosa por ter sido repelida em seus avanços amorosos, mudou completamente o curso dos acontecimentos. Já um outro rei mortal, segundo o Velho Testamento, teve melhor sorte. Esse homem era o soberano de Tiro, uma cidade-Estado na costa do Líbano, a pouca distância da Montanha dos Cedros. A deidade (como contado no Capítulo 28 do Livro de Ezequiel) permitiu-lhe visitar a Montanha Sagrada:
És um querubim ungido, protegido; coloquei-te na Montanha Sagrada.
Como um deus estavas, movendo-se dentro de pedras flamejantes.
No conto sobre o rei que tentou plantar um cedro, o Velho Testamento relata que ele "carregou um pequeno galho para um país de comércio" e plantou a semente "numa cidade de mercadores". Países e cidades desse tipo não precisam ser procurados muito longe, pois ao longo da costa do Líbano, desde a Anatólia, ao norte, até o sul da Palestina, havia muitas cidades litorâneas cananéias cuja riqueza e poder cresciam com o comércio internacional. As mais conhecidas através dos relatos bíblicos são Tiro e Sídon. Centros de comércio e navegação durante milênios, sua fama atingiu o auge na época em que eram governadas pelos fenícios.
Uma outra cidade, talvez o posto mais avançado dos cananeus junto à fronteira com o Império Hitita, passou milênios soterrada sobre um monte depois de sua destruição por invasores assírios. Suas ruínas foram descobertas por acaso em 1928, quando um lavrador pôs-se a arar um novo campo de cultivo perto do monte chamado Ras Shamra. As extensas escavações que se seguiram revelaram a antiga cidade de Ugarit. Entre as espetaculares descobertas estavam um grande palácio, um templo dedicado ao deus Baal ("O Senhor") e uma variedade de artefatos. Porém, o verdadeiro tesouro eram centenas de tábulas de argila, com inscrições em escrita cuneiforme, em língua "semita ocidental", aparentada com o hebraico bíblico.
No topo do panteão cananeu ficava uma divindade suprema chamada El - uma palavra que no hebraico bíblico era o termo genérico para "deidade", tendo como origem a palavra acadiana Ilu, que significa literalmente "O Altíssimo". Todavia, nos contos cananeus sobre homens e deuses, El era o nome pessoal de uma deidade real, a autoridade final em todas as questões, fossem de natureza divina ou humana. El era tanto o pai dos deuses como o Ab Adam ("pai dos homens") e tinha como epítetos "O Bondoso" e "O Misericordioso". Ele também era "o criador das coisas criadas" e "o único que podia conceder realeza". Uma estela encontrada na Palestina mostra El sentado em seu trono e sendo servido de bebida por uma deidade mais jovem, provavelmente um de seus muitos filhos. Ele usa o toucado cônico, com chifres, a marca registrada dos deuses em todo o Oriente Médio da Antiguidade, e a cena é dominada pelo onipresente Globo Alado, o emblema do Planeta dos Deuses.
Nos "velhos tempos", El era a principal deidade do Céu e da Terra, mas na época em que tiveram lugar os eventos relatados na tábulas cananéias, o deus vivia numa semi-aposentadoria, alheio às questões cotidianas. Sua morada ficava "nas montanhas", junto aos "dois afluentes iniciais", onde se sentava em um pavilhão recebendo emissários, presidindo conselhos dos deuses e tentando resolver as constantes disputas entre os deuses mais jovens. Muitos destes eram seus filhos e alguns textos sugerem que El tinha setenta deles.
No entanto, os principais descendentes de El eram três filhos e uma filha: os deuses Yam (“Mar, Oceano"), Baal ("O Senhor") e Mot ("Golpeador, Aniquilador"), e a deusa Anat (“A que respondeu"). Pelos nomes e relacionamento, eles se comparam com os deuses gregos Posêidon (Deus dos Mares), Zeus (Senhor dos Deuses) e Hades (Deus do Mundo Inferior). Baal, como Zeus, estava sempre armado com um raio-míssil e tinha o touro como símbolo de seu culto.
