Há quase 5 mil anos, Gilgamesh de Uruk rogou a Utu (Shamash):
O homem perece, pesado está meu coração...
O homem, por mais alto que seja, não pode esticar-se até o céu...
Ó Utu,
Na Terra desejo entrar, seja meu aliado...
No lugar onde os Shem têm sido erigidos,
Que eu erija meu Shem!
Os homens caem,
Eles não têm "Nome",
(Ó deus),
Pega Téti pelos braços,
Leva Téti para o firmamento,
Para que ele não morra na Terra entre os homens.
Os paralelos multiplicam-se à medida que nos recordamos de vários textos, como a história de Moisés e o peixe encontrado no Corão. Segundo ela, a Água da Vida ficava "na junção de dois rios". O faraó atingia a entrada do reino subterrâneo no local onde o rio de Osíris dividia-se em dois afluentes. Nas lendas de Alexandre, o ponto crucial da jornada também aconteceu perto de uma fonte ou curso de água, no lugar onde a "Pedra de Adão" emitiu luz e os seres divinos aconselharam o rei a desistir de sua busca.
Será que Jericó já existia por volta de 2.900 a.C., quando o rei de Uruk empenhava-se em sua busca? Os arqueólogos concordam que o local já era povoado antes de 7.000 a.C. e que desde cerca de 3.500 a.C. havia ali um centro florescente. Então, com toda a certeza, foi a Jericó que Gilgamesh chegou.
Dali, segundo as informações que recebeu, ele deveria seguir "um caminho regular", ou seja, uma rota normalmente usada pelas caravanas, "na direção do Grande Mar, que fica distante". Mais uma vez reconhecemos a geografia pela terminologia bíblica, pois na Bíblia o Grande Mar é o Mediterrâneo. Penetrando o Neguev, a seca região meridional de Canaã, Gilgamesh teria de dirigir-se para oeste por algum tempo, até encontrar "dois marcos de pedra", como explicara Urshanabi. Nesse local ele faria uma curva e atingiria a cidade de Itla, localizada a alguma distância do Grande Mar. Depois dela, na Quarta Região dos deuses, ficava a área restrita.
Itla seria uma "Cidade de Deuses" ou uma cidade de homens?
Os eventos ocorridos nesse local, descritos numa versão hitita fragmentada da Epopéia de Gilgamesh, indicam que ela abrigava tanto uns como outros. Era uma "cidade santificada", com vários deuses indo e vindo ou morando perto dela. Mas os homens também podiam entrar lá, pois o caminho era indicado por marcos de estrada. Além disso, Gilgamesh não somente descansou e trocou de roupa em Itla como também foi lá que obteve os cordeiros que ofereceu diariamente aos deuses em sacrifício.
Conhecemos uma cidade assim pelo Velho Testamento. Ela ficava localizada onde o sul de Canaã se mesclava com a península do Sinai e funcionava como entrada para a planície central da península. Sua santidade era denotada pelo nome: Cades ("A Sagrada") e distinguia-se de Cades do norte (situada, significativamente, perto de Baalbek) sendo chamada de Cades-Barnéia (que, originando-se do sumério, poderia significar: Cades dos Pilares de Pedra Brilhante). Na era dos patriarcas, ela fazia parte dos domínios de Abraão, que "viajou ao Neguev e habitou entre Cades e Shin".
Filhos do Príncipe.
Eu os colocarei na Cidade de Ascender e Ir,
No deserto de Sufim.
Os estudiosos já apresentaram muitas teorias a respeito da origem do nome Sinai. Uma vez, pelo menos, o motivo mais óbvio esteve entre as hipóteses preferidas: Sinai poderia significar "pertencente a Sin".
Os textos mesopotâmicos descreviam a localização de Tilmun na "boca" de duas extensões de água. A península, que tem a forma de um triângulo invertido, de fato começa onde o mar Vermelho separa-se em dois braços - o golfo de Suez a oeste e o golfo de Eilat (Ácaba) a leste. As representações egípcias que mostram a Terra de Set, onde ficava o Duat, mostram esquematicamente uma península com as características da do Sinai.
