Padre Crespi |
Texto e fotos: Pablo Villarrubia Mauso
Tinha chegado a Cuenca, Equador, para tentar jogar alguma luz sobre um dos maiores enigmas da América: a existência de uma arcaica biblioteca metálica que conteria toda a história oculta da humanidade, desde a origem do Homem até os conhecimentos científicos de uma civilização desaparecida.
Essa espécie de “arquivo akashico” não era uma biblioteca com livros comuns, mas lâminas de ouro e blocos de pedra gravados com uma escrita deixada por uma antiga civilização, supostamente igual ou mais avançada que a nossa. Seus habitantes viveriam dentro de túneis e cavernas que se estendem por milhares de quilômetros sob a terra, cruzando quase todo o continente americano.
Em Cuenca - uma bonita cidade colonial onde os cholos (mestiços de europeus e indígenas) dão um colorido às ruas com suas vestimentas alegres -, ninguém sabia me dizer qual era o paradeiro das relíquias que, até o início dos anos 70, eram guardadas pelo padre Carlos Crespi, no colégio dos salesianos. No entanto, voltemos a 1969 para lembrar o que aconteceu…
Moricz ainda dizia: “[...] trata-se de uma verdadeira biblioteca metálica, que poderia conter um compêndio da história da humanidade, assim como revelar a origem do Homem ou fornecer informações sobre uma civilização já extinta”.
Graças à amizade que estabeleceu com indígenas da etnia shuar, ou jíbaros, ele foi levado às misteriosas passagens, talvez às mesmas às quais as lendas fazem referência: milhares de quilômetros de túneis embaixo da terra, que se conectam com outros ao longo de todo o continente americano, e com várias entradas ocultas.
Numa sala gigantesca com mais de 130 metros de extensão, encontraram uma mesa talhada num material que, ao tato, se assemelhava ao plástico. Em redor da mesa, havia sete cadeiras pesadas e duras como aço. Atrás da mesa, encontrava-se a incrível biblioteca de metal da qual fala o documento registrado no cartório. A maioria da biblioteca eram pranchas metálicas de 96 por 48 centímetros e com poucos milímetros de espessura. Em cada lâmina havia uma inscrição gravada, e algumas gravações mostravam seres “impossíveis” de existir na região, como dinossauros e elefantes.
Sobre um pedestal de pedra, encontraram um personagem que trazia um capacete cobrindo as orelhas, segundo Däniken, e em seu pescoço estava pendurada uma corrente com elos, da qual pendia uma cápsula com aberturas semelhantes às do disco de telefone. Däniken reparou na semelhança do traje do ser com os dos nossos atuais astronautas.
Os índios, amigos do padre, deram-lhe muitos tesouros arqueológicos. Entre eles estavam placas metálicas e blocos de pedra em que apareciam gravações de animais desconhecidos no continente americano, como elefantes e hipopótamos. Em outras, surgiam símbolos aparentemente alfabéticos, ainda que a arqueologia oficial não admita a existência de uma escrita na América do Sul em tempos pré-colombianos, tampouco admite a presença de fenícios, egípcios e babilônios, como algumas das gravações parecem sugerir.
Quase 28 anos depois, eu também fiz o mesmo, no mesmo pátio, mas sob outras condições, talvez jamais imaginadas.
O Misterioso Padre Crespi - O padre Carlos Crespi Croci, nascido na Itália em 1891, morou em Cuenca até 1982. Ele chegou ao Equador em 1923, encarregado de recolher material etnológico para uma exposição internacional que se realizaria em 1925, em Turim, sede dos salesianos. Em novembro de 23, entrou na região quase inexplorada de Gualaquiza, onde havia se instalado a primeira missão salesiana, em 1894. A região era habitada, e ainda é, pelos então irascíveis shuares, ou jíbaros, os mesmos que tinham conquistado a fama de cortadores ou encolhedores de cabeças humanas usando poções com fórmulas secretas.
Em 1927, ele organizaria outra expedição mais arriscada e difícil, que durou 51 dias. Foi acompanhado por nove expedicionários que abriram caminho na selva, para entrar em contato com as tribos jíbaras, “estudando o ambiente e recolhendo material científico”, segundo palavras de seu biógrafo Antonio Guerriero.
Foi em Cuenca que encontrei Luiz Alvarez - chefe de relações públicas da Universidade Politécnica Salesiana, estudioso da vida do padre Crespi -, que me colocou na pista do mistério.
Numa hemeroteca na cidade do México, pude recuperar um exemplar da revista Contactos Extraterrestres, de 7 de dezembro de 1977, com um artigo do padre Pedro I. Porras Garcés sobre suas explorações em Los Tayos. Ele esteve no local depois da famosa e polêmica expedição anglo-equatoriana, da qual participou o astronauta Neil Armstrong. O padre liderava uma equipe da Universidade Católica de Quito. No dia 14 de julho de 1997, desceu por um cabo de aço à entrada da caverna, percorrendo um túnel estreito até desembocar numa extensa galeria iluminada pela luz do dia, que entrava por uma clarabóia a mais de 60 metros de altura.
Procurei mais pistas sobre Crespi em Quito, onde entrevistei o diretor do Museo Jijón y Caamaño, o doutor Ernesto Salazar. Sobre Juan Moricz, ele disse que “viveu algum tempo em Loja e estava procurando o tesouro de Quinara, que foi uma parte do tesouro do resgate do Inca. Uma vez, fui assistir a uma conferência em Loja e conheci alguns estudantes que tinham trabalhado com Moricz. Ele os fez escavar por todos os lados em Quinara, mas não encontraram coisa alguma. Parecia estar mais interessado no ouro do que em aspectos arqueológicos do conhecimento”.
Ernesto Salazar ainda declarou que, quando o padre Crespi morreu, o Banco Central de Cuenca comprou sua coleção de peças, e parece que muitas eram falsas.
Assista neste vídeo abaixo: uma rara entrevista com o Padre Crespi, falando sobre os artefatos do seu acervo único.
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