Os vínculos com as crenças e lembranças dos tempos pré-históricos egípcios são tão óbvios como com os da Grécia. Osíris foi ressuscitado por Ísis depois de ela ter encontrado seus restos na cidade cananéia de Biblos. Da mesma forma, Baal foi trazido de volta à vida depois de golpeado por Mot. Set, o adversário de Osíris, nas escrituras egípcias às vezes era chamado de "Set de Safon". Baal, como vemos, ganhou o título de "Senhor de Zafon". Os monumentos egípcios do Novo Império - que se equipara ao período cananeu - muitas vezes mostravam os deuses cananeus como deidades egípcias, chamando-os de Min, Reshef, Cades e Anthat. Dessa forma, encontramos as mesmas lendas aplicando-se aos mesmos deuses, apesar dos nomes diferentes, em todo o mundo antigo.
Cades fazia parte do território do patriarca bíblico Abraão e o conto cananeu sobre Danel está repleto de similaridades com a história da Bíblia sobre o nascimento de Isaac, filho de Abraão e Sara, ambos muito idosos. Num relato bem parecido com o que está no Livro do Gênesis, lemos no conto cananeu que Danel, envelhecendo sem ter gerado um herdeiro, viu se apresentar uma oportunidade de conseguir auxílio divino quando dois deuses chegaram à sua casa. "Daí em diante... ele dá oferendas para os deuses comerem, oferendas para os Santos beberem." Os divinos hóspedes, que eram El, "O Administrador da Cura", e Baal, ficam na casa de Danel por uma semana, durante a qual este repete constantemente sua súplica.
- Afinal, Baal resolve apoiar Danel, "aproximando-se de El com seus apelos".
- Cedendo às súplicas, El "pela mão toma seu servo" e lhe concede "espírito", pelo qual a virilidade de Danel é restaurada:
El promete um filho para o descrente Danel. Monta tua cama, diz, beija tua mulher, abraça-a... "pela concepção e gravidez ela dará à luz um filho homem para Danel". E, tal como acontece na narrativa bíblica, a matriarca gera um herdeiro legítimo, o que garante a sucessão. Os pais lhe dão o nome de Aqhat; os deuses o apelidam de Naaman ("O Agradável").
Quando o menino torna-se um rapaz, o Artífice dos Deuses o presenteia com um arco inigualável, o que desperta a inveja de Anat, que deseja possuir essa arma mágica. Para obtê-la, a deusa promete a Aqhat qualquer coisa que ele gostaria de ter - ouro, prata, até mesmo a imortalidade:
Peça a vida, ó Aqhat, o jovem...
Peça a vida e eu ela te darei.
Imortalidade (peça), e eu te concederei.
Com Baal te farei contar os anos;
Com os filhos de El contarás os meses.
E Baal, quando concede a vida, uma festa oferece;
Um banquete faz para aquele que recebeu vida.
Serve-lhe uma bebida, canta e entoa docemente para ele.
Não mintas, ó donzela...
O rapaz também lembra a Anat que o arco foi feito para guerreiros como ele e não para ser usado por mulheres. Insultada, Anat "atravessa a Terra" até a morada de El, pretendendo solicitar permissão para eliminar Aqhat. A resposta enigmática do deus sugere que ele permite um castigo, mas só até certo ponto.
Anat agora começa a tramar sua vingança. "Por sobre mil campos, quatro mil hectares", ela viaja de volta para onde está Aqhat. Fingindo-se desejosa de paz e apaixonada, a deusa ri, alegre. Dirigindo-se ao rapaz como "Aqhat, o jovem", ele declara: "Tu és meu irmão, sou tua irmã". Em seguida, convence-o a acompanhá-la até a cidade do "Pai dos Deuses, o Senhor da Lua". Lá pede para Tafan "matar Aqhat para tirar seu arco" e depois "fazê-lo viver de novo”
Mas, enquanto Gilgamesh precisou fazer uma longa e perigosa caminhada antes de atingir a região de Sin, Anat - como Ishtar podia ir a todos os lugares com grande rapidez, pois não viajava a pé nem em lombo de asno, mas voando de um ponto para outro. Muitos textos da Mesopotâmia referiam-se às viagens aéreas de Ishtar e sua capacidade de vagar pelo firmamento, "atravessando o céu, atravessando a terra". Uma sua representação no templo a ela dedicado em Assur, uma capital assíria, mostra-a usando óculos, um capacete justo e grandes "fones de ouvido" ou painéis. Nas ruínas de Mari, na margem do rio Eufrates, foi encontrada uma estátua de tamanho natural, equipada com uma "caixa-preta", uma mangueira, um capacete com chifres e "fones de ouvido” embutidos, e mais outros atributos de um aeronauta. Essa capacidade de "voar como um pássaro", atribuída a todas as outras deidades cananéias, aparece em todos os contos épicos encontrados em Ugarit.