Os textos falam das "montanhas de Tilmun" e, de fato, a península do Sinai é constituída por uma região com grandes montanhas ao sul, um platô central também montanhoso e uma planície ao norte (cercada de montanhas), que vai descendo em colinas arenosas até a costa do Mediterrâneo. Essa faixa litorânea plana tem sido uma "ponte terrestre" entre a Ásia e a África desde épocas imemoriais. Os faraós a usaram para invadir Canaã e a Fenícia, e para desafiar os hititas. Sargão, rei de Acad, afirmou que atingiu o Mediterrâneo, onde "lavou suas armas". "As terras do mar" a região ao longo da costa - "três vezes rodeei; Tilmun minha mão capturou." Sargão II, rei da Assíria no século VIII a.C., vangloriou-se de ter conquistado a área que ia de "Bit-Yahkin, na margem do mar Salgado, até a fronteira de Tilmun". O nome "mar Salgado" sobreviveu até os dias de hoje como a denominação em hebraico do mar Morto - outra confirmação de que Tilmun ficava próximo dele.
Vários reis assírios mencionam o Riacho do Egito como um marco geográfico em suas expedições àquele país. Sargão II fala do Riacho depois de descrever a conquista de Asdod, a cidade filistéia, na costa do Mediterrâneo. Asaradão, que reinou algum tempo depois, vangloriou-se:
- "Piso em Arza, no Riacho do Egito, ponho Assuili, seu rei, em grilhões... Sobre Qanayah, rei de Tilmun, impus tributos".
Em todos esses casos, a geografia e topografia de Tilmun igualam-se perfeitamente às da península do Sinai.
Acredita-se que, salvo variações anuais, o clima da península foi sempre o que é atualmente: uma estação chuvosa irregular que vai de outubro a maio e o resto do ano completamente seco. A pouca densidade pluvial qualifica a região a ser definida como deserto (menos de 30 mm anuais). No entanto, os altos picos de granito ao sul ficam cobertos de neve no inverno e na faixa litorânea o lençol freático é encontrado a pouco mais de 1 metro abaixo da superfície.
Uma característica geográfica típica da península são os wadis. Na região sul, as águas de chuvas curtas e repentinas correm parte para o leste, para o golfo de Eilat, e mais freqüentemente para o oeste, para o golfo de Suez. É nessa região que são encontrados os riachos no fundo de grandes gargantas e oásis exuberantes. Todavia, o grosso das águas pluviais é drenado na direção norte, indo para o Mediterrâneo pelo extenso wadi El-Arish e seus inúmeros afluentes, que, no mapa, em seu conjunto, parecem os vasos sangüíneos de um gigantesco coração. Nessa parte do Sinai, a profundidade dos wadis varia de poucos centímetros até cerca de 1 metro até 2 quilômetros, quando há uma chuva torrencial.
Mesmo na estação chuvosa, o padrão de precipitação é totalmente errático. Aguaceiros súbitos se alternam com longos períodos secos. Assim, pressupor-se a existência de água em relativa abundância nesse período do ano ou logo depois dele pode ser uma idéia muito enganosa. Possivelmente foi o que aconteceu com os israelitas quando deixaram o Egito em meados de abril e entraram no deserto do Sinai algumas semanas depois. Eles encontraram-se sem água e o Senhor teve de intervir duas vezes, mostrando a Moisés que rochas deveria golpear para obtê-la.
Os beduínos, como todos os calejados viajantes que percorrem o Sinai, conseguem repetir esse milagre quando o solo do leito do wadi é do tipo adequado. O segredo é que em muitos lugares a camada rochosa da superfície está sobre uma camada de solo argiloso que captura a água que penetra por entre as pedras. Com conhecimento e sorte, uma pequena escavação num leito de wadi completamente seco revela água em abundância logo abaixo da superfície.
Mas seria essa arte nômade o grande milagre realizado pelo Senhor? Recentes descobertas feitas na península do Sinai lançam uma nova luz sobre o assunto. Hidrólogos israelenses ligados ao Instituto Weizmann de Ciências descobriram que, como acontece em partes do deserto do Saara e em algumas áreas desérticas da Núbia, existe "água fóssil" (restos de lagos pré-históricos de outras era geológicas) nas profundezas da região central do Sinal. O imenso reservatório subterrâneo, com água suficiente, segundo as estimativas, para atender a uma população como a de Israel por quase cem anos, estende-se por cerca de 15.500 quilômetros quadrados num cinturão largo que vai do canal de Suez até o interior do árido deserto de Neguev, em Israel.
Embora esteja em média cerca de 915 metros abaixo do solo pedregoso, a água é sub-artesiana e sobe com sua própria pressão a até 300 metros da superfície. Quando os egípcios fizeram perfurações à procura de petróleo em Nakhl, na planície setentrional, encontraram esse reservatório subterrâneo. Outras sondagens confirmaram o incrível fato: na superfície, um deserto árido; no subsolo, dificilmente acessível por meio dos modernos equipamentos de perfuração e bombeamento, um lago de água pura e cristalina!
Será que os Nefilim, com sua tecnologia de era espacial, tinham conhecimento disso? E mais, seria essa água, e não uma pequena quantidade acumulada sob um wadi seco, a que jorrou depois que Moisés golpeou a pedra, seguindo as instruções do Senhor? "Leva contigo, na mão, a vara com que fizeste os milagres no Egito", disse o Senhor a Moisés. "Tu me verás em pé sobre uma pedra; ferirás a pedra e dela sairá água e o povo beberá." Assim, seria água suficiente para uma multidão e seu gado. Para que a grandeza de Iahweh fosse reconhecida por todos, Moisés deveria levar ao local algumas testemunhas. O milagre aconteceu "na presença dos anciãos de Israel".
Uma história suméria relata um evento bastante parecido. Trata-se de um conto sobre épocas difíceis devido à escassez de água. As plantações murcharam, o gado não tinha o que beber, o povo estava sedento e calado. Ninsikilla, esposa do governante de Tilmun, Enshag, queixou-se ao seu pai, Enki:
Tilmun, a cidade que destes...
Não tem águas de rio...
Não pode banhar-se a donzela;
Nenhuma água cristalina jorra na cidade.
Pai Enki respondeu a Ninsikilla, sua filha:
Que o divino Utu se posicione no céu.
Que um míssil preso ao 'peito'
E do alto o dirija para a terra...
Da fonte da qual emergem as águas da Terra,
Que ele traga-te a doce água do solo.
Utu, posicionando-se no céu,
Um míssil firmemente preso ao seu "peito",
Do alto dirigiu-se para a terra...
Soltou o míssil do alto do céu.
De entre as rochas de cristal levantou a água;
Da fonte de onde emergem as águas da Terra,
Trouxe água doce, do solo.
Os paralelos entre a península do Sinai e Tilmun estão assim duplamente confirmados. Primeiro, a existência de um reservatório subterrâneo de água, abaixo da superfície rochosa. Segundo, a presença de Utu/Shamash (o comandante do espaço-porto) nas vizinhanças.
A península do Sinai também possui todos os produtos que faziam a fama de Tilmun.
Tilmun era a fonte das pedras preciosas aparentadas com o lápis-lazúli que os sumérios tanto apreciavam. É um fato incontestável que os faraós obtinham tanto a turquesa como a malaquita no sudoeste da península. A mais antiga área de mineração de turquesa de que se tem notícia atualmente tem o nome de wadi Maghara - o "wadi das Cavernas". Nesse local abriam-se túneis na face rochosa do cânion do wadi e os mineiros talhavam as pedras. Mais tarde começou a haver mineração da turquesa também num lugar que hoje é chamado de Serabit-el-Khadim. Inscrições egípcias da 3ª. Dinastia (2.700-2.600 a.C.) foram encontradas em wadi Maghara e acredita-se que foi nessa época que os faraós começaram a instalar postos militares na região para poder haver uma mineração continuada.
Descobertas arqueológicas, além de desenhos e pinturas mostrando os primeiros "nômades asiáticos" capturados pelos faraós, convenceram os estudiosos de que no início os egípcios só saqueavam minas já abertas por tribos do Sinai. De fato, o nome egípcio para turquesa - mafka-t - origina-se do verbo semita "minerar, extrair por corte". Posteriormente, os egípcios passaram a chamar a península do Sinai de "Terra de Mafkat" e atribuíram o domínio dessa área de mineração à deusa Hathor, conhecida tanto como "A Senhora do Sinai" como "A Senhora do Mafkat".
Segundo a Encyclopaedia Britannica,
- "a turquesa já era obtida na península do Sinai antes do quarto milênio a.C., numa das primeiras operações de extração de rochas minerais do mundo".