Um deles, onde a deusa voa para salvar alguém, é um texto que os eruditos intitularam de "A Lenda do Rei Keret" - onde Keret pode ser interpretado como o nome do rei ou o de sua cidade ("A capital"). O tema do conto é o mesmo da Epopéia de Gilgamesh, ou seja, a luta do homem para encontrar a imortalidade. No entanto, ele começa como a história de Jó, do Velho Testamento, e possui outras similaridades bíblicas.
Queixando-se do transtorno que ocorrera em sua vida, Jó sonhava com os "meses de antanho", quando era honrado e respeitado: "Nos portões da capital, na praça, um assento a mim ficava reservado". Naquele tempo, recordou-se, acreditava que "como a Fênix serão meus dias, com meu Edificador morrerei". Mas agora, sem nada de seu e afligido por enfermidades, sentia vontade de morrer ali mesmo.
Mas Jó respondeu enigmaticamente que a questão não era tão simples assim. "A Essência do Senhor está dentro de mim; seu esplendor alimenta meu espírito." Estaria ele revelando, no verso até hoje incompreendido, que tinha sangue divino? Que, como Gilgamesh, esperava viver tanto como a Fênix, que sempre renascia, e morrer somente quando falecesse seu "Edificador"? Mas agora Jó se dava conta de que: "Eternamente não mais viverei; meus dias são como vapor".
A história de Keret primeiro o descreve como um homem próspero que em pouco tempo perde a mulher e filhos devido a doenças e guerra. "Ele vê seus descendentes arruinados... uma posteridade perecendo em seu todo", e percebe que é o fim de sua dinastia - "seu trono está completamente solapado." O sofrimento e as lamentações crescem a cada dia: "sua cama está ensopada de lágrimas". Diariamente Keret "entra na câmara interior" do templo e chora suplicando a ajuda dos deuses. El acaba "descendo até ele" para descobrir" o que aflige Keret para fazê-lo chorar". É aí que os textos revelam que Keret, por ser filho de El com uma humana, é parte divino.
El aconselha seu "amado rapaz" a parar de se lamentar e a casar-se de novo, pois assim seria abençoado com um novo herdeiro. Manda-o lavar-se e arrumar-se para ir pedir a mão da filha do rei de Udum (possivelmente a bíblica Edom). Keret, acompanhado de suas tropas e carregado de presentes, parte obedecendo às ordens de El. No entanto, o rei de Udum recusa a prata e o ouro. Sabendo que Keret "é carne do Pai dos Homens", isto é, de origem divina, pede um dote singular: que o primogênito de sua filha com Keret também seja semi-divino!
A decisão, claro, não cabe a Keret. El, que o aconselhara a procurar um novo casamento, não está disponível. Assim, o rei dirige seus passos para o santuário de Asherah pretendendo obter o auxílio da deusa. A cena seguinte tem lugar na morada de El, onde a súplica transmitida é apoiada por vários deuses mais jovens:
E o presente Baal falou:
E agora, ó Bondoso, El benigno;
Não abençoarás Keret, o de sangue puro,
Nem agradarás o amado rapaz de El?
Em tua vida, pai, nos regozijávamos
O silêncio de Keret fala por si e agora os filhos voltam-se para os deuses:
Como pode ser dito,
Um filho de El é Keret, rebento do Bondoso e um ser sagrado?
Então um deus morrerá?
Um rebento do Bondoso não viverá?
Os vários relatos épicos sobre os próprios deuses são de importância primordial para a compreensão dos eventos da Antiguidade. Neles, a capacidade de voar dos deuses. é aceita como um fato corriqueiro e seu "céu", a "Crista de Zafon", é apresentado como um local de repouso dos aeronautas. As figuras centrais dessas histórias são Baal e Anat, os irmãos-amantes. O epíteto freqüente de Baal é "O Cavaleiro das Nuvens", que o Velho Testamento acabou reivindicando para a deidade hebréia. A capacidade de voar de Anat, que aparecia ocasionalmente nos contos sobre as relações entre deuses e homens, é ainda mais enfatizada nas lendas só sobre os deuses.