Ao afirmarem isso e ao atribuírem o domínio da península do Sinai a Hathor, os egípcios estavam emulando as tradições sumérias. Segundo os textos sumérios, o deus que organizou as operações de mineração dos Anunnaki foi Enki, o deus do conhecimento. E Tilmun, nos tempos antes do dilúvio, foi dado a Ninhursag, a irmã de Enki e Enlil. Em sua juventude, ela era uma mulher de extraordinária beleza e enfermeira-chefe dos Nefilim, mas em sua velhice recebeu o apelido de "A Vaca" e, na qualidade de Deusa da Tamareira, era sempre retratada com os chifres desse animal. As similaridades entre Ninhursag e Hathor, as analogias entre seus domínios, são óbvias demais para exigirem elaboração.
A península do Sinai era uma importante fonte de cobre na Antiguidade e prova disso é que os egípcios dependiam basicamente do saque para obtê-lo. Para isso, tinham de penetrar bem longe na região. Um faraó da 12ª. Dinastia (época de Abraão) deixou-nos estes comentários de seus feitos:
- "Atingindo as fronteiras de países estranhos com seus pés; explorando vales misteriosos, alcançando os limites do desconhecido".
Recentes explorações feitas no Sinai por cientistas trouxeram à luz muitas provas de que "durante a época do Antigo Império do Egito, no terceiro milênio a.C., a península era densamente habitada por tribos semitas que fundiam cobre e mineravam turquesa, e que resistiram à penetração das expedições faraônicas em seu território" (Beno Rothenberg, Sinai Explorations 1967-1972).
- "Conseguimos constatar a existência de um empreendimento metalúrgico-industrial bastante grande... Lá há muitas minas de cobre, acampamentos de mineiros e instalações de fundição disseminados desde a região oeste da parte sul do Sinai até Eilat, no alto do golfo de Ácaba.”
Os indícios arqueológicos mais uma vez combinam com os textos bíblicos e mesopotâmicos. Asaradão, rei da Assíria, vangloriou-se de que "sobre Qanayah, rei de Tilmun, impus tributo". Os quenitas são mencionados no Velho Testamento como habitantes do sul da península do Sinai e seu nome significa, literalmente, "ferreiros, metalúrgicos". Quando Moisés fugiu do Egito, indo para Madiã, ele casou-se com uma moça da tribo dos quenitas. R. J. Forbes (The Evolution of the Smith) salientou que o termo bíblico qain ("ferreiro") origina-se do sumério KIN ("moldador").
O faraó Ramsés III, que reinou um século depois do êxodo, deixou registrada a invasão desses povoados de artesãos do cobre que ele comandou e o saque ao centro metalúrgico de Timna-Eilat:
Destruí o povo de Seir, as tribos do Shasu; saqueei suas tendas, suas posses e seu gado incontável. Eles foram amarrados e trazidos cativos, como um tributo ao Egito. Dei-os aos deuses, para serem escravos em seus templos.
As minas tinham cobre em abundância e ele foi colocado aos milhares nas galeras. Sendo enviado para o Egito, chegou em segurança. As barras de cobre, 100 mil delas, da cor de ouro devido à três refinações, mandei empilhar sob o balcão do palácio. Deixei que todo o povo as visse, como se fossem maravilhas.
Antes de continuarmos a reconstrução dos eventos históricos e pré-históricos, é importante fortalecer à conclusão de que Tilmun era o nome sumério da península do Sinal. Porém, não é isso que os estudiosos pensam. Vamos então analisar seus pontos de vista e mostrar por que estão errados.
Uma persistente escola de pensamento que teve como seus primeiros defensores P. B. Cornvall (On the Location of Tilmun) identifica Tilmun (às vezes escrito "Dilmun") como sendo a ilha de Bahrein, no golfo Pérsico. Esse ponto de vista se apóia numa inscrição de Sargão II da Assíria, onde ele afirmava que entre os reis que lhe pagavam tributo estava
- "Uperi, rei de Dilmun, cujo reino fica situado como um peixe, a uma distância de trinta horas duplas, no meio do mar onde o sol se levanta".