Num desses textos, Anat é informada de que Baal foi pescar "na campina de Samakh".
Alça vôo e passeia voando
Até o centro da campina de Samath,
Onde abundam búfalos.
O encontro idílico, contudo, só pôde ser consumado anos depois, quando a posição de Baal como Príncipe da Terra e governante reconhecido das terras do norte já estava firmemente estabelecida. Antes disso, o deus envolveu-se em lutas de vida ou morte com os outros pretendentes ao trono dividido. O prêmio de todas essas disputas era um lugar conhecido como Zarerath Zafon, em geral traduzido como "monte santo" ou "Picos de Zafon", mas significando exatamente "A Crista Rochosa no Norte".
Essas sangrentas lutas pelo domínio sobre certas fortalezas ou territórios decorriam do posicionamento dos pretendentes na linha de sucessão quando o chefe do panteão envelhecia ou entrava numa semi-aposentadoria. Conforme as tradições de casamento que primeiro foram registradas nos escritos sumérios, a consorte oficial de El, Asherah ("a filha do governante"), era sua meia-irmã, o que fazia do primogênito desta o herdeiro legítimo. Mas, como acontecera antes, a posição desse filho era freqüentemente contestada pelos seus meios-irmãos mais velhos, mas nascidos de outras mulheres. (O fato de Baal, que tinha pelo menos três esposas, não poder se casar com sua amada Anat confirma que ela era sua irmã por parte de pai e mãe, e não apenas meia-irmã.)
Os contos cananeus começam na remota e montanhosa morada de El, onde ele secretamente concede a sucessão ao seu filho Yam. A deusa Shepesh, a "Tocha dos Deuses", vai voando até onde está Baal para lhe dar as más notícias: "El está virando o sistema monárquico pelo avesso!", grita, alarmada.
Os emissários acabam voltando de mãos vazias para Yam e fica claro que não existe outro meio de decidir a disputa senão os dois deuses confrontarem-se num campo de batalha. Uma deusa - talvez Anat - conspira com o Artífice dos Deuses para ele fornecer a Baal suas armas divinas, o "perseguidor" e o "atirador", que "mergulha sobre a presa como uma águia". No combate, Baal vence Yam e está para "esmagá-lo" quando ouve a voz da mãe dizendo-lhe: "Poupe Yam!" O vencido escapa da morte, mas é banido para seus domínios marítimos.
Como compensação por ter poupado Yam, Baal pede a Asherah que apóie sua reivindicação de obter a supremacia sobre a Crista de Zafon. A deusa está repousando numa cidade à beira-mar e é com grande relutância que concorda em viajar até a morada de El localizada numa região quente e seca. Chegando "sedenta e ressequida", Asherah coloca o problema diante do marido e pede-lhe para decidir com sabedoria e não emoção. "Tu és mesmo grande e sábio", bajula, "o grisalho de tua barba te instrui... Sabedoria e Vida Perene são tua parte." Pesando a situação, El concorda: que Baal seja o dono da Crista de Zafon; que lá ele construa sua casa.
No entanto, o que Baal tem em mente não é uma residência qualquer. Seus planos exigem os serviços de Kothar-Hasis ("O Habilidoso e Conhecedor"), o Artífice dos Deuses. Não apenas os eruditos modernos, mas até Filos de Biblos, no século 1 a.C. (citando historiadores fenícios anteriores), compara Kothar-Hasis ao divino artesão grego Hefesto, que construiu a residência dos deuses Zeus e Hera. Outros encontram paralelos entre ele e Thot, o deus egípcio das artes, ofícios e magia. De fato, os escritos encontrados em Ugarit afirmam que os emissários de Baal enviados para buscar Kothar-Hasis foram avisados para procurar por ele na ilha de Creta e no Egito. Tudo indica que, na época, era nesses locais que o Artífice dos Deuses estava empregando suas habilidades.
O silo subterrâneo e a plataforma estavam prontos! Sem perder tempo, Baal resolveu testar a instalação:
Baal abriu o Funil na Plataforma Elevada,
A janela dentro da Grande Casa.
Nas nuvens, Baal abriu fendas.
Seu clamor sagrado Baal emite...
Seu clamor sagrado sacode a Terra.
As montanhas estremecem...
Tremendo estão...
No leste e no oeste, os montes da terra balançam...
Por ter conseguido o domínio da fortaleza de Zafon, Baal também ganhou o nome de Baal Zafon. Como título, ele significa apenas "Senhor de Zafon", mas a conotação original do termo Zafon não era geográfica, pois significava tanto "o escondido", como "o local de observação". Sem dúvida, essas conotações tiveram um peso importante na nomeação de Baal como "Senhor de Zafon".
Uma vez obtidos esses poderes e prerrogativas, as ambições de Baal cresceram muito em escala. Convidando os "filhos dos deuses" para um banquete, ele exigiu demonstrações de fidelidade e vassalagem. O castigo não demorou para os que se recusaram a atendê-lo: "Baal agarra os filhos de Asherah; Rabbim ele golpeia nas costas, Dokyamm atinge com uma clava". Alguns foram mortos, outros escaparam.
Os inimigos de Baal fogem para as matas;
Seus inimigos escondem-se nas faldas da montanha.
O possante Baal grita:
Ó inimigos de Baal, por que tremem?
Por que tremem, por que se escondem?
O Olho de Baal se fende;
Sua mão estendida o cedro racha;
Sua mão direita é poderosa.
Tal como Baal nos textos cananeus, a deidade hebréia também era um "Cavaleiro das Nuvens". O profeta Isaías teve uma visão dele voando na direção sul, para o Egito, "cavalgando agilmente uma nuvem, ele descerá sobre o Egito; os deuses do Egito estremecerão diante dele". Isaías também afirmava ter visto pessoalmente o Senhor e seus atendentes alados:
- No ano em que faleceu o rei Ozias, vi o Senhor sentado em um trono alto e elevado.
- Seus carregadores enchiam o santuário.
- Os atendentes do fogo pairavam sobre ele, seis asas, seis asas para cada um deles...
- As vigas dos pórticos estremeceram com o clamor e o templo encheu-se de fumaça.
Assim, era universalmente aceito no Oriente Médio que o deus que conseguia o domínio sobre Zafon ficava com a supremacia sobre os deuses que podiam voar.
Isso, sem dúvida, era o que Baal esperava. Todavia, sete anos depois do término da construção da fortaleza de Zafon, ele foi desafiado por Mot, o senhor das terras ao sul e do Mundo Inferior. Agora a disputa já não era mais sobre quem seria o dono de Zafon, mas sobre "quem terá o domínio sobre toda a Terra".
No entanto, o que Baal tinha em mente era algo muito mais sinistro - a derrubada de Mot. Mas, para isso, precisava do auxílio da sempre fiel Anat. Por isso, enquanto ele ia ter com Mot, seus emissários procuraram Anat. Os dois emissários receberam instruções de repetirem palavra por palavra uma enigmática mensagem para a deusa:
Devemos ter em mente que em todas as línguas da Antiguidade, o termo "pedra" abrangia todas as substâncias mineradas ou garimpadas, incluindo assim todos os minerais e metais. Portanto, Anat logo compreendeu o que Baal mandara lhe dizer: ele estava montando na Crista de Zafon um sofisticado aparelho que podia enviar ou interceptar mensagens secretas!
Na continuação da mensagem levada pelos emissários, há uma melhor descrição da Pedra do Esplendor.
É uma Pedra do Esplendor;
Para o Céu ainda é desconhecida.
Que tu e eu a erijamos dentro de minha caverna, no altíssimo Zafon.
Este então era o segredo: Baal, sem o conhecimento do "Céu" - o governo do planeta mãe -, estava montando um centro de comunicações clandestino, com o qual poderia falar com todas as partes da Terra e também com as naves no espaço. Esse seria o primeiro passo para ele "ter o domínio sobre toda a Terra". Mas, com isso, Baal entrava em confronto direto com Mot, pois era nos territórios dominados por este que se localizava o "Olho da Terra" oficial.