Há muitas falhas nessa interpretação. Primeiro, é possível que apenas a capital de Tilmun ficasse numa ilha. Os textos não deixam dúvida de que existia uma Terra de Tilmun e uma Cidade de Tilmun. Segundo, outros textos assírios que descrevem cidades como estando localizadas "no meio do mar" referem-se a povoados litorâneos, situados em baías ou promontórios, e não em ilhas, como, por exemplo, Arvad, na costa do Mediterrâneo. Além disso, se o "mar onde o sol se levanta" indica uma extensão de água a leste da Mesopotâmia, o golfo Pérsico não se aplica, pois ele fica ao sul e não a leste da região. E mais, Bahrein está situada perto demais da Mesopotâmia para justificar trinta horas duplas de navegação. A ilha dista cerca de 450 quilômetros dos portos mesopotâmicos e, mesmo navegando-se muito devagar, sessenta horas de viagem cobririam uma distância muitas vezes maior.
Outra importante falha na teoria Bahrein/Tilmun é a relativa aos produtos que faziam a fama de Tilmun. Já nos tempos de Gilgamesh, a área não era restrita em sua totalidade. Havia uma parte dela, como vimos, onde condenados trabalhavam nos escuros e poeirentos túneis das minas extraindo cobre e pedras preciosas. Sempre ligada à Suméria pela cultura e comércio, Tilmun a abastecia com certos tipos especiais de madeira, e de suas áreas cultivadas - tema da história que vimos anteriormente, onde Ninsikilla suplicou ao pai que lhe arranjasse água - saíam as cebolas e tâmaras mais famosas da Antiguidade.
Bahrein nunca teve uma cultura desse tipo e suas tamareiras sempre produziram frutos comuns. Assim, para justificar sua escolha como Tilmun, a escola de pensamento que defende essa teoria sugere que Bahrein era um porto de transbordo (Geoffrey Bibby, em Looking for Dilmun, e outros autores). Ela concorda que as famosas tâmaras vinham de um lugar mais distante, mas afirma que os navios que as transportavam não iam até os portos da Mesopotâmia. Eles ancoravam em Bahrein e os mercadores sumérios transferiam a carga para outras embarcações, que então faziam a etapa final até seu país. Era por isso que, quando os escribas registravam o local de onde precedia a carga, escreviam "Dilmun", querendo referir-se a Bahrein.
Ora, por que navios que tinham navegado tão grandes distâncias deixariam de fazer o curto percurso até o destino final da carga na Mesopotâmia? Por que tanto trabalho de carga e descarga que só serviria para aumentar o custo? Essa teoria também vai contra as afirmações de governantes da Suméria e Acad de que os navios de Tilmun, bem como os de outros países, ancoravam em seus portos. Ur-Nanshe, rei de Lagash dois séculos depois que Gilgamesh governou Uruk, afirmou que
- "os navios de Tilmun... trouxeram-me madeira como tributo".
É bastante provável, portanto, que os navios de Tilmun levavam os produtos diretamente para os portos da Mesopotâmia, como seria de se esperar dentro de todos os parâmetros da lógica e economia. Os textos antigos também falam de exportações de mercadorias da Mesopotâmia para Tilmun. Uma inscrição registra o envio de um carregamento de trigo, queijo e cevada descascada de Lagash para Tilmun (cerca de 2.500 a.C.) sem nenhuma menção de transbordo de carga numa ilha qualquer.
Um dos principais oponentes da teoria Bahrein/Tilmun, Samuel N. Kramer (Dilmun, the "Land of the Living"), salientou o fato de que os textos mesopotâmicos descreviam Tilmun como "um país distante", que se atingia à custa de risco e aventura. Essas afirmações não combinam com uma ilha próxima à qual se chega depois de poucas horas de navegação nas águas tranqüilas do golfo Pérsico. Ele também enfatizou a importância do fato de vários textos mesopotâmicos colocarem Tilmun perto de duas extensões de água, e não dentro ou perto de apenas uma. Os textos acadianos diziam: "Tilmun ina pi narati" - "Tilmun, na boca das duas águas correntes" -, isto é, onde se iniciam duas extensões de água.