Tendo recebido e compreendido a mensagem, Anat apressou-se a partir em auxílio de Baal. Os emissários preocupados receberam sua palavra de que ela chegaria lá a tempo. "Vós sois vagarosos, eu sou ligeira", garantiu, e acrescentou:
No distante lugar do deus penetrarei,
Chegando à capital de Mot, Anat não conseguiu encontrar Baal. Exigindo saber sobre seu paradeiro, ameaçou Mot com violência. Finalmente foi informada da verdade: os dois deuses tinham se engalfinhado em combate e "Baal tombara". Furiosa, Anat "com uma espada fendeu Mot". Então, com a ajuda da deusa Shepesh, soberana dos Refaim (os "Curadores"), transportou o corpo sem vida de Baal para o pico de Zafon, colocando-o numa caverna.
Rapidamente as duas deusas convocaram o Artífice dos Deuses, também chamado de El Kessem, "O Deus da Mágica". Tal como Hórus foi revivido por Thot depois de ter sido picado por uma serpente, Baal também ressuscitou milagrosamente. No entanto, não fica bem explicado se ele voltou à vida física na Terra ou ganhou, como Osíris, uma Outra Vida Celestial.
É impossível determinar quando os deuses envolveram-se nesses eventos na Crista de Zafon, mas não restam dúvidas de que a Humanidade tinha conhecimento da existência e atributos singulares do Local de Aterrissagem já nos primórdios da História documentada.
Para começar temos o relato sobre a viagem de Gilgamesh à Montanha dos Cedros, que a epopéia também chama de "Morada dos Deuses, a Encruzilhada de Ishtar". Lá, "penetrando na floresta", ele encontrou um túnel que levava "ao recinto onde são emitidas as palavras de comando". Aprofundando-se na montanha, "a morada secreta dos Anunnaki ele abriu". Foi como se Gilgamesh tivesse invadido as mesmas instalações que Baal construíra em segredo! Versos antes misteriosos da epopéia agora assumem um significado empolgante:
Isso, sabemos, aconteceu no terceiro milênio a.C. - por volta de 2.900 a.C.
Zafon, a fortaleza dos Deuses, continuava lá, no primeiro milênio a.C. O profeta Isaías (século VIII a.C.) castigou Senaqueribe, o invasor assírio da Judéia, por ele ter insultado o Senhor subindo com seus muitos carros de guerra "às alturas da montanha, à Crista de Zafon". Enfatizando a antiguidade do local, Isaías transmitiu a Senaqueribe a admoestação do Senhor:
Não ouviste?
Isaías também castigou o rei da Babilônia por ele ter tentado se divinizar escalando a Crista de Zafon:
Como caíste do céu, ó estrela d'alva, filho da aurora!
Como foste atirado à terra, vencedor das nações!
E, no entanto, dizias em teu coração:
Acima das estrelas de Deus colocarei o meu trono,
Estabelecer-me-ei na Montanha da Assembléia,
Na Crista de Zafon, na Plataforma Elevada,
Um Altíssimo serei.
E, contudo, serás precipitado ao Mundo Inferior,
Nas profundezas do abismo.
A ascensão aos céus, sabemos por outros textos bíblicos, era feita por meio de "pedras" (aparelhos mecânicos), que podiam viajar. No século VI a.C., o profeta Ezequiel castigou o rei de Tiro porque seu coração tornou-se orgulhoso depois de ele ter recebido permissão de subir à Crista de Zafon e entrar nas "pedras moventes", experiência após a qual anunciou: "Um deus eu sou".
Uma antiga moeda encontrada em Biblos (a bíblica Gebal), uma das cidades cananéias "fenícias na costa do Mediterrâneo, pode bem ser uma ilustração das estruturas erigidas em Zafon por Kothar-Hasis.
Esses são os indícios que chegaram até nós atravessando milênios após milênios. Ao longo de toda a Antiguidade os povos do Oriente Médio tinham conhecimento de que dentro da Montanha dos Cedros havia uma enorme plataforma para "pedras moventes", tendo ao lado uma "grande casa", no interior da qual ficava escondida "uma pedra que sussurra".
Agora, se estou correto em minha interpretação dos textos e desenhos da Antiguidade - como foi que esse grandioso e conhecido lugar desapareceu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor: não perturbe, nem bagunce! Apenas desejamos que seja amigo com os demais! Seja paciente, humilde e respeitoso com os outros leitores. Se você for ofendido, comunique-se conosco. Obrigado!