Guiado por uma outra declaração, que dizia que Tilmun era a terra "onde o sol se levanta", Kruner concluiu, primeiro, que Tilmun situava-se em terra firme e não numa ilha, e segundo, que devia ficar a leste da Suméria, pois é no leste que o sol se levanta. Procurando no mapa um lugar a oriente da Mesopotâmia onde duas extensões de água se encontram, ele só conseguiu descobrir um ponto a sudeste, onde o golfo Pérsico encontra-se com o oceano Índico. Assim, com alguma hesitação, Kramer sugeriu: Tilmun ficava no Baluquistão ou em algum lugar perto do rio Indo.
A hesitação de Kramer derivou do fato bem conhecido de que numerosos textos sumérios e acadianos, que dão listas de países e povos, não colocam Tilmun entre as terras do leste como Elam e Aratra. Em vez disso, juntam como terras próximas umas das outras Meluhha (Núbia, Etiópia), Magan (Egito) e Tilmun. A proximidade entre o Egito e Tilmun fica bem clara no final do texto "Enki e Ninhursag", onde fala-se da designação de Nintulla como Senhor de Magan e Enshag como Senhor de Tihnun, que recebem as bênçãos dos dois grandes deuses. Essa proximidade também fica evidente a partir de um notável texto escrito como uma autobiografia de Enki, que descreve suas atividades depois do dilúvio, quando ficou ajudando a humanidade e estabelecendo suas civilizações. Mais uma vez, Tilmun é listada junto com Magan e Meluhha:
As terras de Magan e Tilmun
Levantaram os olhos para mim.
Eu, Enki, ancorei o barco Tilmun na costa,
Carreguei até o alto o barco Magan.
O alegre barco de Meluhha
Transporta ouro e prata.
À montanha de Mashu ele chegou,
Onde durante o dia os Shem ele observou
Enquanto iam e vinham...
Homens-foguete guardam seu portão...
Eles vigiam Shamash
Enquanto ele ascende e descende.
E aquele era o lugar para onde Ziusudra fora levado depois do dilúvio:
Na Terra da Travessia,
Na montanhosa Tilmun
- O lugar onde Shamash ascende -
Eles o fizeram residir.
Os botânicos modernos têm se surpreendido com a variedade da flora da península, pois lá foram encontradas mais de mil espécies de plantas, muitas que só dão ali, variando de árvores a pequeninos arbustos. Onde existe água, como no oásis, nas dunas litorâneas e leitos dos wadis, essa vegetação cresce com impressionante persistência por ter se adaptado ao clima e hidrografia únicos da península do Sinai. As regiões a nordeste da península podem ter sido a fonte das apreciadas cebolas. O nome inglês para a variedade com caule longo e verde - scallion - lembra o porto de onde esse petisco era exportado para a Europa: Ascalon, na costa do Mediterrâneo, logo no norte do Riacho do Egito.
Uma das árvores que se adaptaram às singulares características do Sinai é a acácia, que acomoda sua alta taxa de transpiração crescendo apenas nos leitos dos wadis, onde explora a umidade subterrânea com um eficiente sistema de longas raízes. Como resultado disso, a acácia pode viver quase dez anos sem chuva. Essa árvore tem uma madeira muito apreciada e, segundo o Velho Testamento, a arca e outros componentes do Tabernáculo eram feitos dela. Ela bem poderia ser a madeira especial que os reis da Suméria importavam para a construção de seus templos.
Uma visão sempre presente na península do Sinai são as tamargueiras, pequenas árvores que acompanham o curso dos wadis o ano inteiro, pois suas raízes também descem até a umidade abaixo da superfície e elas conseguem sobreviver mesmo onde a água é salobra ou salina. Depois de invernos particularmente chuvosos, os bosques de tamargueiras ficam cheios de uma substância doce e granulosa, que é a excreção de pequenos insetos que vivem de seus frutos. Os beduínos ainda hoje a chamam pelo seu nome bíblico - maná.
Todavia, a árvore mais associada a Tilmun na Antiguidade era a tamareira, que continua sendo a principal planta do Sinai em termos econômicos. Pedindo um mínimo de cultivo, ela atende a todas as necessidades básicas dos beduínos. Seus frutos constituem um alimento saboroso e nutritivo, cascas e caroços são dados aos camelos e cabras, o tronco é usado na construção e como combustível, as folhas servem para fazer telhados e as fibras para a confecção de cordas e também são empregadas na tecelagem.
Sabemos, através dos registros mesopotâmicos, que as tâmaras eram um importante produto de exportação de Tilmun. Os frutos vindos dessa região, por serem grandes e saborosos, ganhavam lugar de destaque nas receitas culinárias. Um texto de Uruk, a cidade de Gilgamesh, falando dos alimentos que deviam ser dados aos deuses, especificava: "todos os dias do ano, para as quatro refeições diárias, 108 medidas de tâmaras comuns e tâmaras da Terra de Tilmun, e também figos e passas... deverão ser oferecidos às divindades". A cidade mais próxima da antiga rota terrestre entre a península do Sinai e a Mesopotâmia era Jericó, na Bíblia chamada de "Jericó, a cidade das tâmaras".
A tamareira, como já vimos extensivamente, foi adotada como um símbolo sagrado em todas as religiões do antigo Oriente Médio. O salmista bíblico prometeu que "os justos, como a tamareira, florescerão". O profeta Ezequiel teve uma visão do templo de Jerusalém reconstruído, ornamentado com "querubins e tamareiras” alternados. Residindo entre os judeus que tinham sido levados à força para a Babilônia, Ezequiel estava bem familiarizado com o tema artístico dos Seres Alados e a Tamareira.
Junto com o Disco Alado (o emblema do 12° Planeta), o símbolo mais constante em todos os países da Antiguidade era o da Árvore da Vida. Escrevendo em Der Alte Orient, Felix von Luschau mostrou em 1912, época da publicação do artigo, que os capitéis das colunas jônicas e egípcias eram, de fato, estilizações da Árvore da Vida sob a forma de uma tamareira, e confirmou sugestões anteriores de que o Fruto da Vida tão decantado nas lendas e contos épicos era uma variedade especial de tâmara. Encontramos o tema da tamareira como o símbolo da Vida avançando até o Egito muçulmano, como se pode ver nas ornamentações da grande mesquita do Cairo.
Importantes estudos, como De Boom des Levens en Schrift en Historie de Henrik Bergema e The King and the Tree of Life in Ancient Eastern Religion, de Geo. Widengren, mostram que o conceito de uma Árvore da Vida, crescendo numa Morada dos Deuses, espalhou-se do Oriente Médio para o mundo todo e tornou-se um princípio básico de todas as religiões da Terra.
A fonte de todos esses desenhos e crenças foram os registros sumérios falando da Terra dos Vivos.
Tilmun,
Onde a mulher velha não diz "Sou uma velha",
Onde o homem velho não diz "Sou um velho".
Os sumérios, mestres em jogos de palavras, chamavam a Terra dos Mísseis de TIL.MUN. Todavia, o termo também podia significar "Terra dos Vivos", pois TIL também era "Vida". A Árvore da Vida em sumério era GISH.TIL, mas GISH também era o nome para um objeto manufaturado, algo feito pela mão do homem. Assim, GISH.TIL também podia ser "O Veículo para a Vida" - um foguete espacial. Na arte também encontramos os homens-águia saudando às vezes um foguete e em outras uma tamareira.
Os laços se apertam ainda mais quando descobrimos que na arte religiosa grega o omphalo era associado com a tamareira. Uma antiga pintura de Delfos mostra que a réplica do omphalos erigida no lado de fora do templo de Apolo ficava perto de uma tamareira. Já que esse tipo de árvore não cresce na Grécia, os eruditos acreditam que a tamareira era feita de bronze. A associação de omphalos com a tamareira deve ter sido uma questão de simbolismo básico, pois desenhos desse tipo repetiam-se em outros centros de oráculos gregos.
Vimos anteriormente que o omphalos é um vínculo entre os centros de oráculo da Grécia, Egito, Núbia e Canaã, e o Duat. Agora encontramos essa Pedra do Esplendor ligada à tamareira - a Árvore da Terra dos Vivos.
A árvore que faz a contagem, a grande arma voltada para os céus,
Seguro em minha mão;
A palmeira, a grande árvore de oráculos, seguro em minha mão.
Um desenho da Mesopotâmia mostra um deus segurando essa "palmeira, grande árvore de oráculos".
Com tudo isso, não resta dúvida de que o alvo das antigas buscas pela imortalidade era um espaço-porto localizado em alguma parte da península do Sinai.
Fonte: Zecharia Sitchin (Escada Para o Céu) e bibliotecapleyades
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